quinta-feira, 30 de maio de 2013

5.8 - Bodega Boutique Bousas

Depois de dois dias de chuva, o dia iluminou-se de azul. Mesmo o Rio del Plata tingiu- se dum azul escuro e profundo, defronte do hotel. Chegamos à noite em Montevideo, vindo de Punta del Este. Estamos hospedados em Pocitos (doce ironia!), um bairro residencial na beira do rio, no hotel Ermitage, um velho hotel da metade do século passado.

O entorno é agradável ao passeio: prédios, lojas, restaurantes... árvores com folhas secas de outono fazendo barulho. Tão logo nos alojamos no velho hotel, saímos para jantar. Marcos encontrou um restaurante simpático: La Outra. Carne com corte argentino. Vinho. Depois voltar ao hotel, espelhando a velha lua no céu, fazendo moldura para o rio com cara de mar.


Dia seguinte, agenda marcada desde o Brasil para a visita à Bodega Bousa, nos arredores de Montevideo. É um empreendimento familiar que produz 100 mil garrafas ao ano a lhe dar cara de boutique. Inicio da formação dos vinhedos em 2002. Primeira venda em 2004. O enólogo desde o inicio é Eduardo Boydo, doutor em enologia e professor do curso na Universidade local.



Plantam Merlot, Tannat, Tempranillo entre as tintas. Chardonnay e Alvarinho pelas brancas. A uva Alvarinho, natural da Galicia e muito usada em Portugal para fazer o vinho verde, foi plantada aqui por questões afetivas: os donos são galegos.  E a uva que deu fama à Bodega, pois foi a primeira que a colocou no Mercado.



Os vinhos daqui nao sao filtrados, os enólogos acreditam que se perde um pouco da alma do vinho. Os vinhos de alta gama ficam de 12 a 18 meses em Carvalho francês ou americano. Temos as 3 tintas como vinhos top. Quando vejo tanto tonel novo de Carvalho francês, me pergunto de onde vêem tanta madeira. Será que ha áreas de reflorestamento na França? Ouvi alguma coisa de Carvalho da Croácia?

Ah, acabei de ouvir que um tonel produz 200 garrafas.

Sala de degustação refinada e aquecida. Preços caros pela degustação de 3 vinhos, sendo dois de alta gama. Acompanhava pão caseiro e pastas. 


Foi aqui que provei e comprei o melhor vinho do Uruguay: Monte Vide Eu, um corte de Merlot, Tempranillo e Tannat, vinificadas separadamente e depois misturadas em segredo por Boydo. Grande mistura!
... Vino de color púrpura con tonalidades petróleo, intenso, brillante y capa alta. En nariz se presenta complejo, frutas rojas y negras, frambuesas y moras, notas de regaliz en un fondo de café y tabaco. En boca muestra una entrada dulce e intensa, con buen volumen y ágil en su movimiento, elegante y armonioso con taninos amables que le dan una muy buena estructura. Es un vino equilibrado, redondo, muy agradable al paladar, con intensa persistencia, final largo y excelente recuerdo. 

quarta-feira, 29 de maio de 2013

5.7 - Uruguay. Bodega Colinas de Garzón

No departamento de Maldonado encontramos uma fazenda especial: amendoas, azeitonas, azeites e vinhos: Colinas de Garzón. O nome vem no povoado próximo: Pueblo Garzón onde vivem umas 300 pessoas. Isso mesmo, o mesmo local onde o chef argentino Francis Mallmann apostou todas as suas fichas turísticas em seus assados.



Colinas de Garzón é fazenda sofisticada de 4.000 hectares,  550 deles com azeitonas, 150 com amêndoas, e 170 com vinhedos. Fazem mel também. As oliveiras vem da Espanha, Itália, Israel.  São plantas específicas para solos pobres e secos; são árvores de deserto. As amendoeiras, já secas para o inverno, são enxertadas em cavalos de pessegueiros. Pura curiosidade.



O proprietário é  argentino e dono de duas bodegas lá. Petroleiro também, Juan Luis Bouza, dono da terceira maior fortuna do Uruguay. A fazenda aposta tudo no ramo da gastronomia de luxo, do azeite, às amêndoas e ao vinho. Tudo em pequenas quantidades, com qualidade especial em estilo boutique.


O carro-chefe são os azeites, não os vinhos. Vendidos como varietais ou blends, são extraídos - não por prensagem - como reza a tradição européia, mas por centrifugação. 

No ranking mundial são os azeites mais premiados da América e ocupam o oitavo lugar dos melhores azeites do mundo. Fizemos uma degustação dos azeites ( não é coisa fácil ingerir uma colher de azeite!) com a mesma metodologia dos vinhos: aroma e sabor.

O que dá qualidade ao azeite é a sua acidez porém não garante nem sabor nem olor, mas permite classificá-los em 3 tipos:
1. extra-virgem: até 1% de acidez
2. virgem: entre 1,2% e 1,5% de acidez
3. virgem fino: entre 1,5% a 2,3%.
Os melhores azeites têm até 0,5% de acidez, os de Colinas de Garzón tem acidez de 0,2%.

Comprei três tipos: um blend (arbequina - coratina), outro Coratina -barnea-picual e um varietal da espécie italiana Coratina. De longe, são os melhores azeites que eu já provei. Antes, eram distribuídos aqui pela La Pastina, mas agora não mais.

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Bem, há vinhos também: tannat, albarinho, merlot, chardonnay e tempranillo. Fizemos uma degustação rápida, muitas compras e seguimos adiante para Montevideo.

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5.6 - Uruguay. Bodega Alto de la Ballena

Incrustada  na Sierra de la Ballena, em meio a um solo pedregoso e ventos fortes, encontramos a Bodega Alto de la Ballena, pequeno empreendimento familiar sob responsabilidade do casal Paola Pivel e Alvaro Lorenzo.


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Criada em 1998, a vinícola, por seu terroir tem vocação para Syrah, o vinho top da casa. Além desta, também plantam Cabernet Franc, Tannat, Viognier e Merlot






Há vinhos e cortes interessantes;  no dia anterior, em um restaurante, havíamos provado o Rosé. Era um vinho fresco e aromático, que caiu bem com os frutos do mar e que,  inclusive, nos motivou a visitar a Bodega. 

Outro vinho interessante foi o corte Tannat 85% + Viognier 15%. Esta ultima quebra a adstringência do Tannat tornando um vinho redondo, perfeito. 
Color rojo violáceo profundo. Aroma intenso y complejo, en el que se funden una mezcla de frutos rojos, especias y flores silvestres sobre un elegante fondo de vainilla.En boca tiene una entrada suave y agradable. Buena estructura, final persistente.

O CETUS, 100% Sirah é o vinho nobre da casa. Seu nome nada mais e que a reafirmação de sua ligação com as baleias que aparecem na Punta de la Ballena, de julho a outubro.
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Associada à degustação de vinhos, conhecemos dois queijos : o Colonia, cremoso e semelhante, mas de qualidade superior ao nosso queijo prato e o queijo zzzzzzz, mais compacto e salgado, de bom sabor.

Na parte final da degustação e é bom que se diga que estávamos numa construção rústica e frágil de bambu, começou um temporal com ventos fortes que me assustou e atrapalhou a apreciação final . Sai de lá sem nenhum vinho, com a esperança de encontrá-los no aeroporto.


Seria interessante ter este vinho no Brasil.
Os vinhos uruguaios ainda sao pouco difundidos lá.

Depois de toda a tempestade, só calor de 34 graus da piscina do hotel nos confortou.

terça-feira, 28 de maio de 2013

5.5 - Uruguay - Punta del Este

Tinha ou ainda tenho preconceito com esta cidade; penso que seja um lugar cheio de brasileiros abrutalhados e barulhentos. A conferir.

Punta del Este estava vazia. Nenhum turista nas ruas no outono. Havia uma brincadeira entre nós sobre um tal programa de TV em que o Amaury Júnior apresenta celebridades em férias lá. Recriamos o tal programa nos restaurantes em que jantamos. E nem vimos o tal apresentador de TV.


Punta fica exatamente na foz do rio da Prata. Há uma parte da cidade que margeia o rio e outra parte que é praia de mar aberto.
Punta é uma ponta, ao fundo a Praia Brava
É nela, na Praia Brava, que fica a escultura dos dedos emergindo da areia. Chama-se "Monumento al Ahogado" ou Las Manos e foi construída em 1982 pelo artista chileno Mario Irarrázabal. Ponto obrigatório para todo turista que chega à cidade.



O hotel é muito legal: Barradas Parque Hotel. Decoração clássica e elegante, café da manhã farto. Valeu pela piscina aquecida a nos aquecer depois do temporal em Punta Ballena. Drinque de entrada: espumante; a meu pedido, um ratito de Campari para dar aquela cor rosada a lembrar o Campari fizz de Veneza.


A comida era ruim nos restaurantes fora de temporada. Arriscamos paella, risotto de frutos do mar, frango.... tudo com aquele gosto pasteurizado de restaurantes para turistas.



Vinhos!
Bem, os próximos posts serão para eles. Começamos amanhã a visitar bodegas e ter contato mais profundo com a uva Tannat, a espécie que melhor se adaptou ao solo uruguayo. Por enquanto nos contentamos em prová-la à distancia, nos restaurantes.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

5.4 - Uruguay - segunda-feira, o meio do caminho

Amanheceu um dia lindo em Colônia del Sacramento. Céu azul, sol luminoso. As meninas foram até ao Rio del Plata que passa ao lado da Pousada del Flor e - contaram que a maré subiu muito e escondeu o tronco de arvore e a pequena praia de areia.



Por mais que houvéssemos amado a cidade, era hora de partir. Na van alugada, sob o comando de Marcos Florindo, atravessamos o país do sul para o leste pela rodovia A1, para chegar até Punta del Este. No meio do caminho, passamos novamente por Montevideo, atravessando toda a avenida a beira-rio, com o porto a nossa direita, bem no meio do caminho e a cidade velha à esquerda.
Quando vimos o Mercado Central bateu uma fome.... era hora de almoçar. Nesse momento a mistica do Mercado Central desabou: se tornou apenas um lugar para turistas com uma comida razoável, como costumam ser estes lugares. Garçons apressados, cortes de carne secundários... Mas é um belo visual ver todas aquelas carnes no assador.


Hora de seguir viagem até Atlântida, um pequeno balneário onde o Rio da Prata próximo ao oceano se torna tão largo que não sabemos se é rio ou mar. Ali pode ser uma das sete portas do mundo transcendental (as outras que conheço são Machu Pichu e São Thomé das Letras) aonde se adentra por um imenso navio cor-de-rosa, ancorado em concreto na praia. 

Neste pueblo existe uma joia da arquitetura: la Iglesia de Cristo Obrero, do arquiteto Eladio Trieste.

Eladio Dieste foi um talento arquitetônico: desenvolveu a técnica construtivista utilizada nesta obra (cerâmica armada). Ele tira partido das formas e da iluminação natural, resultando num efeito muito interessante.


Paramos ainda em Punta Ballena, uma ponta rochosa em angulo agudo que adentra ao mar, ops, ao rio da Prata onde Carlos Vilaró, artista plástico, construiu seu delírio arquitetônico: a Casapueblo. Vinicius era amigo de Vilaró enquanto cônsul do Uruguay e aqui tomou porres homéricos, vendo da sacada o magnífico por-do-sol. Escreveu a música da "casa muito engraçada, não tinha teto, não tinha nada" inspirada na Casapueblo.





Vilaró tem 90 anos e ainda vive em Casapueblo. Continua pintando e fazendo esculturas. Seu trabalho lembra Picasso e Miró. No museu da Casapueblo há uma foto de Vilaró, ainda jovem, ao lado de Picasso, em sua casa em Paris. 
Essa obra é um dos espaços mais interessantes do Uruguay. Além da arquitetura em si, desconstruída, sua localização é privilegiada. Seus terraços apontam para o oeste, onde o sol de põe sobre o rio. Noivas e modelos aparecem por aqui (hoje tinha uma) para ensaios fotográficos nessa hora. Mas é muito mais que isso: é museu, onde as obras do artista estão expostas e cópias podem ser adquiridas na lojinha do museu. Adoro lojinhas de museu: além de artigos de consumo supérfluo e sempre muito caros,  deciciosos ao olhar e manuseio, se acham preciosidades. Comprei uma gravura de "Gato", em azul. Um primor.
Veja em www.carlospaezvilaro.com.uy 

5.3 - Uruguay - O Ford Bigode

Em 1926, Henry Ford criou um carro que rompeu padrões de fabricação. Era o primeiro carro popular, feito em linha de produção, destinado não mais às elites, mas à classe média que se formava, aos trabalhadores das indústrias Ford.


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Era o Ford Bigode! Seu nome deriva de dois comandos no volante, um de cada lado do eixo, que davam a ilusão de um bigode, nem tanto a la Dali, mas de um sedutor bigode dum senhor dos anos vinte.


Dois comandos a 180º



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Essa incorporação de novas tecnologias numa linha de produção foi a linha divisória da industria automobilística. Durante décadas o Ford Bigode vendeu milhares e milhares de unidades. 


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Só foi suplantado, em números absolutos, cinqüenta anos mais tarde pelo Volkswagen.

História contada pelo Almir, numa das ruas de Colônia del Sacramento, ao nos depararmos com um desses carros expostos como um museu céu aberto que são as ruas daqui.

domingo, 26 de maio de 2013

5.2 - Uruguay - Colônia del Sacramento

Colônia del Sacramento, é cidade fundada em 1678 pelo português Manuel Lobo.
Hoje é uma cidade uruguaia, de arquitetura espanhola do século XVIII - e esta é a sua graça - com  pouco mais de 27 mil habitantes. É considerada pela UNESCO como Patrimônio Cultural da Humanidade. Eu ando cada vez mais interessada em conhecer os locais listado pela UNESCO. Já tenho uma boa lista deles.

Colonia, à beira do Rio da Prata e do outro lado de Buenos Aires, tem um centro histórico muito charmoso, com ruas de pedra, casas de pedra e muitas árvores que no outono mudam de cor, enriquecendo a paisagem e deixando um barulho bom quando se pisa nas folhas secas no chão. Estive aqui um ano atrás, com o Alexandre, naquela viagem icônica de carro pela América do Sul. Havia amado e ficado emocionalmente interessada em alugar um estúdio aqui para uns três meses e produzir um livro. Sempre tenho um desejo de ficar mais tempo em alguns lugares.....

Chegamos à noitinha. Tava frio. Uns 8ºC, suponho. Depois de ficar um dia todo em trânsito, o desejo de andar a esmo pela cidade e a fome de encontrar um bom restaurante foram imediatos. Era noite de lua cheia e nesse caminhar encontramos a lua de maio a duas torres da igreja de arquitetura espanhola.









Algo insólito é que a cidade é um museu aberto de carros antigos - ficam expostos nas ruas, às vezes decorados de uma maneira bem-humorada; num deles havia um casal de peixes em papel machê.






Encontramos um restaurante indicado pela guia da pousada. Tinha um nome peculiar, que eu associei a farmácias; penso que se chamava Drogaria. Melhor, El Drugstore






À saída, um pouco mais de frio criando um clima agradável de aconchego e calor. Caminhar pela cidade, pisando em folhas secas, olhando a lua e percebendo o vapor úmido sair pela boca, conversando com os amigos sobre os fatos do dia foi muito bom. 


É muito fácil gostar do Uruguay.


E o dia seguinte acordou luminoso e frio em Colonia. Andamos a esmo pelo centro histórico e nos perdemos do Almir. Por todo o dia, naquele centro minusculo de meia dúzia de ruas, nos desencontramos.

Paramos em lojinhas, antiquários, bares para uma cerveja e - já famintos - numa parrilla. Nem era a melhor carne. É impressionante a semelhança com a cultura argentina! Eles não gostam. Estão à procura de uma identidade. Conheço pouco a história do Uruguay para saber qual foi o momento histórico em que eles se desconstruíram como nação ou se nunca o foram.




Andávamos e andávamos e sempre voltávamos para a orla. Plena de restaurantes e bares, com ombrelones para se ficar ao sol e olhar o rio.


Beira do rio da Prata, um mar que se perde em distância. Pensar que a água que corre ao redor da Casa das Hortênsias chega até aqui me dá uma sensação de pertencimento a um continente comum. Colonia tem dois píers: um deles mais afastado onde desembarca o Buquebus vindo de Buenos Aires e outro - mais central - para os iates.
Orla do Rio da Prata


Colonia tem uma arena de touros. Belíssima em estilo mourisco. Construída em 1910, para sua inauguração, a empresa proprietária da praça contratou dois dos melhores toreros da Espanha, Ricardo Torres (el Bombita Grande) e seu irmão Manuel (el Bombita Chico). 10 mil pessoas viram esta farra. Apenas oito (8!) touradas foram realizadas no local; em 1912 um decreto do governo proibiu as touradas. Hoje está em ruínas, com a visitação proibida pelos riscos de desmoronamento, mas continua belíssima e imponente.

O Uruguay é mesmo um país avançado intelectualmente. Proibiu algo em 1912 que até hoje a Espanha se estraçalha e não consegue acabar. Haja visto como hoje ele está lidando com a dependência química pela maconha. Experiencia a se acompanhar  e torcer.