A primeira referência ao Harém vem de Sherazade, uma história do Médio Oriente, árabe ou otomano (é preciso verificar), de uma das muitas princesas belas, cuja vida esta nas mãos de um homem, seu senhor, ou melhor, do humor dele. É uma referência positiva a mulher, a sua sabedoria e senso de sobrevivência.
Há alguns anos atrás vi, em Lyon, uma primeira exposição sobre o Harém muçulmano. Era uma reflexão sobre o olhar ocidental, de desejo e luxúria, a compreender o harém como um lugar de prazer, elevado ao extremo refinamento.
O outro lado que a exposição mostrava era o confinamento, as duras regras, alianças e hostilidades, num mundo onde só uma seria vencedora: a primeira que concebesse o herdeiro.
O tempo passou e eu me esqueci dos haréns, ocupada com outras prioridades da minha vida. Como tenho por valor máximo a minha liberdade, essas histórias são só memórias de um tempo passado.
Mas o passado volta.
Ontem passei a manhã toda no Harém do palácio de Topkapi, onde por mais de 400 anos reinou absoluta, a dinastia otomana. Fiquei muito mobilizada. muros da espessura de quase um metro a suportar 3 portas e três antecâmaras antes de se adentrar ao espaço feminino.
Na segunda antecâmara era o espaço dos eunucos - escravos castrados e negros (? - assim mostram as figuras) que administravam, guardavam e cuidavam do harém e suas mulheres.
Depois, uma hierarquia rígida: a sultana-mãe, as favoritas do rei ( 4 mulheres, me parece, com filhos, e a possibilidade de herdarem o trono) e as outras. Pouquíssima luz, poucas lareiras, poucos jardins e imensos muros.
Um prisão!
Há livros e livros escritos sobre o harém. É um assunto que me interessa, assim como a Rota da Seda, mas - com o pé no chão, não tenho disponibilidade para aprofundar isso.
O que dá para concluir é que 500 anos depois isso ainda se reflete na sociedade. Por mais que Ataturk tenha secularizado e modernizado o ESTADO, a situação da mulher na Turquia, principalmente no interior não e fácil: o véu, os panos negros a cobrir o corpo, a separação nas mesquitas, as promessas políticas de separar classes escolares masculinas e femininas, tudo mostra o quanto o harém ainda esta presente na cultura turca.
Gostei da sua percepção não romântica do harém e dos desdobramentos na situação das mulheres atuais da Turquia.Tive outra percepção do harém dos árabes no palácio da Alhambra, na Espanha, um lugar devassado pela vigilância. Ele se localizava no alto de um edifício, chamado a Torre de las dos Hermanas, belíssimo, com acesso controlado e comunicações, janelas que permitiam a visão interna constante. Afinal, uma forma sofisticada, mas também de rigoroso controle das mulheres.
ResponderExcluirPois e, Glória, a cultura turca ainda e muito restritiva. Ouvi de alguns homens a pergunta:
ResponderExcluir- como o seu filho não está com você?
Eles até aceitam uma mulher sem marido, desde que o filho assuma esse papel de cuidar, proteger e restringir.
Isso gera, por parte das mulheres, ou rebeldia ou inércia. Porque não ter que decidir também é muito confortável.