segunda-feira, 18 de abril de 2016

12.24 - Bálcãs. Éric Boëda


Eric Boëda é o chefe da missão francesa na Serra da Capivara - Piauí desde 2008. Apesar de ser médico , fez mestrado em Antropologia e depois doutorado em etnografia. Hoje é professor da Universidade Paris X - Nanterre.

Sua especialidade são os artefatos líticos (pedras lascadas) produzidas por civilizações muito antigas. Trabalhou na França, Argélia, Ucrânia, Mali, Síria, China e - desde 2008, faz escavações na Serra da Capivara - Piauí.

Havíamos marcado uma conversa com antecedência aqui no Brasil. Queria entrevistá-lo para o meu trabalho de pesquisa do Parque Nacional da Serra da Capivara. Ele foi convidado por Niéde Guidon para dirigir a missão franco-brasileira na Serra da Capivara.

Ele nos recebeu em seu escritório na Universidade Nanterre, numa fria e quase chuvosa manhã de março. Chegou ofegante ao terceiro andar e precisamos de algum tempo até que sua respiração normalizasse.Somos contemporâneos e sua figura de cabelos fartos e encaracolados, óculos redondos, uma silhueta arredondada, a principio não dizia nada do seu humor.


Começou falando da política francesa dos anos 60 e 70 era de acolhimento a todos a todos os refugiados políticos de toda a América Latina, àquela época, vivendo regimes ditatoriais duríssimos.
Então, brasileiros, chilenos e uruguaios encheram as universidades francesas; Niéde Guidon e Anne-Marie Pessis entre elas.

Depois falou de seus achados na Serra da Capivara e da coincidência das conclusões de outros sítios arqueológicos da America do Sul: Santa Elina, no Mato Grosso, outro em Goiás, Vale Verde, no Chile....outro no Peru. E fez uma frase de efeito:
- Que houve uma civilização há 25- 30 mil anos atrás, não só na Serra da Capivara, mas em toda a América do Sul, não resta mais dúvidas. A grande questão que se coloca a partir de agora é - quem eram eles?

Boëda escavou 4 sítios arqueológicos na Serra da Capivara: Sitio do Meio (1998), Toca da Peia (2009), Tira Peia (2012) e Vale da Pedra Furada em 4 campanhas, desde 2011, donde coletou material que embasou suas conclusões e publicações.

Quando lhe perguntei sobre o destino do trabalho na Serra da Capivara, na era pós Niéde, ele se mostrou muito pessimista:
- Não há dinheiro para a continuação das pesquisas; A FUMDHAM não tem recursos, o ICM-Bio também não. Ficará um trabalho muito pequeno e isolado.

Mas ele é otimista quanto à arqueologia no país.
- Tenho alunos que vieram estudar comigo aqui na França e hoje estão em várias Universidades espalhadas pelo país. Meu projeto é integrar todas as pesquisas num grande Centro Nacional de Pesquisas, no modelo existente aqui na França.

- E o senhor se coloca como o coordenador desse projeto, perguntei
- Oui!

Só restava tirar a foto e lhe entregar a cachaça de Parati como presente. Claro que seus olhos brilharam,  Para em seguida reclamar que não encontrava limão Taiti; disse que quando usava o limão siciliano o gosto mudava completamente.

Olga, minha interprete na conversa, que conhece tudo sobre Paris, ajudou:
- Você consegue encontrar esse limão na feira antilhana, aqui em Paris.

Voilá! agora é trabalhar para dar consistência ao texto, prometi a mim mesma. 

Edna Bugni e Eric Boëda na Universidade de Nanterre - Paris.

Nenhum comentário:

Postar um comentário