terça-feira, 19 de abril de 2016

12.28 - Bálcãs - Barbizon - onde os artistas viviam

Nunca tinha ouvido falar de Barbizon, até Allan, me convidar para conhecer, em meu penúltimo dia na França. É uma pequena vila perto de Paris com cerca de 2.000 habitantes e meia dúzia de ruas, nos limites do Castelo de Fontainebleau. Mas que ruas! São antigas, medievais e bem preservadas; como sempre foi um local de artistas e intelectuais desde o século 18, teve e ainda tem inúmeras histórias. Muitas perceptíveis nos vários monumentos e obras de arte espalhados aqui e acolá;


Boulevard principal de Barbizon



Rua de Barbizon com fachada de casa do século 18.


A cidade é contornada por uma grande floresta e muitas rochas. Floresta de Fontainebleau! Foi por ali que começamos nosso passeio. Trilhas de terra entre as árvores. O clima temperado desta região da Europa não permite biodiversidade, apenas duas ou três espécies de árvores compõem a vegetação. É por isso que Robin Hood pode morar numa floresta inglesa e ali montar o seu quartel-general. É muito fácil de andar. Para quem vive com a Mata Atlântica muito próxima do cotidiano e sabe da sua impenetrabilidade pelo emaranhado das milhares de espécies que nascem juntas, encara como uma pobreza estética essas florestas e bosques da Europa, mesmo que seja a de Fontainebleau!


Trilha com rochedo na Floresta de Fontainebleau.

Allan não conhecia o parque (esteve ali na infância, com a escola) e não havia placas sinalizando as trilhas. Então até onde ir? Ficamos sem critério algum para estabelecer uma rota. Estava agradável caminhar, temperatura de primavera com sol brando. Allan me mostrava o solo arenoso e indicava que ali havia sido um fundo do mar, por isso tanta areia.
Aprendi com ele a usar a função "panorama" de minha câmera de celular e isso foi muito legal. Já havia tentado em inúmeros momentos anteriores, mas hoje as fotos saíram perfeitas.

Foto panorâmica da trilha dentro do bosque onde as coníferas predominavam

Rochas e Coníferas na trilha de Fontainebleau.
Foi revigorante caminhar pelas trilhas arenosas; Allan fala pouco inglês e eu, quase nada de francês. Conversação muito básica e muitos momentos de silêncio. Por fim, sem saber onde iríamos chegar, decidimos voltar pelo mesmo caminho e explorar a cidadezinha, já pressentida na chegada.

Barbizon tem ciclos históricos: o mais palpável é o século 19, onde era um vilarejo habitado por artistas: escultores, pintores, escritores... mosaicistas.


século 19 - os franceses exibem seu passado

História muito recente, quem era? Atiçou minha curiosidade
E daí haviam os mosaicos, razão do convite de Allan. Quando vi o primeiro painel exposto na rua, perto da saída do bosque, me encantei. Fiz fotos. Parei, toquei, olhei a técnica e percebi o material. Smalti! O clássico smalti italiano, fabricado em Veneza há séculos, O mesmo que ainda hoje usamos, como o mais nobre e mais caro material, Mal sabia eu que toda Barbizon é preenchida com telas de mosaicos feitos no século 19, expostas ao ar livre há muitos anos.


Mosaico e eu, sobre as rochas de um mar ancestral

O mesmo material e a mesma técnica usados até hoje.

Mosaico realizado há cerca de 150 anos, exposto ao ar livre
150 anos atrás! O mesmo material! A mesma técnica! O que era deslumbramento inicial começou a me incomodar. Que mosaico estou fazendo? comecei a me perguntar. O que no Brasil se faz em mosaico? Acabava de chegar da Sérvia, onde o contato intenso e prolongado com uma mosaicista de grande calibre já havia me despertado algumas inquietações.

A única certeza que eu tive naquele momento foi que não se podia repetir ad eternum o que já fora feito 150 anos atrás. Eu precisava reciclar alguns conceitos. Tá, não sou artista, mas uso o mosaico para me expressar, como fazia antes com os tapetes. Tem emoção e criatividade. Faltam-me a técnica e alguns fundamentos de arte e desenho. Nunca os estudei. Mas isso não me transforma (ou não deve me transformar) em uma copista, que apenas cola tesselas em uma figura pré escolhida.
É longo o caminho da inquietação.

Então, meu olhos bateram em uma escultura exposta numa galeria (proibido fotografar); já havia visto uma obra semelhante três anos atrás noutra galeria em San Gemignano (por isso é preciso viajar!). Totalmente contemporânea, consistia em manequins recobertos com materiais descartados (baterias, resto de brinquedos, engrenagens,...), dando ao trabalho uma harmonia ímpar.

- É por aí, pensei. Preciso ousar...... Preciso parar de trabalhar para melhorar meu foco na arte. Ah, eterna contradição!


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