São Raimundo Nonato, no sudeste do Piauí é o Cu do Mundo. Nem é uma expressão desrespeitosa, apenas é o lugar mais isolado que cheguei. O Piauí é um estado carregado de preconceitos no sudoeste do Brasil, no sentido que aqui as relações capitalistas são muito precárias.
Não há indústria, nem extrativista, não há agronegócio, não há praias.... Ensombrecendo ainda mais o quadro, a vegetação é semi-árida, o que significa que o calor é desafiador e há seca, o padecimento a se suportar e conviver.
São Raimundo entra para a história mundial quando Niéde Guidon, há 40 anos atrás, descobre perdidas entre as serras e boqueirões, pinturas rupestres a céu aberto. Foi para conhecê-las que vim.
Não sabia muito o que encontrar no parque; na cidade tinha expectativa zero. Já havia andado pelo nordeste nos anos 80 do século passado numa viagem com a minha amiga Cristina e sabia que os horrores que Graciliano Ramos havia descrito em "Vidas Secas" não eram ficção literária.
Cheguei na tarde de domingo. Alojei-me na Pousada Progresso, logo na avenida de entrada. Local simplesinho, alojamento de viajantes. Baratinho. Tinha ar condicionado e internet, o que é essencial para pessoas que como eu, ficamos wi-fi dependentes.
Não havia energia elétrica na cidade. Xiiiiiii!
Nem ar condicionado, nem internet funcionando.......Bem pior que eu supunha!
Bem, vamos ver o que fazer: o Museu do Homem Americano ficava pertinho, era um bom começo. No museu, outra decepção: ele não conseguia funcionar sem energia. Nada a fazer. Nesse momento encontrei Cida Pereira, uma senhora de mais de 50 anos, fala arrastada, que se apresentou como guia do parque e se ofereceu para ser a minha condutora no Parque.
Não era bem o que eu esperava de um guia. Tinha imaginado um sertanejo de coxas firmes e dorso largo a me contar e mostrar os sinais dessa civilização que aqui viveu. Acabei contratando a Cida. Combinamos de nos encontrar no dia seguinte, cedinho, na pousada.
Escureceu sem luz. O jegue nos arredores da pousada parecia não se importar com isso, seus movimentos lentos, duma espécie que se tornou inútil quando as motos chegaram, só falavam duma vida abandonada ao léu. E conforme a luz do dia ia sumindo o mais belo céu apareceu: sem nuvens, sem poluição, sem umidade e sem lua, todas as estrelas apareceram. Tudo o que a Natureza negava à Terra, oferecia ao céu. Estrelas.
O Cu do Mundo se vingava me mostrando o mais belo céu possível.
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