Precisa-se de algum tempo para compreender a Caatinga.
A palavra de origem indígena significa Mata Branca. Tem uma beleza incrível e ao mesmo tempo profundamente hostil, principalmente para uma pessoa como eu, criada em meio à Mata Atlântica.
Homens e animais domesticados não deveriam viver na Caatinga. Não dá! Não tem solo fértil para plantar, não tem comida, não tem água .. Fazer o que em terra tão inóspita?
Gisele Daltrini Felice, arqueóloga da FUNDHAM e professora da UNIVASF discorda da minha reflexão. Acha o desafio da sobrevivência em terra inóspita, a adaptação que homens, flora e fauna fazem para sobreviver algo magnífico e extraordinário.
- Ser Mata Atlântica é fácil, está cheio de água; difícil é ser Caatinga, refuta.
Há dois anos não chove aqui. Isso se incorpora na pele das pessoas; encaram como natural esperar mais quatro meses pela chuva.
Hoje viajei quase seis horas pelo sertão do Piaui, para desviar dos 80 km. de estrada de terra percorridas durante a viagem de ida até São Raimundo. Foram seis horas pela Caatinga, debaixo do sol inclemente e céu sem nuvens. Vi vacas magras comendo pau seco para matar a fome; vi muitas cabras lambendo a terra nua, em busca de algum broto. Pequenos quadrados de terra nua e aradas esperam há dois anos pela chuva para se jogar as sementes no solo.
Alguma coisa andou: todas as casas na beira da estrada exibem no terreiro uma grande cisterna para armazenar água Não sei como funcionam, sua autonomia nem a qualidade da água. Tem também uma pequena placa solar que fornece energia, algumas lâmpadas para alumiar a solidão.
Descobri depois sobre as cisternas: elas foram implantadas pela CARITAS, uma organização católica ligada a CNBB - Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil, dentro do Programa " Um milhão de cisternas". Elas são construídas em concreto, com capacidade de 16 mil litros e captam toda a água da chuva que escorre pelo telhado. No tempo de seca, a prefeitura abastece as cisternas junto com pastilhas de cloro para tratamento da água.
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