terça-feira, 5 de abril de 2016

12.10 - Bálcãs - Mosteiro de Studenica

Studenica é um mosteiro ortodoxo de fundado em 1190 e considerado pela Unesco como Patrimônio Cultural da Humanidade, a partir de 1986.


 Fica ao sul da Sérvia, a cerca de 100 km de Vrnjačka Banja, a cidade que é nossa base geográfica desde ontem. Aqui estão enterrados Stefan Nemanja (São Simão) - o primeiro rei da Servia e Stefan Radoslav, rei da mesma dinastia, que governou entre 1228 a 1233.


Entrada e Nave Principal

Andjelka nos levou lá em seu carro numa bela e perigosa estrada, estreita, sem acostamento cheia de curvas, subidas e descidas.É uma das rodovias que dá acesso à Montenegro , um país que surgiu do desmembramento da Iugoslávia, nos anos 80.

Fazia um belíssimo dia de primavera e a vegetação exibia a nudez do inverno: troncos monocromáticos e pouquíssimas folhas. A característica das florestas europeias é o monocromatismo: nenhuma biodiversidade. Bom humor, afinal estávamos em férias rumo a um dos Patrimônios Culturais da Humanidade e ainda com a perspectiva de um almoço típico num restaurante rural no vilarejo de Bogretovac: a Kafana at Miro. Kafana é o nome para  os restaurantes que servem comida típica da Sérvia.




Studenica fica na zona rural, então nossa primeira impressão ao ver as muralhas e as cúpulas das duas igrejas construidas em pedra há 800 anos, numa manhã iluminada pelo sol foi de majestade e imponência. Nossa atitude enquanto adentrávamos pelo portão e caminhávamos pelo jardim era de deslumbramento: estávamos num local sagrado, construído há 800 anos e ainda permanecia com sua alma viva.


Torre incrustada nas muralhas

Jardins no início da primavera


Apreciando o sol ao lado da árvore que não lembro o nome

Porta da Torre
O mosteiro foi fundado por Stefan Nemanja, que foi o primeiro rei da Sérvia, por ocasião da sua renúnica à vida pública, quando se tornou monge, com o nome de Simão. Anos mais tarde, seu filho e já monge com o nome de Sava, volta a Studenica e depois de um paciente e bem articulado trabalho político junto ao Patriarcado de Constantinopla, consegue a autonomia da Igreja Ortodoxa Sérvia e Studenica se torna o centro da vida espiritual, cultural e política da Sérvia.


Posteriormente, nos séculos 13 e 14, o mosteiro recebe a decoração coma frescos em suas paredes. O mais famoso deles é a Crucificação, pintado na parede posterior da Igreja da Anunciação da Virgem Maria. Ele representa o momento após a morte de Cristo, quando toda a dor e o sofrimento se foram e Cristo pode exibir uma face calma e leve. O fundo desse afresco é em azul bizantino, o que mostra a riqueza e importância do local. O azul bizantino é uma cor rara e especial, obtida do lápis-lazúli, uma pedra raríssima com apenas duas minas conhecidas no mundo: no Afeganistão e no Chile. É claro que - naquela época - toda a pedra vinha do Afeganistão, o que elevava em muito o custo do pigmento. Apenas as igrejas ricas e importantes como Studenia, poderiam se permitir ter toda uma parede pintada em azul bizantino.



Crucificação - a obra prima de Studenica
O mosteiro estava deserto naquela manhã de terça-feira. Dentro das grossas e frias paredes, um jovem usando um grosso e longo gorro de lã preta, barba rala e óculos de aro redondo limpava com aspirador o chão do templo. O barulho contemporaneo do motor contrastava - e ao mesmo tempo - dava vida a tão antigo espaço. Imaginei que ele fosse um noviço executando suas tarefas diárias. Parece que não; o rapaz é um funcionário do mosteiro e tem a funçaõ de receber os turistas. Num inglês perfeito  ele nos contou a história do local, sua arquitetura e também a história de cada um dos afrescos das duas igrejas.

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Parede Lateral da Igreja da Anunciação da Virgem Maria


O ambiente dentro dos templos era muito frio e com pouca luz. Imaginei como os monges há mil anos atrás, em pleno inverno ( e como neva aqui!) participavam dos ofícios religiosos ou de como Simão e Sava fizeram, dentro daquelas muralhas,  todas as articulações políticas que permitiram a constituição de um estado sérvio medieval.

Depois de tanta história - é claro - uma visita à lojinha. Havia vinho à venda, feito no Mosteiro. Não arrisquei. Me contentei com os ícones da Virgem \Maria e Beatriz, com seus terços. Por fim - e para minha surpresa - nosso guia, ao se despedir de Beatriz, soltou em bom som:
- Vá com Deus!
Isso mesmo, em português! Poie é, estamos todos globalizados.

Bem, quanto à Kafana do Miro, prometo falar num outro post. A gula é um assunto muito profano para local tão sagrado.

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