Quando ouvi pela primeira vez falar dos maniçobeiros, - sertanejos que habitavam a Caatinga - a extrair o látex da maniçoba não entendi bem o que significava. Só percebia que havia sido um ciclo econômico importante no sudeste do Piauí e - como tudo lá, era passado.
Foram duas fases: a primeira vai do final do século 19 até os anos 20, quando a exportação da borracha correspondia a 62% das exportações do estado. Já a segunda fase se inicia em 1940, com a Segunda Guerra Mundial, quando os aliados ficaram sem o produto, a partir a dominação dos seringais asiáticos pelos japoneses e continuou até 1960.
A exploração da maniçoba ocorreu principalmente no sudeste do Piauí, nos municípios de São Raimundo Nonato, São João do Piauí, Caracol e Canto do Buriti.Que fique claro aqui que nenhum maniçobeiro ficou rico de trabalhar na atividade. Como os seringueiros da Amazônia ou os trabalhadores de cacau no sul da Bahia. O sistema de armazém, onde o intermediário fornecia o alimento a preços extorsivos, mantinha o trabalhador na escravidão disfarçada em dívida ao armazém.
Os maniçobeiros vinham de Pernambuco sozinhos, sem família. Ficavam alojados nos barracões nas fazendas ou nos abrigos de pedra, na Serra Branca, região de terras devolutas. Compravam o essencial: rapadura, carne-seca e farinha de mandioca. A água, consumida sempre de maneira parcimoniosa, era rara e vinha dos olhos d'água das serras.
Não eram bem-vindos nas cidades. Cheiravam mal, diziam. Não compreendiam que ficavam semanas e semanas nas tocas, com pouca água até para beber e trabalhavam debaixo do sol árido da caatinga. Usavam uma calça de couro para se proteger dos espinhos dos cactos existentes em abundância em seus caminhos de trabalho. Sem banho por semanas, com o suor e o cheiro do couro impregnados pelo couro, como cheirar diferente?
Diferente da extração da resina do pinheiro que conheço aqui no estado de São Paulo, onde se coloca um saco plástico no tronco para recolher o líquido que escorre da árvore ( as incisões são feitas no tronco), na maniçoba, as incisões eram feitas na raiz. Então se precisava cavar um buraco no chão, preenchê-lo com argila impermeável, deixar secar e - horas depois, fazer a incisão a extrair o líquido grudento.
A qualidade do látex extraído e seu consequente valor comercial vinham desse cuidado: não misturar o látex com terra. Os mais cuidadosos com a impermeabilização do buraco coletor conseguiam melhores preços. Depois de extraído, o látex era colocado para secar; formavam lapas que eram estocadas nos abrigos de pedra até terem um volume que justificasse a ida até a cidade para entregar para o armazém coletor.
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