Depois de quatro viagens à região sudeste do Piauí, digo entusiasmada: Vale!
Talvez o que me assustasse no Piauí fosse a ausência de praias e o intenso calor. Como temos a cultura de férias na praia, nosso limite é Fortaleza. Paramos ali. Claro, conta muito o preconceito do sudoeste do país com o Nordeste, com a miséria e com o seu povo, exposto de maneira indubitável nas últimas eleições, em outubro de 2014.
Desconstruí todas essas premissas que estavam impressas no meu cérebro e hoje tenho um carinho especial por aquele estado e quero conhecê-lo melhor. Primeiro o seu povo: pacífico, gentil, afetivo e hospitaleiro. Tratam o estrangeiro sempre com boas-vindas e tentam ajudá-lo da melhor maneira possível.
Só uma história dessa viagem: estava comprando água e água-de-coco numa mercearia em São Raimundo. Na hora de pagar, percebi que a carteira tinha ficado no hotel e só tinha dinheiro para a água. Não é que o garoto que me atendeu (um jovem duns 16 anos) abriu a embalagem da água-de-coco só para eu "tomar um golinho". Situação impensável de acontecer por aqui, onde vivo. Local de capitalismo moderno.
Depois do povo, as paisagens: o sudeste do Piauí está cheio de serras de origem sedimentar pois lá, antigamente, foi fundo de mar. Então conhecer as cuestas, os paredões de arenito arredondado em tons de vermelho e laranja, os desfiladeiros e as grutas é estupendo. Se a tudo isso você colocar a vegetação: ora a Caatinga, característica do semi-árido ou os resquícios de Mata Atlântica que cresce onde a água é farta, tudo fica perfeito.
Só para terminar de falar bem do Piauí, lá estão expostas em forma de figuras e gravuras a história de um povo que habitou o continente há - pelo menos - 20 mil anos atrás. E isso é superlativo.
Blog de viagens destinado a relatar em uma viagem o olhar de fora, do estranho. Meu olhar, minhas impressões e emoções, as histórias e a história dos locais.
quarta-feira, 12 de novembro de 2014
terça-feira, 11 de novembro de 2014
8.11 - Piauí - As Tradições nas Pinturas Rupestres
TRADIÇÃO é o nome técnico para designar um conjunto de figuras rupestres com características semelhantes.
A pintura em rochas é uma prática realizada em todos os continentes e iniciada, aproximadamente, na mesma época.Tem um duplo valor arqueológico: os desenhos, por serem algo concreto, fornecem informações sobre como se resolviam os problemas técnicos para se chegar à figura e também revelam a dimensão imaterial da cultura e da representação daquela sociedade que o produziu.
As mais antigas datações de pinturas rupestres são as da gruta de Chauvet, na França, realizadas entre 32.000 e 31.000 anos, época em o homem de Neanderthal teria desaparecido. Elas foram descobertas no final do seculo XIX.
A socióloga Anne-Marie Pessis, hoje professora da Universidade Federal de Pernambuco, desde 1980 vem estudando as figuras da região da Serra da Capivara e é a partir de seu livro " Imagens da pré-história" que eu refinei meu olhar para as diferentes tradições lá existentes.
Primeiro, é preciso contar que em todo o Nordeste do Brasil existe uma densa concentração de sítios arqueológicos pré-históricos e em muitos as figuras rupestres estão representadas.
Descobertas a partir de pesquisas nos anos 70, elas foram gravadas há pelo menos 12 mil anos atrás. Existem três grandes grupos de figuras ou tradições, designando os grandes troncos culturais que as fizeram.
Tradição Nordeste
É a mais comum na região, pintadas entre 12 mil a 6 mil anos no inicio do período Holoceno, coincidindo com a mudança climática que transformou as condições de vida na região.
Apesar de presentes em todo o Nordeste, sua origem foi na Serra da Capivara.São facilmente reconhecíveis por um observador e representam ações e acontecimentos quer de caráter humano ou animal. Constituem rica fonte de informações dos aspectos de vida cotidiana, das crenças religiosas, das manifestações rituais, dos ornamentos, armas e outros objetos.O que as diferencia de outras pinturas são a temática e as modalidades de encenação utilizadas para cada situação.
Tradição Agreste
São pinturas maiores e representam figuras reconhecíveis e isoladas. Predominam as figuras humanas; são raros plantas e animais e não aparecem representações de objetos. Raram cenas narrativas, raras relatam algumas caçadas.As figuras são estáticas, com ausência de movimentos.
São pinturas de menor técnica, com acabamento tosco, com preenchimento total da figura pelo pigmento. Mostram cores de vermelho mais escuro provavelmente devido ao aquecimento no preparo da tinta. Os desenhos têm bordas escorridas muitas vezes, mostrando a diluição do pigmento em água.
Surgiu por volta de 9 mil anos e desapareceu por volta de 2 mil anos atrás. Não são originarias da Serra da Capivara, pesquisas arqueológicas evidenciam sua origem na região do rio São Francisco, em Pernambuco.
Tradição Geométrica
Tem um caráter provisório e nela se enquadram as pinturas onde as figuras não são reconhecíveis. Não é possível afirmar que elas sao características de um único grupo cultural.
Estilos de Tradição Nordeste
No Parque Nacional da Serra da Capivara coexistem duas classes de estilos de representação, além de um grupo de figuras de transição, ocorridos durante a evolução cultural. Manifestam-se na escolha dos temas e na maneira como são apresentados.
Estilo Serra da Capivara
São os registros mais antigos. Criaram regras gráficas iniciais que, apesar da evolução dos desenhos, permaneceram nos seis mil anos que durou a tradição.
As figuras são simples e precisas com aprimorado trabalho técnico. Mostram sempre o ápice do movimento. Alegria e ludismo. Figuras com atributos culturais como o cocar na cabeça.
Dentre os animais, o veado é o mais representado, seguido pelas emas. Frequentes cenas de dança, cenas sexuais e de caça.
Estilo Serra Branca
Aparece com traço evolutivo a partir de 9.000 anos. Tem um aperfeiçoamento técnico, introdução de novos temas e os já representados, são mostrados de uma nova maneira.Há a preocupação com o ornamento, as vestimentas e cocares. As formas são retangulares e muito decoradas, criando identidades individualizadas.Há mais cenas de violência representadas e surge a policromia
Complexo Estilístico Serra Talhada
São pinturas características da transição entre os dois estilos. Novos temas começam a ser representados, a violência sendo um deles. Há também um refinamento do estilo com figuras abertas, sem fechar totalmente o contorno e também a melhora das tintas empregadas, garantindo precisão e leveza ao traços.
Surgem as primeiras representações de cenas no tempo e no espaço e também de perspectiva.
A pintura em rochas é uma prática realizada em todos os continentes e iniciada, aproximadamente, na mesma época.Tem um duplo valor arqueológico: os desenhos, por serem algo concreto, fornecem informações sobre como se resolviam os problemas técnicos para se chegar à figura e também revelam a dimensão imaterial da cultura e da representação daquela sociedade que o produziu.
As mais antigas datações de pinturas rupestres são as da gruta de Chauvet, na França, realizadas entre 32.000 e 31.000 anos, época em o homem de Neanderthal teria desaparecido. Elas foram descobertas no final do seculo XIX.
A socióloga Anne-Marie Pessis, hoje professora da Universidade Federal de Pernambuco, desde 1980 vem estudando as figuras da região da Serra da Capivara e é a partir de seu livro " Imagens da pré-história" que eu refinei meu olhar para as diferentes tradições lá existentes.
Primeiro, é preciso contar que em todo o Nordeste do Brasil existe uma densa concentração de sítios arqueológicos pré-históricos e em muitos as figuras rupestres estão representadas.
Descobertas a partir de pesquisas nos anos 70, elas foram gravadas há pelo menos 12 mil anos atrás. Existem três grandes grupos de figuras ou tradições, designando os grandes troncos culturais que as fizeram.
Tradição Nordeste
É a mais comum na região, pintadas entre 12 mil a 6 mil anos no inicio do período Holoceno, coincidindo com a mudança climática que transformou as condições de vida na região.
Apesar de presentes em todo o Nordeste, sua origem foi na Serra da Capivara.São facilmente reconhecíveis por um observador e representam ações e acontecimentos quer de caráter humano ou animal. Constituem rica fonte de informações dos aspectos de vida cotidiana, das crenças religiosas, das manifestações rituais, dos ornamentos, armas e outros objetos.O que as diferencia de outras pinturas são a temática e as modalidades de encenação utilizadas para cada situação.
Tradição Agreste
São pinturas maiores e representam figuras reconhecíveis e isoladas. Predominam as figuras humanas; são raros plantas e animais e não aparecem representações de objetos. Raram cenas narrativas, raras relatam algumas caçadas.As figuras são estáticas, com ausência de movimentos.
São pinturas de menor técnica, com acabamento tosco, com preenchimento total da figura pelo pigmento. Mostram cores de vermelho mais escuro provavelmente devido ao aquecimento no preparo da tinta. Os desenhos têm bordas escorridas muitas vezes, mostrando a diluição do pigmento em água.
Surgiu por volta de 9 mil anos e desapareceu por volta de 2 mil anos atrás. Não são originarias da Serra da Capivara, pesquisas arqueológicas evidenciam sua origem na região do rio São Francisco, em Pernambuco.
Tradição Geométrica
Tem um caráter provisório e nela se enquadram as pinturas onde as figuras não são reconhecíveis. Não é possível afirmar que elas sao características de um único grupo cultural.
Estilos de Tradição Nordeste
No Parque Nacional da Serra da Capivara coexistem duas classes de estilos de representação, além de um grupo de figuras de transição, ocorridos durante a evolução cultural. Manifestam-se na escolha dos temas e na maneira como são apresentados.
Estilo Serra da Capivara
São os registros mais antigos. Criaram regras gráficas iniciais que, apesar da evolução dos desenhos, permaneceram nos seis mil anos que durou a tradição.
As figuras são simples e precisas com aprimorado trabalho técnico. Mostram sempre o ápice do movimento. Alegria e ludismo. Figuras com atributos culturais como o cocar na cabeça.
Dentre os animais, o veado é o mais representado, seguido pelas emas. Frequentes cenas de dança, cenas sexuais e de caça.
Estilo Serra Branca
Aparece com traço evolutivo a partir de 9.000 anos. Tem um aperfeiçoamento técnico, introdução de novos temas e os já representados, são mostrados de uma nova maneira.Há a preocupação com o ornamento, as vestimentas e cocares. As formas são retangulares e muito decoradas, criando identidades individualizadas.Há mais cenas de violência representadas e surge a policromia
Complexo Estilístico Serra Talhada
São pinturas características da transição entre os dois estilos. Novos temas começam a ser representados, a violência sendo um deles. Há também um refinamento do estilo com figuras abertas, sem fechar totalmente o contorno e também a melhora das tintas empregadas, garantindo precisão e leveza ao traços.
Surgem as primeiras representações de cenas no tempo e no espaço e também de perspectiva.
segunda-feira, 10 de novembro de 2014
8.10 - Piauí - A Maniçoba e maniçobeiros
Quando ouvi pela primeira vez falar dos maniçobeiros, - sertanejos que habitavam a Caatinga - a extrair o látex da maniçoba não entendi bem o que significava. Só percebia que havia sido um ciclo econômico importante no sudeste do Piauí e - como tudo lá, era passado.
Foram duas fases: a primeira vai do final do século 19 até os anos 20, quando a exportação da borracha correspondia a 62% das exportações do estado. Já a segunda fase se inicia em 1940, com a Segunda Guerra Mundial, quando os aliados ficaram sem o produto, a partir a dominação dos seringais asiáticos pelos japoneses e continuou até 1960.
A exploração da maniçoba ocorreu principalmente no sudeste do Piauí, nos municípios de São Raimundo Nonato, São João do Piauí, Caracol e Canto do Buriti.Que fique claro aqui que nenhum maniçobeiro ficou rico de trabalhar na atividade. Como os seringueiros da Amazônia ou os trabalhadores de cacau no sul da Bahia. O sistema de armazém, onde o intermediário fornecia o alimento a preços extorsivos, mantinha o trabalhador na escravidão disfarçada em dívida ao armazém.
Os maniçobeiros vinham de Pernambuco sozinhos, sem família. Ficavam alojados nos barracões nas fazendas ou nos abrigos de pedra, na Serra Branca, região de terras devolutas. Compravam o essencial: rapadura, carne-seca e farinha de mandioca. A água, consumida sempre de maneira parcimoniosa, era rara e vinha dos olhos d'água das serras.
Não eram bem-vindos nas cidades. Cheiravam mal, diziam. Não compreendiam que ficavam semanas e semanas nas tocas, com pouca água até para beber e trabalhavam debaixo do sol árido da caatinga. Usavam uma calça de couro para se proteger dos espinhos dos cactos existentes em abundância em seus caminhos de trabalho. Sem banho por semanas, com o suor e o cheiro do couro impregnados pelo couro, como cheirar diferente?
Diferente da extração da resina do pinheiro que conheço aqui no estado de São Paulo, onde se coloca um saco plástico no tronco para recolher o líquido que escorre da árvore ( as incisões são feitas no tronco), na maniçoba, as incisões eram feitas na raiz. Então se precisava cavar um buraco no chão, preenchê-lo com argila impermeável, deixar secar e - horas depois, fazer a incisão a extrair o líquido grudento.
A qualidade do látex extraído e seu consequente valor comercial vinham desse cuidado: não misturar o látex com terra. Os mais cuidadosos com a impermeabilização do buraco coletor conseguiam melhores preços. Depois de extraído, o látex era colocado para secar; formavam lapas que eram estocadas nos abrigos de pedra até terem um volume que justificasse a ida até a cidade para entregar para o armazém coletor.
Foram duas fases: a primeira vai do final do século 19 até os anos 20, quando a exportação da borracha correspondia a 62% das exportações do estado. Já a segunda fase se inicia em 1940, com a Segunda Guerra Mundial, quando os aliados ficaram sem o produto, a partir a dominação dos seringais asiáticos pelos japoneses e continuou até 1960.
A exploração da maniçoba ocorreu principalmente no sudeste do Piauí, nos municípios de São Raimundo Nonato, São João do Piauí, Caracol e Canto do Buriti.Que fique claro aqui que nenhum maniçobeiro ficou rico de trabalhar na atividade. Como os seringueiros da Amazônia ou os trabalhadores de cacau no sul da Bahia. O sistema de armazém, onde o intermediário fornecia o alimento a preços extorsivos, mantinha o trabalhador na escravidão disfarçada em dívida ao armazém.
Os maniçobeiros vinham de Pernambuco sozinhos, sem família. Ficavam alojados nos barracões nas fazendas ou nos abrigos de pedra, na Serra Branca, região de terras devolutas. Compravam o essencial: rapadura, carne-seca e farinha de mandioca. A água, consumida sempre de maneira parcimoniosa, era rara e vinha dos olhos d'água das serras.
Não eram bem-vindos nas cidades. Cheiravam mal, diziam. Não compreendiam que ficavam semanas e semanas nas tocas, com pouca água até para beber e trabalhavam debaixo do sol árido da caatinga. Usavam uma calça de couro para se proteger dos espinhos dos cactos existentes em abundância em seus caminhos de trabalho. Sem banho por semanas, com o suor e o cheiro do couro impregnados pelo couro, como cheirar diferente?
Diferente da extração da resina do pinheiro que conheço aqui no estado de São Paulo, onde se coloca um saco plástico no tronco para recolher o líquido que escorre da árvore ( as incisões são feitas no tronco), na maniçoba, as incisões eram feitas na raiz. Então se precisava cavar um buraco no chão, preenchê-lo com argila impermeável, deixar secar e - horas depois, fazer a incisão a extrair o líquido grudento.
A qualidade do látex extraído e seu consequente valor comercial vinham desse cuidado: não misturar o látex com terra. Os mais cuidadosos com a impermeabilização do buraco coletor conseguiam melhores preços. Depois de extraído, o látex era colocado para secar; formavam lapas que eram estocadas nos abrigos de pedra até terem um volume que justificasse a ida até a cidade para entregar para o armazém coletor.
8.9 - Piauí - A chuva chegou.
Choveu.
O inverno começou ontem na Caatinga com a chegada da primeira chuva. Milagrosa chuva! Linda chuva! O dia acordou cinzento e fresco, lá pelas onze horas foi escurecendo mais e ouvimos um trovão. Trovão! E a água começou a cair farta, fazendo enxurrada.
Na entrada da pousada eu ria sozinha, enquanto me molhava e tentava filmar todos os sinais da chuva.
Durou uma hora; o suficiente para lavar a cidade, lavar a nossa alma. Pura alegria de sentir, pois é muito mais que ver a minha primeira chuva no semiárido.
Mais tarde, num ida para conhecermos o aeroporto inacabado e inacabável, olhávamos para a vegetação com outro olhar. O que havia de verde realçava-se muito mais depois da poeira ter-se ido. As pequenas e as grandes flores ficaram mais visíveis. Vermelhos, rosas e amarelos ganhavam destaque.
Não vamos ver, pois estamos a partir, mas em três dias tudo muda; tudo ficará verde, espantando de vez a aridez da Mata Branca.
O inverno começou ontem na Caatinga com a chegada da primeira chuva. Milagrosa chuva! Linda chuva! O dia acordou cinzento e fresco, lá pelas onze horas foi escurecendo mais e ouvimos um trovão. Trovão! E a água começou a cair farta, fazendo enxurrada.
Na entrada da pousada eu ria sozinha, enquanto me molhava e tentava filmar todos os sinais da chuva.
Durou uma hora; o suficiente para lavar a cidade, lavar a nossa alma. Pura alegria de sentir, pois é muito mais que ver a minha primeira chuva no semiárido.
Mais tarde, num ida para conhecermos o aeroporto inacabado e inacabável, olhávamos para a vegetação com outro olhar. O que havia de verde realçava-se muito mais depois da poeira ter-se ido. As pequenas e as grandes flores ficaram mais visíveis. Vermelhos, rosas e amarelos ganhavam destaque.
Não vamos ver, pois estamos a partir, mas em três dias tudo muda; tudo ficará verde, espantando de vez a aridez da Mata Branca.
domingo, 9 de novembro de 2014
8.8 - Piauí - O Jegue
O jegue, mamífero da espécie Equus asinus, eh encontrado espalhado por todo o planeta e sempre associado a transporte de cargas, pela sua grande resistência. Claro que jegue eh uma denominação regional aqui do Nordeste. Alhures ele eh conhecido como jumento e me lembro dos portugueses chamando-o de asno.
Não consigo identificar a associação deste animal a adjetivos pejorativos ou associados a inferioridade que a sociedade lhe confere. Não conheço a história de onde tudo começou.
Esse bichinho de cara pacata, 400 quilos e 1,30 m de altura que durante a ocupação do nordeste pelo homem branco foi o seu meio de transporte, hoje eh um animal sem valor comercial, abandonado pelos seus donos nas estradas e terrenos baldios, a sua própria sorte.
Me pergunto se a espécie não corre risco de extinção. Ouvimos a história que o prefeito de São Raimundo encheu um caminhão de jegues e os soltou numa área do Parque. Eh a mesma história dos cachorros abandonados.
No Rio Grande do Norte há uma experiência interessante, criada a partir do alto número de acidentes envolvendo jegues e carros, com alto índice de mortes. Foi criada, a partir do Ministério Público, um Centro de Proteção a esses animais encontrados abandonados nas estradas com a presença de tratadores e veterinários. 900 jegues já foram capturados. Nenhum dono reclamou o patrimônio. Que fazer com eles? Ninguém sabe.
Outra coisa para se pensar: desde 2012 o Brasil assinou acordo comercial com a China para a venda de 200 mil jegues por ano para fins comestíveis. Hambúrguer de jegue! Parece que isso não pega no Brasil, pela barreira cultural.
- Comer carne de jegue?
- Nem morto!
Não consigo identificar a associação deste animal a adjetivos pejorativos ou associados a inferioridade que a sociedade lhe confere. Não conheço a história de onde tudo começou.
Esse bichinho de cara pacata, 400 quilos e 1,30 m de altura que durante a ocupação do nordeste pelo homem branco foi o seu meio de transporte, hoje eh um animal sem valor comercial, abandonado pelos seus donos nas estradas e terrenos baldios, a sua própria sorte.
Me pergunto se a espécie não corre risco de extinção. Ouvimos a história que o prefeito de São Raimundo encheu um caminhão de jegues e os soltou numa área do Parque. Eh a mesma história dos cachorros abandonados.
No Rio Grande do Norte há uma experiência interessante, criada a partir do alto número de acidentes envolvendo jegues e carros, com alto índice de mortes. Foi criada, a partir do Ministério Público, um Centro de Proteção a esses animais encontrados abandonados nas estradas com a presença de tratadores e veterinários. 900 jegues já foram capturados. Nenhum dono reclamou o patrimônio. Que fazer com eles? Ninguém sabe.
Outra coisa para se pensar: desde 2012 o Brasil assinou acordo comercial com a China para a venda de 200 mil jegues por ano para fins comestíveis. Hambúrguer de jegue! Parece que isso não pega no Brasil, pela barreira cultural.
- Comer carne de jegue?
- Nem morto!
sábado, 8 de novembro de 2014
8.7 - Piauí. André Pessoa
André Pessoa é um jornalista-fotógrafo. Lindo fotógrafo da Caatinga. Pernambucano de Recife, foi estudar fotografia e jornalismo em Curitiba. Não se encontrou ou não foi encontrado. Isolado, pelo sotaque arrastado a denunciar suas origens, se aliou a outros nordestinos que por lá andavam. Jovens de São Raimundo Nonato!
Vinha para cá nas férias.
Começou a andar pelo Parque, fotografando aqui e ali. Terminada a faculdade, veio morar aqui. Junto com outros jovens fundaram o movimento Raízes do Piauí, com objetivo de retirar essa terra do atraso e do modelo de desenvolvimento proposto pela oligarquia coronelista, isto eh, manter tudo como estava.
Tanto entusiasmo evidenciado pelo jornal criado como ferramenta estratégica contagiou a cidade. Em 1994, com o apoio da maioria da população e ampla aliança política, conseguiram eleger Padre Herculano como prefeito, derrotando a família Ferreira que há muitas gerações detinha o pode político da cidade.
Deu tudo errado.
Padre Herculano rejeita o apoio dos aliados para governar e se isola, construindo um dos maiores desastres políticos da cidade. André se afasta da política e se dedica a fotografar a Caatinga. Tanto fez isso, tantas imagens surpreendentes capturou em suas lentes que se tornou referência em Caatinga para toda a imprensa nacional e internacional.
Nenhum órgão de mídia vem para cá sem contatar André Pessoa. Por que eh inútil. Ninguém conhece a Caatinga melhor que ele.
Vejo sempre suas fotos no Flick.
www.flickr.com/photos/ andrepessoa
Quero todas exibidas em minhas paredes. Suas cores obtidas sempre naturalmente, sem ajuda de nenhum filtro, são quase inacreditáveis.
- " o segredo dessas cores eh a luz, ele me conta. Só fotógrafo das 5 as 7 horas da manhã e a partir das quatro da tarde. Ninguém me vê com câmera a essa hora....." ele me falou ontem, na sua casa na Serra Vermelha. André lançou um livro de fotos em 2014, chamado Piauí, com imagens da Natureza de todo o estado, a desafiar os que desqualificam a terra que adotou como sua.
Com o polêmico projeto de transposição do Rio São Francisco, outra oportunidade se ofereceu a André: documentar o trabalho de resgate da fauna. Outro livro está saindo desse trabalho; ainda mais bonito, impresso num papel que valoriza muito seu trabalho. Ontem vimos o boneco do livro. Ah, quero um.....
E ele fala entusiasmado dos seus planos de futuro: o viveiro de plantas específicas da Caatinga, a permitir o repovoamento das espécies e do Centro de Resgate de Animais Silvestres, uma iniciativa ainda embrionária a permitir que animais resgatados de caçadores ou outros incidentes sejam cuidados até que, recuperados, possam retornar a Natureza.
E - dentro de alguns dias - ele vai chamar crianças de uma escola para que soltem um tatu-bola já recuperado de volta a Natureza. Educação ambiental de forma concreta!
Sou fã do André, não há como não ser.
Neruda tem um texto sobre essa arte:
Vinha para cá nas férias.
Começou a andar pelo Parque, fotografando aqui e ali. Terminada a faculdade, veio morar aqui. Junto com outros jovens fundaram o movimento Raízes do Piauí, com objetivo de retirar essa terra do atraso e do modelo de desenvolvimento proposto pela oligarquia coronelista, isto eh, manter tudo como estava.
Tanto entusiasmo evidenciado pelo jornal criado como ferramenta estratégica contagiou a cidade. Em 1994, com o apoio da maioria da população e ampla aliança política, conseguiram eleger Padre Herculano como prefeito, derrotando a família Ferreira que há muitas gerações detinha o pode político da cidade.
Deu tudo errado.
Padre Herculano rejeita o apoio dos aliados para governar e se isola, construindo um dos maiores desastres políticos da cidade. André se afasta da política e se dedica a fotografar a Caatinga. Tanto fez isso, tantas imagens surpreendentes capturou em suas lentes que se tornou referência em Caatinga para toda a imprensa nacional e internacional.
Nenhum órgão de mídia vem para cá sem contatar André Pessoa. Por que eh inútil. Ninguém conhece a Caatinga melhor que ele.
Vejo sempre suas fotos no Flick.
www.flickr.com/photos/
- " o segredo dessas cores eh a luz, ele me conta. Só fotógrafo das 5 as 7 horas da manhã e a partir das quatro da tarde. Ninguém me vê com câmera a essa hora....." ele me falou ontem, na sua casa na Serra Vermelha. André lançou um livro de fotos em 2014, chamado Piauí, com imagens da Natureza de todo o estado, a desafiar os que desqualificam a terra que adotou como sua.
Com o polêmico projeto de transposição do Rio São Francisco, outra oportunidade se ofereceu a André: documentar o trabalho de resgate da fauna. Outro livro está saindo desse trabalho; ainda mais bonito, impresso num papel que valoriza muito seu trabalho. Ontem vimos o boneco do livro. Ah, quero um.....
E ele fala entusiasmado dos seus planos de futuro: o viveiro de plantas específicas da Caatinga, a permitir o repovoamento das espécies e do Centro de Resgate de Animais Silvestres, uma iniciativa ainda embrionária a permitir que animais resgatados de caçadores ou outros incidentes sejam cuidados até que, recuperados, possam retornar a Natureza.
E - dentro de alguns dias - ele vai chamar crianças de uma escola para que soltem um tatu-bola já recuperado de volta a Natureza. Educação ambiental de forma concreta!
Sou fã do André, não há como não ser.
Neruda tem um texto sobre essa arte:
"Pero, además, estos libros zoológicos y botánicos me apasionaron
siempre. Continuaban mi infancia. Me traían el mundo infinito, el laberinto inacabable de la naturaleza. Estos libros de exploración terrestre han sido mis favoritos y rara vez me duermo sin mirar las efigies de pájaros adorables de las islas o insectos deslumbrantes y complicados como relojes"
siempre. Continuaban mi infancia. Me traían el mundo infinito, el laberinto inacabable de la naturaleza. Estos libros de exploración terrestre han sido mis favoritos y rara vez me duermo sin mirar las efigies de pájaros adorables de las islas o insectos deslumbrantes y complicados como relojes"
Pablo Neruda, "El poeta no es una piedra
perdida", en Para Nacer he nacido
perdida", en Para Nacer he nacido
sexta-feira, 7 de novembro de 2014
8.6 - Piauí. Serra Branca, soberba!
Se no dicionário a palavra soberba significa arrogante, também significa deslumbrante, magnífico. Serra Branca e tudo isso..... Paredões de arenito cinzento e arredondados a surgir aqui e ali, ao longo do caminho dos manicobeiros, rota turística inaugurada em 31 de agosto de 2014, na extremidade noroeste do Parque Nacional da Serra da Capivara.
Imensidão de planuras de areia branca, dai o seu nome. A vegetação e intensa, de Caatinga arbórea, uma árvore juntinha da outra a s expandir por uns dois metros em direção ao céu. Tudo isso sem nenhuma folha, rede de galhos retorcidos e entrelaçados.
Se chover, em uma semana fica tudo verdinho de folhas miúdas que aparecem não sei donde. Mas desde sempre, os cactos permanecem verdinhos. MANDACARU, árvore grandona, de palmas largas e espinhos espaçados. Já, o XIQUE-XIQUE eh mais baixo, verde escuro, com muitos espinhos. Seus pés pequenos tem uma forma humanoide, 30 cm de altura com dois braços em diferentes posições, sempre dispostos a entabular uma conversa.
E em muitas dessas formações rochosas, de origem sedimentar, o vento e o antigo mar que aqui viveu esculpiram abrigos - formações convexas de grandes alturas onde o homem vivia há - no mínimo 25 mil anos. Deixou fogueiras, pedras lascadas usadas com ferramentas e desenhos. Muitos desenhos nas paredes. Registros de animais, cenas da vida cotidiana, de lutas, de rituais. Hoje vimos cenas impressionantes.
Quem era esse povo?
E na busca dessa resposta que cientistas, há 40 anos, pesquisam, escavam e se debruçam..... E escrevem teorias. Uma das mais interessantes eh a que Anne-Marie Pessis, um francesa que está estudando essas pinturas desde 1980, eh sobre a classificação desses estilos pictóricos.
Mas esse eh um assunto pra um pôster específico.
Imensidão de planuras de areia branca, dai o seu nome. A vegetação e intensa, de Caatinga arbórea, uma árvore juntinha da outra a s expandir por uns dois metros em direção ao céu. Tudo isso sem nenhuma folha, rede de galhos retorcidos e entrelaçados.
Se chover, em uma semana fica tudo verdinho de folhas miúdas que aparecem não sei donde. Mas desde sempre, os cactos permanecem verdinhos. MANDACARU, árvore grandona, de palmas largas e espinhos espaçados. Já, o XIQUE-XIQUE eh mais baixo, verde escuro, com muitos espinhos. Seus pés pequenos tem uma forma humanoide, 30 cm de altura com dois braços em diferentes posições, sempre dispostos a entabular uma conversa.
E em muitas dessas formações rochosas, de origem sedimentar, o vento e o antigo mar que aqui viveu esculpiram abrigos - formações convexas de grandes alturas onde o homem vivia há - no mínimo 25 mil anos. Deixou fogueiras, pedras lascadas usadas com ferramentas e desenhos. Muitos desenhos nas paredes. Registros de animais, cenas da vida cotidiana, de lutas, de rituais. Hoje vimos cenas impressionantes.
Quem era esse povo?
E na busca dessa resposta que cientistas, há 40 anos, pesquisam, escavam e se debruçam..... E escrevem teorias. Uma das mais interessantes eh a que Anne-Marie Pessis, um francesa que está estudando essas pinturas desde 1980, eh sobre a classificação desses estilos pictóricos.
Mas esse eh um assunto pra um pôster específico.
quarta-feira, 5 de novembro de 2014
8.5 - Piauí. Serra das Confusões
A Serra das Confusões, aglomerado de montanhas com esse nome saboroso, fica mais a oeste de São Raimundo Nonato, no município de Caracol. Abriga o Parque Nacional da Serra das Confusões que, na avaliação inicial dos arqueólogos, deveria junto com o parque da Serra da Capivara, ter formado uma única área de proteção ambiental. Isso porque na Serra das Confusões existe água perene, mesmo nos grades períodos de seca e os animais migram para la.
Com o desmembramento da área em dois parques, há um corredor , ironicamente chamado de " corredor ecológico" de livre acesso aos caçadores, onde os animais ficam muito vulneráveis.
Ironicamente, a SUDENE financiou a instalação de 2 grandes fazendas para a oligarquia política local para a implantação de gado e xxxxxx, que -previsivelmente - não prosperaram. Mais tarde o INCRA fez assentamentos de sem-terras no local e hoje, ao se olhar o local via satélite, e um imenso recortado de terra nua e vegetação escassa. Poucas casas.
A conferir.
Estamos partindo pará-la agora, sete horas da manhã, de um dia que promete sol e 37 graus de temperatura. Vamos com nosso carro até Caracol e, lá contratamos um guia em veículo traçado para ir ao parque.
Foi uma boa surpresa. Caracol tem 15 mil habitantes e hospeda um imenso parque, quatro vezes maior que o da Serra da Capivara. E um parque muito precário em estrutura, mas magedtoso no seu relevo. Os dobrões da Serra da Confusão, grandes paredões de arenito de cumes arredondados impressiona. Há grutas belíssimas e 3 sítios de pinturas rupestres abertos a visitação: a Toca do Alto do Capim, a Toca do Enoque e a Toca do Moquem.
Fátima Luz, arqueóloga que morreu há um mês, estava escavando o sítio ENOQUE, na Serra das Confusões, em um acidente de trânsito na estrada paraTeresina.
Ainda eh uma região de turismo futuro. Lá, poderemos falar:
- Quando estive lá, não havia nada.
Nem sei se somos privilegiadas de, aos 60 anos, desbravar pedaços de brasis que poucos andaram. Sobre todos os aspectos, valeu a pena!
Com o desmembramento da área em dois parques, há um corredor , ironicamente chamado de " corredor ecológico" de livre acesso aos caçadores, onde os animais ficam muito vulneráveis.
Ironicamente, a SUDENE financiou a instalação de 2 grandes fazendas para a oligarquia política local para a implantação de gado e xxxxxx, que -previsivelmente - não prosperaram. Mais tarde o INCRA fez assentamentos de sem-terras no local e hoje, ao se olhar o local via satélite, e um imenso recortado de terra nua e vegetação escassa. Poucas casas.
A conferir.
Estamos partindo pará-la agora, sete horas da manhã, de um dia que promete sol e 37 graus de temperatura. Vamos com nosso carro até Caracol e, lá contratamos um guia em veículo traçado para ir ao parque.
Foi uma boa surpresa. Caracol tem 15 mil habitantes e hospeda um imenso parque, quatro vezes maior que o da Serra da Capivara. E um parque muito precário em estrutura, mas magedtoso no seu relevo. Os dobrões da Serra da Confusão, grandes paredões de arenito de cumes arredondados impressiona. Há grutas belíssimas e 3 sítios de pinturas rupestres abertos a visitação: a Toca do Alto do Capim, a Toca do Enoque e a Toca do Moquem.
Fátima Luz, arqueóloga que morreu há um mês, estava escavando o sítio ENOQUE, na Serra das Confusões, em um acidente de trânsito na estrada paraTeresina.
Ainda eh uma região de turismo futuro. Lá, poderemos falar:
- Quando estive lá, não havia nada.
Nem sei se somos privilegiadas de, aos 60 anos, desbravar pedaços de brasis que poucos andaram. Sobre todos os aspectos, valeu a pena!
terça-feira, 4 de novembro de 2014
8.4 - Piauí. Nivaldo e Carmelita
Ele, 83 anos. Ela, 76.
Conheceram-se num forro há 60 anos atrás. Casaram-se e foram viver num sítio, perto do povoado de Vargem Grande, no sudoeste do Piauí.
Nivaldo, menino de roça, na época em que a manicoba, uma árvore daqui era usada para a extração do látex. Depois acabou quando a borracha da Ásia se tornou mais competitiva. Vivia andando pelas trilhas e olhando as tocas com as paredes pintadas.
- Pai, quem fez os desenhos na Toca, que não apaga nunca?
- foram os caçadores muito antigos, filho. Eles pintavam os bichos que tinham caçado.
Um dia, em 1973, foi chamado por Niede Guidon para trabalhar como guia, abrindo as picadas e conduzindo-as as Tocas.
-Fui o primeiro guia e até hoje ainda encontro sítios, ele falou.
- E uma terra encantada, disse dona Carmelita. Quando a gente pensa que tudo já foi achado, aparece mais um.
- E ela pagava bem. Pagava o dia trabalhado e por sítio descoberto. Depois que ela chegou, nunca faltou dinheiro em nossas vidas.
Conheceram-se num forro há 60 anos atrás. Casaram-se e foram viver num sítio, perto do povoado de Vargem Grande, no sudoeste do Piauí.
Nivaldo, menino de roça, na época em que a manicoba, uma árvore daqui era usada para a extração do látex. Depois acabou quando a borracha da Ásia se tornou mais competitiva. Vivia andando pelas trilhas e olhando as tocas com as paredes pintadas.
- Pai, quem fez os desenhos na Toca, que não apaga nunca?
- foram os caçadores muito antigos, filho. Eles pintavam os bichos que tinham caçado.
Um dia, em 1973, foi chamado por Niede Guidon para trabalhar como guia, abrindo as picadas e conduzindo-as as Tocas.
-Fui o primeiro guia e até hoje ainda encontro sítios, ele falou.
- E uma terra encantada, disse dona Carmelita. Quando a gente pensa que tudo já foi achado, aparece mais um.
- E ela pagava bem. Pagava o dia trabalhado e por sítio descoberto. Depois que ela chegou, nunca faltou dinheiro em nossas vidas.
domingo, 2 de novembro de 2014
8.3 - Piauí. São Raimundo Nonato - aeroportos e hoteis
Nada mudou nessa cidade de pouco mais de 32 mil habitantes, no sudoeste do Piauí, desde a última vez, há um ano atrás. Continua sem chover há meses. Faz o calor de sempre. A cidade é muito mal cuidada, como se os gerentes, que se chamam prefeitos, não tivessem nenhum compromisso ou responsabilidade nisso.
O que há de novo é o aeroporto: após 14 anos de construção (incluindo zilhões de reais desviados pelo governo do estado do Piauí) ficou pronto. Tem a forma de uma Capivara e - informação a confirmar - seu projeto é de um arquiteto de Teresina. Ainda não foi inaugurado. Há alguns trâmites: o mais importante será escolher as companhias aéreas a operar. Depois instalar a alfândega, polícia federal.... bombeiro.... essas coisas. Vamos ter de esperar uns 6 meses para tudo isso acontecer.
A próxima etapa será a construção dos megahotéis para receber turistas estrangeiros a visitar o Parque. Vimos na casa de Niéde Guidon de um desses projetos. O grupo Del Agnese, o mesmo que fez o projeto do Museu da Natureza entrou com um pedido do Banco Mundial, no valor do USD 50 milhões para construir um resort na Serra Vermelha.
Apreciamos todos os detalhes do projeto: fica no alto de uma cuesta e sua piscina de borda infinita se projeta além, no vazio, suspensa no ar. 37 suítes, me parece. Preciso conferir. E aí, eu percebo a falta de ousadia na cidade. Já era hora dos empresários locais estarem se organizando para receber tão sofisticado visitante. Cadê um embelezamento da cidade? Cadê o estímulo ao artesanato? Cadê os restaurantes fofinhos? Gisele, a arqueóloga da Universidade Federal do Vale São Francisco nos disse que os proprietários daqui não investem porque não tem certeza do retorno. De fato, nessa semana, a cidade está vazio de turistas.
Abstraindo-se dos problemas urbanos, o entorno é de uma beleza excepcional. A Caatinga nessa época de seca fica toda branca cobrindo os imensos chapadões. Os monumentos de pedra, em arenito amarelo ou vermelho, recoberto por milhares de figuras rupestres tornam esse ambiente único no mundo.
É a quarta vez que venho aqui e esse assunto cada dia me é mais familiar. E a cada dia, descubro novos detalhes onde o treinamento do olhar só faz ressaltar.
O que há de novo é o aeroporto: após 14 anos de construção (incluindo zilhões de reais desviados pelo governo do estado do Piauí) ficou pronto. Tem a forma de uma Capivara e - informação a confirmar - seu projeto é de um arquiteto de Teresina. Ainda não foi inaugurado. Há alguns trâmites: o mais importante será escolher as companhias aéreas a operar. Depois instalar a alfândega, polícia federal.... bombeiro.... essas coisas. Vamos ter de esperar uns 6 meses para tudo isso acontecer.
A próxima etapa será a construção dos megahotéis para receber turistas estrangeiros a visitar o Parque. Vimos na casa de Niéde Guidon de um desses projetos. O grupo Del Agnese, o mesmo que fez o projeto do Museu da Natureza entrou com um pedido do Banco Mundial, no valor do USD 50 milhões para construir um resort na Serra Vermelha.
Apreciamos todos os detalhes do projeto: fica no alto de uma cuesta e sua piscina de borda infinita se projeta além, no vazio, suspensa no ar. 37 suítes, me parece. Preciso conferir. E aí, eu percebo a falta de ousadia na cidade. Já era hora dos empresários locais estarem se organizando para receber tão sofisticado visitante. Cadê um embelezamento da cidade? Cadê o estímulo ao artesanato? Cadê os restaurantes fofinhos? Gisele, a arqueóloga da Universidade Federal do Vale São Francisco nos disse que os proprietários daqui não investem porque não tem certeza do retorno. De fato, nessa semana, a cidade está vazio de turistas.
Abstraindo-se dos problemas urbanos, o entorno é de uma beleza excepcional. A Caatinga nessa época de seca fica toda branca cobrindo os imensos chapadões. Os monumentos de pedra, em arenito amarelo ou vermelho, recoberto por milhares de figuras rupestres tornam esse ambiente único no mundo.
É a quarta vez que venho aqui e esse assunto cada dia me é mais familiar. E a cada dia, descubro novos detalhes onde o treinamento do olhar só faz ressaltar.
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