quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

10.8 - Patagônia. Despedindo-me de 2014.

Foi um grande ano e tenho toda a gratidão pelo que a Vida me deu. Há muito tempo vem dando.....



Pela manhã fomos conhecer a igreja de Ushuaia; igreja simples de poucos santos, La Virgen reinando sobre o altar central. Templos sao bons lugares para a reflexao e ali me quedé a pensar em todas as semanas deste ano. Muitas coisas boas me vieram à cabeca: novas pessoas que conheci, amigos que se tornaram proximos, minhas viagens - as longas, como à Turquia ou esta à Ushuaia ou - as proximas, as minhas idas à Parati ou à Casa das Hortênsias. Sao Raimundo Nonato

Agradeci também pela transformacao da Casa das Hortênsias, no belo lugar que ela se tornou e mais feliz fiquei quando pecebi que ela está dentro do complexo da Serra do Mar que a UNESCO declara como Patrimonio da Humanidade. E também me lembrei do meu trabalho de pesquisa sobre a Serra da Capivara, no Piauí, e no quao prazeroso tem sido esse trabalho......e como este ano foi frutífero!

Agradeci pela minha criatividade exposta nos mosaicos que criei e nos muitos projetos que estao na minha cabeca. 

E como sou grata pelo sucessos dos meus (no plural) tratamentos de saude. Ah, me lembrei do acidente, enquanto me recuperava de um deles, quando minha perna ficou presa na porta de um carro em movimento. E também preciso dizer que odiei a radioterapia e seus efeitos, muito mais emocionais que fisicos.

Escolhi fazer esta reflexão distante do meu cotidiano, numa cidade muito especial, onde o sol se porá depois das dez e meia da noite e será quase outro ano quando uma réstia de luz ainda estará na linha do horizonte, sobre o mar do Canal de Beagle. Faremos a ceia no restaurante Kaupé, num menu degustacao à base de peixes e frutos do mar e vinhos da Bodega Rutini.



¿Planos para 2015?
Não me faltam planos, tenho muitos e todos saborosos. Talvez não consiga fazer tudo, há muitos desejos na minha vida. Sei que preciso afiar a disciplina para o planejamento sintonizar com a ação. Sei do que sou capaz de fazer e até onde posso chegar. ¡Chegarei lá! Não obrigatoriamente dentro de 2015 mas a meu próprio tempo.

Gratidão e iluminação. ¡É isso!

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

10.7 - Patagonia. Navegando pelo Canal de Beagle

O Canal de Beagle, ao sul da Isla de la Tierra del Fuego, tem 240 quilômetros de comprimento e suas águas correm  do Pacífico para o Atlântico. Seu nome tem a ver com o navio real inglês Beagle, utilizado por Charles Darwin em sua expedição. Ela se iniciou em Devomport, Inglaterra, em dezembro de 1831 sob o comando do Capitão Fritz Roy. Passaram por estas águas um ano depois, exatamente em dezembro de 1832.


Pois bem, ontem - 182 anos depois - passamos pelos mesmos locais; a embarcação era outra: um moderno catamarã, confortável e aquecido. Mas a paisagem era a mesma. Águas escuras e geladas, terras argentinas de um lado e, chilenas, de outro. Fronteiras acordadas no "Tratado de Limites com Chile", em 1881. Chovia, ventava e fazia frio. Estar fora era um exercício de vontade e aventura.


Apareceram as aves, os comorones, depois os lobos-marinhos e, finalmente, os pinguins. Lobos-marinhos são animals bizarros: machos de 300 quilos, pernas curtas e nadadeiras ao invés de pés e mãos. Ficam lutando entre si o tempo todo para romper o tédio de ter por casa uma pedra inóspita rodeada de água gelada.







Já os pinguins nos foram vendidos como bichinhos afetivos e engraçadinhos. Gostamos deles a priori. Os que estavam nidando na ilha pertenciam à espécie de Magalhães, pequenos, com as listas negras no pescoço.

Mas, uma boa surpresa, um casal de pinguins Imperador, com faixas amarelas e 1 metro de altura passeou a nossa frente, sem se incomodar com a horda de turistas que os fotografavam.


É nesse canal que fica o Farol Le Eclesieurs, conhecido como o Farol do Fim do Mundo. Não que seja o farol mais ao sul, há um outro mais austral,mas em rochas perdidas no mar. Este seria o farol mais longinquo das terras habitadas.


A bordo do catamarã moderno, aquecido e confortável, com amplos vidros panorâmicos e café expresso, conheci o Fernando. Era americano e aposentado e estava fazendo parte da Rota Panamericana, a tal estrada que vai do Alasca à Ushuaia. Havia iniciado a viagem há 90 dias atrás, em Quito, no Equador, foi à Galapagos e depois - sempre de onibus - cruzado o Peru, a Bolivia, o Chile e Argentina. Ainda viajaria mais 2 meses, tendo a Ilha de Pascoa como um dos destinos.

Foto Edna e Antonieta, feita pelo Fernando

Catamarã ancorado na Estancia Haberton, no Canal de Beagle


Fernando me inspirou a fazer viagem semelhante em 2016 pela Asia. Será?

10.6 - Patagônia. O naufrágio do Monte Cervantes


Monte Cervantes era um navio de luxo, pertencente à companhia alemã Hamburg Sud, dedicado à cruzeiros pelo mundo. Operando desde 1927, tinha a capacidade para 1117 passageiros e uma tripulação de 330 homens. Como o Titanic, só que 25 anos depois e movido a óleo diesel, conseguindo desenvolver a velocidade de 15 nós.


O barco, em 1930, saiu de Buenos Aires em 15 de janeiro com destino à Terra do Fogo, pelas ilhas argentinas e chilenas. 

No dia 22 de janeiro aportou em Ushuaia, que - à época - tinha 800 habitantes, três ruas e seu malfadado presídio. Liberou os mil e tantos passageiros para uma passeio à cidade para esticarem as pernas em terra firme e, ao cabo de algumas horas, seguiu viagem com destino à Patagonia chilena, navegando pelo Canal de Beagle.

Na região das Ilhotas Eclaireurs, um monte de rochas onde fica o Farol do Fim-do-mundo,  num erro de rota, o navio bateu nas pedras que abriu um rombo de 20 metros em seu casco. Acidente Fatal!


Todos os passageiros foram resgatados nos 30 botes salva-vidas. Nenhum morreu. A única vítima foi o capitão do navio, Theodor Dreyer, que ainda estava no navio quando ele adernou.


Os 1346 náufragos ficaram acolhidos no pequeno povoado de Ushuaia por quase uma semana, quando foram resgatados por outro navio da mesma companhia, o Monte Sarmiento, que os levou de volta a Buenos Aires.


Por 14 anos, a metade do navio adernado ficou à vista no Canal de Beagle. Em 1943 começou a operação de mexer em seus destroços. 10 anos depois, ao ser rebocado, afundou definitivamente, estando até hoje sepultado a 100 metros de profundidade, no Canal de Beagle.


Toda esta história emocionante e pouco conhecida está contada no Museu Maritimo de Ushuaia.

domingo, 28 de dezembro de 2014

10.4 - Patagonia. Restaurante La Rueda, em Ushuaia

O restaurante La Rueda, numa das esquinas da Rua San Martin, em Ushuaia deve ser a minha primeira homenagem à gastronomia argentina. Um bom prato também é uma grande paisagem e conhecer cada um deles que o local oferece é percorrer a rota dos sentidos onde texturas, odores e sabores compoem a viagem.

É uma parrilla, o que significa um grande assador, com o fogo no centro e no chão, rodeados de carnes espetadas na vertical fica bem à frente, perfumando a entrada.

É um restaurante a preço fixo, 270 pesos por pessoa (tudo está muito caro nessa época em Ushuaia), quase uns R$ 70,00. Há um bufê de saladas onde uma, de grandes feijões brancos, me encantou. Depois é aquela festança: o cordero patagonico, os bifes de chorizo, o frango assado, a linguica... Cordero me bastou e, como é peculiar o seu sabor aqui.

Escolhemos vinhos patagônicos: gosto muito da Bodega del Fin del Mundo. Tomamos o Postales, 2013, um blend syrah e malbec. Redondo, perfeito com o carneiro.



Doce de leite, por fim. Só nos restava voltar ao hotel para la siesta.

10.3 - Patagonia. El Parque del Fin Del Mundo

O Parque Nacional de la Tierra del Fuego, nos arredores de Ushuaia concentra uma vegetação específica, bem adaptada ao frio intenso. São apenas três espécies de árvores, sendo que apenas uma pode ser aproveitada, a lenga. São árvores de troncos finos e crescimento muito lento, concentrado nos meses de outubro a abril, primavera e verão. Depois elas entram num ciclo vegetativo, interrompendo todo o metabolismo.A decomposição dessas árvores é muito lenta. Não há bactérias, elas sao destruídas pelo frio. Apenas os fungos fazem esse trabalho Então, aqui nos trópicos, o que se decompõe em um par de semanas, lá se gasta 40 - 50 anos para tal. 



Olha o fantasma do prisioneiro chinês em meio às arvores












Esse parque é parte intrínseca do surgimento de Ushuaia. No início do século XX, como estratégia de ocupação do lugar, momento seguinte à pactuação da fronteira com o Chile, o governo argentino decidiu - a exemplo de outros países - construir um presídio de trabalhos forçados. Tarefa para os próprios prisioneiros. Começou a funcionar em 1914.

Desse parque vinha a lenha necessária ao aquecimento e à cozinha; uma estrada de ferro foi construída para tal. A devastação nessas árvores de dez mil anos foi dramática. Ao andar pelo Parque vê- se centenas de troncos espalhados, imensos troncos de mais de 50 cm de diâmetro. Mesmo com a desativação do presídio em 1962 e a consequente interrupção da corte desenfreado das árvores, com a criação do parque no inicio da década de 90, a vegetação ainda não se recuperou. Talvez precise de um século para isso.




Hoje o parque é um centro de turismo e a ferrovia e o seu pequeno trem a vapor, uma rota de passeio. Todo o parque é contornado pela Cordilheira Fueguina, o finzinho dos Andes. Belos cumes manchados de neve brilhando ao sol de um dia de verão. Rios e lagos, alimentados pelas geleiras na primavera tornam esse lugar um dos mais belos e intensos que já fui.





Mas o homem continuou fazendo bobagens: introduziu castores, oriundos do Canadá, com o objetivo de comercializar sua pele. Trouxe poucas espécies, cerca de 25 casais. Sem predadores, hoje é uma praga no parque e em toda a região. Mais de 200 mil bichinhos se espalham , desorganizando a natureza. Não sei se eles já têm resposta para isso.

Nesse parque fica a Baía Lapataia, uma das pontas do continente. É nela que termina a Ruta Nacional N3, prolongamento da estrada que liga o Alasca à Ushuaia, num total de 17.848 quilômetros. Nem me espantei tanto (mas um pouquinho, sim) que há pessoas que percorrem essa rota de ponta a ponta por todos os meios de transporte possivel: moto, bicicleta, carro, trailer.... penso que ninguém fez este roteiro a pé ainda.



Há ainda um outro local interessante neste parque: El Correio del Fim del Mundo. É para lá que iam as cartas destinadas aos marinheiros, aos tripulantes dos barcos que tentavam fazer a ligaçao entre os dois oceanos. O Posto de Correio funciona até hoje. 



Mandamos postais que um dia chegarão aos nossos lares, repetindo a história milenar do homem que parte,mas anseia o tempo todo por notícias do local a que - de fato - pertence. Mesmo sendo um homem dos mares. 

E, um lugar desses, -claro - é uma das sete portas de Atlântida. Já conheço a de Machu Pichu, a de São Thomé das Letras e a de Ushuaia. Onde estarão as outras quatro? Pergunto aos céus e ausculto o centro da Terra...




sábado, 27 de dezembro de 2014

10.2 - Patagonia. Por-do-sol



Nove da noite em Ushuaia. Ainda temos sol. Brilhante, refletindo na baía de pequenos barcos adormecidos. É um pôr-do-sol longínquo, aquele do fim-do-mundo! No porto, quase bloqueado por containers, o apito de um navio soa melancólico. 

O momento tem a solenidade que a geografia lhe dá! A pequena baía, o Canal de Beagle mais ao fundo, as montanhas escuras, pontiagudas, com manchas brancas de neve por contraste... No verão, a agudez dos picos se evidencia. Triangulares, poligonais, uma geometria sem fim.







O grande navio de cruzeiros manobrou e - como um animal gigante - se afasta do porto rumo a uma noite de mares gelados. Me vem à mente o poema de Fernando Pessoa, Lisboa Revisitada. Acho que é este o nome. Ele fala do delírio de seus pensamentos enquanto um paquete deixa o porto. Se a internet daqui fosse boa, releria este poema agora, seria a melhor forma de homenagem à Ushuaia.


Viajo com a Eta, amiga querida de tantos anos, tantas histórias e - incrivelmente - poucas viagens. Nos afinamos nesse trançar pernas nos caminhos da vida, nas ruas de Ushuaia. Ela dorme agora, desmaiada da partida em plena madrugada.

Dez e meia da noite. O sol acabou de se por.
Mesmo muito cansada, me recuso a sair deste lugar enquanto a noite não chegar. Lá fora deve estar uns 4 graus! Bebo Fernet com Coca-Cola, o drink argentino por excelência. Peço centolla para o jantar e ausculto os meus desejos: que mares ainda me esperam?

Bem, o poema que me lembrei não era o Lisboa Revisitada. Nao me lembro do titulo e nao conseguirei descobri-lo agora mas este é - também um dos grandes poemas de Pessoa. Merece ser registrado.


LISBON REVISITED (1926)


Nada me prende a nada. 
Quero cinqüenta coisas ao mesmo tempo. 
Anseio com uma angústia de fome de carne 
O que não sei que seja - 
Definidamente pelo indefinido... 
Durmo irrequieto, e vivo num sonhar irrequieto 
De quem dorme irrequieto, metade a sonhar. 

Fecharam-me todas as portas abstratas e necessárias. 
Correram cortinas de todas as hipóteses que eu poderia ver da rua. 
Não há na travessa achada o número da porta que me deram. 

Acordei para a mesma vida para que tinha adormecido. 
Até os meus exércitos sonhados sofreram derrota. 
Até os meus sonhos se sentiram falsos ao serem sonhados. 
Até a vida só desejada me farta - até essa vida... 

Compreendo a intervalos desconexos; 
Escrevo por lapsos de cansaço; 
E um tédio que é até do tédio arroja-me à praia. 
Não sei que destino ou futuro compete à minha angústia sem leme; 
Não sei que ilhas do sul impossível aguardam-me naufrago; 
ou que palmares de literatura me darão ao menos um verso. 

Não, não sei isto, nem outra coisa, nem coisa nenhuma... 
E, no fundo do meu espírito, onde sonho o que sonhei, 
Nos campos últimos da alma, onde memoro sem causa 
(E o passado é uma névoa natural de lágrimas falsas), 
Nas estradas e atalhos das florestas longínquas 
Onde supus o meu ser, 
Fogem desmantelados, últimos restos 
Da ilusão final, 
Os meus exércitos sonhados, derrotados sem ter sido, 
As minhas cortes por existir, esfaceladas em Deus. 

Outra vez te revejo, 
Cidade da minha infância pavorosamente perdida... 
Cidade triste e alegre, outra vez sonho aqui... 

Eu? Mas sou eu o mesmo que aqui vivi, e aqui voltei, 
E aqui tornei a voltar, e a voltar. 
E aqui de novo tornei a voltar? 
Ou somos todos os Eu que estive aqui ou estiveram, 
Uma série de contas-entes ligados por um fio-memória, 
Uma série de sonhos de mim de alguém de fora de mim? 

Outra vez te revejo, 
Com o coração mais longínquo, a alma menos minha. 

Outra vez te revejo - Lisboa e Tejo e tudo -, 
Transeunte inútil de ti e de mim, 
Estrangeiro aqui como em toda a parte, 
Casual na vida como na alma, 
Fantasma a errar em salas de recordações, 
Ao ruído dos ratos e das tábuas que rangem 
No castelo maldito de ter que viver... 

Outra vez te revejo, 
Sombra que passa através das sombras, e brilha 
Um momento a uma luz fúnebre desconhecida, 
E entra na noite como um rastro de barco se perde 
Na água que deixa de se ouvir... 

Outra vez te revejo, 
Mas, ai, a mim não me revejo! 
Partiu-se o espelho mágico em que me revia idêntico, 
E em cada fragmento fatídico vejo só um bocado de mim - 
Um bocado de ti e de mim!...

10.1 - Patagônia. Aerolineas Argentinas

Aerolineas Argentinas é o mais fácil caminho para se chegar à Patagônia, partindo de São Paulo, no meu caso, do aeroporto de Guarulhos. Mas não deve ser o mais pontual, para mim, não foi.

Tenho uma história dramática com essa companhia.

Ano de dois mil e qualquer coisa; Alexandre voltava da Tailândia; passagem de um ano. Ele tinha 17 anos e viajava sozinho. Localizei-me no tempo: era 2001. Pois bem, a companhia faliu naquela semana e todos os seus aviões ficaram retidos e estacionados nos aeroportos argentinos, todos os vôos cancelados. 
Alexandre só descobriu isso em Sidney, na Austrália, na metade do caminho. A Qantas - australiana - que fazia o vôo compartilhado não assumiu o problema e empurrou para a agencia de viagens aqui no Brasil. Ela também lavou as mãos...
Ficamos uma semana brigando com um monte de gente, no tempo que a internet nem era tão eficiente assim, usando telefone e nao conseguimos nada. Foi necessário comprar uma nova passagem e ninguém assumiu o ônus. 

Ano seguinte, a Aerolineas foi comprada pelo grupo espanhol Marsans e - em junho de 2008, estatizada no governo de Cristina Kirchner. 

Vista aérea do Aeroparque margeado pelo Rio da Prata
Nossa conexão em Buenos Aires ocorreu no aeroporto Aeroparque, no centro da cidade, em frente ao rio da Prata. Equivalente ao aeroporto de Congonhas, é um aeroporto antigo, mas foi reformado recentemente e está razoavelmente equipado, limpo e sua fachada de vidro faz moldura ao rio. Dá uma boa impressão Tudo rápido, sem filas como as boas conexões devem ser.

Mas o voo para Ushuaia atrasou em 20 minutos. Já havia atrasado mais de meia hora no Brasil. Por fim embarcamos para uma viagem de 3,5 horas, rumo a cidade mais austral do planeta. Voamos pela costa atlântica, com a linha de terra à direita. Imenso azul! Avião cheio, poucos brasileiros, meia-dúzia no máximo. Americanos, franceses, ingleses, chineses, suecos, italianos e os próprios argentinos. 
Vista da costa argentina pela janela do avião.
Réveillon aqui deve ser um ritual, penso eu. Ninguém faz tão longa viagem por nada. Há de haver uma energia muito especial neste local. A conferir nos próximos dias. Agora é desfrutar!

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

9.4 - Minas. Alta gastronomia mineira.....

Escrito por Alexandre Righetti

E lá vou eu: à tarefa que me cabe... Os pitados culinários do blog...

A verdade é que viajo para comer, não há paisagem ou expedição mais deliciosa do que as que tenho à mesa....

Hoje abraçamos o Nirvana no barzinho do seu Zé, em Sobradinho.... Depois de peripécias 4 x 4 nos caminhos de São Thomé encostamos, cansados, em uma portinhola daquelas que se enrolam em si mesmas.... Queríamos uma cerveja bem gelada.... Na hora em que fui pegar a segunda.... Seu Zé colocava uma bandeira de linguiça, daquelas que brilham e reluzem de tanto óleo..... Deliciosas, sem nenhum tipo de nitrato, nitrato, conservantes AB1, AB4.... Apenas a a carne. Depois o pastel recheado de queijo Minas, que se derrete de maneira diferente que o muçarela. Só vendo... e experimentando. Torresmo sem gordura, de casca pururuca e enrolada. Miudezas a custar 50 centavos a unidade, Uma fartura!




À noite, algo mais gastronômico num dos três restaurantes Alquimia da cidade, o mais charmoso, numa casa de pedra. Comida mineira tradicional: frango recheado com farofa de farinha de milho e assado na hora, arroz, feijão e couve. O frango com ora-pro-nobis fica para outra vez, lembrando que é bom voltar. Sobremesa? doce-de-leite com queijo, uai!





9.3 - Minas. Cachoeiras, poços e grutas.

o Thomé das Letras é uma pequena cidade; em pouco tempo tudo já foi visto:as ruas de pedra, as duas igrejas, as casas enfeitadas de gnomos. As lojinhas místicas. Então existem 360 graus de montanhas de Minas Gerais. E foi em busca de cachoeiras que saímos pela manhã.





Primeiro a cachoeira da Eubiose, perto da cidade. Pequena, agradável e sem muitos superlativos. Depois, a poderosa Véu da Noiva. Dava para ficar ali o dia inteiro, absorvendo os detalhes da paisagem, a energia da água que cai, nadando nos poços... Íngreme trilha! Cadê o gestor de turismo dessa cidade? Fiquei imaginando como faz falta em lugares assim pessoas ousadas que - a partir de algum órgão da sociedade civil faça o que o turismo requer, independente do poder público. Jericoacoara, no Ceará deve ter algo assim, existe um gerente oculto que garante uma funcionalidade e uma estética muito interessantes.





Descobrir Sobradinho, um dos distritos de São Thomé das Letras. Seu Centro Holístico, que esqueci o nome com seus templos de cúpulas arredondadas para circular a energia. Vão celebrar nos próximos dias o Solstício de Verão. Celebram com festivais todas as datas cósmicas, celtas ou seja lá que se encaixe nisso. 





Quero voltar aqui no Equinócio de Outono. 

Fazer o caminho torto do poço das Esmeraldas e topar com o Bar do Bilu. E as esmeraldas foi apenas um projeto frustrado de mineração. Descobrir na conversa com outros turistas a existência do Poço Verde, de longe o lugar mais relaxante do dia, nadar em águas tépidas e verdes. Esse poço também foi um acidente de mineração: ao se procurar algo, se perfurou o lençol freático; tudo se inundou de água doce, formando uma piscina muito legal. Hoje - em período de seca intensa -  o local está dividido em 3 lagoas, mas em tempos de água plena, é um lago só.




E a gruta do Labirinto. Nem entrei. Depois de conhecer as grutas de Iporanga, no Petar e as cidades subterrâneas da Capadócia, sobrou o que? Alexandre foi. Escuro e vazio.

Ah, o bar do Zé, em Sobradinho: iguarias da cozinha mineira: pastel de queijo Minas, linguiça, torresmo. Cervejas. Tudo perfeito e sem culpa.




Findar o dia no Cruzeiro, tomando prosecco ruim da vinícola Aurora (o melhor disponível no supermercado da praça) e vendo o sol se por em laranjas e dourados. Ontem os tons eram vermelho e fogo. Fotos para relembrar mais tarde.



quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

9.2 - Minas. São Thomé das Letras

São Thomé das Letras, em Minas Gerais, é a sexta cidade mais alta do Brasil, com 1291 metros de altitude. A primeira, Campos de Jordão, tem 1650 metros.
Ela fica a 230 quilômetros de Pindamonhangaba, no ponto mais alto da Serra da Mantiqueira, vindo pela rodovia Dutra até Cruzeiro e depois BR 345, passando por Passa Quatro, Caxambu, depois a BR 383 até Cruzília... até São Thomé  É um subida sem fim, desde Cruzeiro... curvas o tempo todo. Os últimos 35 quilômetros são em estrada de terra, de boa qualidade.

Paramos para conhecer Passa Quatro e nos surpreendemos. Cidade mineira e de montanha, com história construída em cima de uma estrada de ferro. Hotéis grandes, estilo resort - com 4-5 andares enfeiam a paisagem de montanhas, mas garantem bom fluxo de turistas o que permite a cidade oferecer bons cafés, charmosas lojas de artesanato mineiro e as maravilhas de doce e queijos.



Encontrei belas peças de decoração nas lojinhas e quando se tem uma casa nova pra montar, tudo é interessante. Fizemos degustação numa casa de queijos e o meia-cura ganhou fácil. Cremoso, lembrava um brie.





Mas era hora de seguir viagem e - se quiséssemos chegar a São Thomé a tempo de encontrar alojamento,  tínhamos de voltar à estrada. Passamos direto por Caxambu e o seu café no Hotel Glória e por Cruzília e seus queijos.O queijo prato foi inventado aqui, por emigrantes noruegueses. Almoço, então, em restaurante de beira da estrada, bem rapidinho.

E a estrada de terra chegou, bem ali em Cruzília  onde o caminho se entorta para a esquerda. Foram 35 quilômetros que pareceram muito mais pela baixa velocidade. Veja só, passam poucos ônibus por ali, então se pede carona na estrada. A primeira foi a Neuza, com seu jeito de falar arrastado. Estava esperando algum transporte há meia-hora, em pleno sol. Deixamo-la a uns 20 km à frente. Depois foi a dona Ana, que aproveitava o dia de folga para visitar a mãe. As duas nos referiram a Pousada Arco-Íris, então foi para lá que fomos.

Primeiras surpresas: a pedra são tomé, tão exposta em jardins e piscinas do nosso cotidiano vem exatamente de lá, de pedreiras imensas bem nos limites da cidade. Ver toda a cidade calçada com elas mostrou uma solução urbana de sustentabilidade interessante. Muito mais, muitas casas foram, no passado construídas com essas placas de pedras empilhadas, sem argamassa alguma. A pedra - ao corte - é macia como pão, muito fácil de trabalhar. Carreguei um monte para meus mosaicos.









Claro, o por-do-sol no parque municipal, na pirâmide ou no cruzeiro é obrigatória. Todo mundo vai. Então se percebe que - exatamente aqui - é um dos lugares mais altos do Brasil (1291 metros), com uma visão de 360º das montanhas mineiras. Nunca tinha visto tal amplitude de horizontes.

Claro, nenhum gnomo, nada que nos falasse da tal energia cósmica que rola ali. Um lugar bonito, estupendo, mas só isso.