Chegamos ontem à São Luiz vindas de Parnaíba por um ônibus noturno em 9 horas de viagem. Ônibus-leito confortável com ar condicionado em intensidade máxima, obrigando durante a viagem o uso de casaco de lã e meias. Um momento tenso para nós pelo risco de contaminação pelo COVID, já que o ar condicionado não permitia a troca de ar. Usamos a máscara PFF2 e confiamos na vacina.
Chegamos cansadas ao hotel às seis da manhã e nos foi permitido o check-in imediato com o acréscimo de meia diária. Hotel antigo com a manutenção descuidada principalmente no banheiro, onde os rejuntes estavam cobertos de mofo. Esse é o risco de reservar baseando-se apenas em fotos.
São Luís tem 1 milhão de habitantes, já o Maranhão tem 9 milhões. Penso que já comentei que na capital há uma classe média vigorosa que faz rodar a economia do estado. Já os outros 8 milhões de maranhenses estão esparramados por um território amplo sem outros polos importantes de geração de riqueza. No sul do estado se está plantando soja, uma novidade dos últimos anos, mas a curva da desigualdade social segue intacta.
Começamos nosso dia andando pelo centro histórico. Vale lembrar que São Luiz foi no século 19, uma próspera capital ligada ao ciclo do algodão. A opulência econômica desse período deixou como legado uma patrimônio arquitetônico admirável. E a busca desse patrimônio norteava nossa andança. Foi com imensa alegria que constatei a revitalização desse espaço urbano, tão inspirado na arquitetura portuguesa.
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Rua Portugal - com casario de azulejos bem preservados |
A rua mais marcante de casario de azulejos, a rua Portugal, lembrou a Alfombra de Lisboa, a mãe inspiradora. Em ambas há um ar nostálgico de uma estética muito específica, a azulejaria.
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Casarão neoclássico em frente à Casa das Tulhas |
O Centro Histórico vem sendo paulatinamente recuperado, restaurado e o seu maior problema nos tempos de abandono - a violência, vem sendo eficientemente combatida com o policiamento preventivo presente; tornou-se um local seguro o que é muito positivo para o turismo. O calor abafado e a irregularidade das ruas, as escadarias atrapalham um pouco esse "redescobrir o centro histórico".
Andamos sem rumo entre o casario do século 19, e eu me entusiasmava ao percebê-lo muito mais conservado que eu imaginava. A Rua do Giz está sendo pintada inteiramente; é considerada uma das ruas mais bonitas do país; queria vê-la repaginada. Vontade de retornar em alguns meses. Será?
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Rua do Giz em processo de restauração |
Há nomes saborosos: Casa das Tulhas, Rua Portugal, Rua do Giz, Rua do Sol, Rua do Egito...
O governo estadual lançou um programa "Adote um Casarão", onde a iniciativa privada restaura e ocupa um imóvel em troca de benefícios. Hoje foi inaugurado um deles.
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Foto do Instagram do Governador |
Há muitos monumentos a serem visitados no Centro Histórico se quisermos ter um olhar um pouco mais profundo sobre o tempo passado e como a cultura presente interage com ele.
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Sé de São Luís. Majestosa e bem cuidada. |
A Sė, monumento imponente na mesma praça do Palácio dos Leões, sede do governo do Estado, estava fechada. Nosso tempo e energia são menores que os desafios culturais que nos deparamos.
Outro dia no Centro Histórico, um a mais.
A chuva e a preguiça mudaram nossos planos; ao invés de Alcântara, voltamos ao Centro Histórico. Meu coração se alegra por ver essa cidade cuidada, todas as fraturas sendo reparadas. Ruas limpas, sem lixo, sem risco.
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Escadaria no Centro Histórico de São Luís. |
Agora, sentadas no
Cafofo da Tia Dica, aguardamos nosso almoço: peixe à moda da casa com arroz de cuxá e vatapá e colocamos a conversa em dia. Os maranhenses almoçam aqui, os turistas também. Sempre são boas essas paradas longas para absorver as informações, comentar o que se viu.
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Restaurante Cafofo da Tia Dica, onde baixamos a guarda e nos aglomeramos em local fechado com ar condicionado. Entusiasmo arriscado! |
Depois, andar um pouco mais. Sem destino.
Impossível não fazer comparações com outra viagem, 40 anos atrás, onde o centro histórico estava destruído, Há uma sensação boa de que é possível reconstruir esse país, sensação que vai de encontro à destruição atual quem vem sendo feita cotidianamente por um presidente insensato.