A horda de turistas que o visita não é das mais civilizadas. Pelo caminho, cruzando as dunas do parque, dentro de um veículo cadastrado para a rota, além da paisagem impressionante das dunas e de alguns jegues pastando, era possível ver garrafas de cerveja atiradas ao léu, embalagens e sacolas plásticas. Triste, mas principalmente preocupante. Jeri cresceu exponencialmente: passou de 100 mil visitantes ao ano em 2010 para 1,2 milhões em 2020; está na moda e isso traz um impacto ambiental considerável. O turista que visita Jeri tem o perfil da aventura. O exotismo do lugar não permite só contemplar e usufruir, é preciso consumir produtos que envolvam alguma adrenalina e muitas fotos para exibir em cada rede social. Esse é o mantra!!!!
Muitos produtos foram criados artificialmente para atrair esse consumidor moderno e superficial. Lagoas falsas à custa de drenagem de água de outros lugares com tobogãs de plástico colorido e tirolesas montadas sobre paus grosseiros e inseguros... decoração com flores de plásticos em galhos secos para o turista ser fotografado.
Nos últimos meses foram inaugurados três locais totalmente artificiais, que são vendidos ao turista incauto como paraísos: o Buraco Azul - uma lagoa artificial, cavada abaixo do nível en no mesmo estilo e piorado com, pasme você! uma cachoeira artificial, o Lagun Beach Club. O terceiro se chama The Alchymist Beach Club (com uma estrutura de resort) na Lagoa do Paraíso.
A vila de Jericoacoara está dentro do Parque Nacional de Jericoacoara e - está, por enquanto - imune a esses artificialismos caça-níqueis a Las Vegas. Então, os investidores usam as áreas vizinhas ao parque nos municípios limítrofes como Camocim, Cruz e Caiçara. Estes municípios arcam com o impacto negativo do turismo de massa, sem o bônus financeiro, concentrado em Jeri.
Ninguém mora na vila de Jericoacoara!
Ninguém!
Durante a pandemia, quando o local foi fechado para o turismo por algumas semanas, tudo ficou em silencio, desértico. Dava para ver as estrelas no céu. Como a vila é pequena, todos os imóveis são ocupados pelos turistas; o preço do imóvel expulsou o pescador e o trabalhador para os vilarejos vizinhos. Quando se caminha cedinho pela vila percebe-se as jardineiras, buggies e motos chegando e trazendo os trabalhadores: garçonetes, atendentes de lojas, cozinheiros, arrumadeiras, motoristas, instrutores de kitesurf, todos chegando para cumprir seu papel na cadeia do turismo. Cadeia de baixos salários e concentradora de renda, com muita coisa em mãos do capital estrangeiro.
Nada sei da rede sanitária da vila. As pousadas e hotéis maiores usam poço artesiano. Fossa? Será que o lençol freático já está contaminado? Considerando que todo o espaço é plano e ao nível do mar, como fica o esgoto? Perguntas que ninguém faz.... A reciclagem é recente e há campanhas públicas estimulando-a.
500 toneladas de lixo reciclável por mês!!!!! |
Por tudo isso, por conhecer o paraíso de 10 anos atrás, eu chorei por Jeri.
Dá vontade de chorar até sem conhece.
ResponderExcluirObrigada, Edna, por compartilhar mais esse descalabro
Ah, de mais brasileiros tivessem esse olhar perspicaz e amoroso para nosso País…!!
ResponderExcluirQue pena, esse “ parque de diversões “ ridículo num lugar tão lindo
Que pena
( gostei muito do texto, deu para “ ver” o quedou descrito- chorei também)
ResponderExcluirTriste ver o que o turismo de massa faz com os lugares! Ainda mais dentro de um parque nacional!
ResponderExcluirmuito triste, Lívia. Há muita coisa se perdendo. Descobri que em Maragogi - AL também tem um balanço enfeitado com flores de plástico e as pessoas pagam para tirar fotografias.
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