Jangadas estacionadas na praia de Guajiru |
Jeri me provocou um grande tédio, uma sensação que não há mais nada para ver, mas Guajiru me deu aquele prazer de descobrir locais onde a vida se conta por detalhes.
Recifes provocam diferentes colorações na superfície do mar. |
O vento não para aqui, nem em praia alguma do Ceará. Niéde Guidon tem a teoria que foram os ventos do Ceará que trouxeram o homem da África para cá há 50 mil anos. E é esse vento constante que faz a marca do estado: dunas por todo o litoral, águas mornas, praias de orlas largas e retas, árvores de tronco inclinado que cresceram sob a pressão do vento. E uma brisa fresca que sopra por todo o dia deixando o ambiente muito confortável. E quando a noitinha chega, se vê os moradores colocando as cadeiras na frente da casa para um dedo de prosa e usufruir o frescor da noite.
Os terrenos em frente ao mar estão completos de mansões suntuosas e fechadas, a maioria pertencentes a europeus que com o cambio a favor, constroem pequenos castelos para aproveitarem seu mês de férias, mas, a partir da segunda rua (Guajiru não tem mais que5 ou 6 ruas) as pessoas locais se apropriam do espaço para viver seu mundo, sua vida. Vida simples de casas de teto baixo, muitas flores nos quintais, poucos e pequenos mercados. Dois ou três restaurantes à beira mar se encarregam dos turistas com peixadas e moquecas grossas de leite de coco in natura. Resgatei uma lembrança perdida: em 1985 fui junto com a Marga para o litoral de Alagoas. Fizemos Porto Calvo, Japaratinga e Maragogi, quando tudo aquilo eram apenas vilarejos perdidos. Na pensão (ainda não havia o conceito de pousada) de Japaratinga as cozinheiras extraiam o leite de coco duma maneira muito exótica. Será que consigo descrever? A lembrança é tão nítida!:
A garota estava sentada sobre uma estaca de madeira duns 50 cm de comprimento com um raspador curvo na ponta. Ela inclinava o corpo e segurando um coco com uma das mãos, ia rodando-o no raspador. Numa bacia no chão caíam as raspas de coco. Tudo aquilo era espremido num pano donde saía o leite de coco de "primeira prensa"; o mais viscoso.
Não vi esse raspador em Guajiru, mas o leite de coco das peixadas, com certeza é da primeira prensa.
Caules tortos pelos ventos |
Eu viveria alguns meses em Guajiru; confesso que estava fazendo as contas da viabilidade financeira disso e duma provável rotina lá. Seria um ambiente muito propício a escrever um livro, meditar e chegar mais perto da minha essência.
Imensidão de paisagem |
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