O Zabelê era um povoado isolado no meio do Parque Nacional da Serra da Capivara, a uns 40 km de São Raimundo, com umas 50 casas. Não tinha nada além de água, caça abundante e terra boa para plantar, o que, no sertão do Piauí significa o paraíso para o sertanejo. Roças de mandioca, feijão e milho.
Tinha uma escola, igreja e um cemitério.
As terras vieram de tradição sucessória que teve início com a obtenção de terras como recompensa por serviços prestados na conquista dos índios, no contexto do regime de posses, no período de vazio jurídico, entre o fim do sistema de sesmarias e a Lei de Terras de 1850. (Maria Sueli Rodrigues de Sousa)
Seu beneficiário e fundador foi Vitorino Dias Pais Landim, hoje o ancestral comum. e que “tomou parte na conquista dos índios que habitavam essas caatingas” . Na verdade, o “tomar parte” é eufemismo, pois o ancestral é memorizado como tendo tomado parte de fato do quase massacre que expulsou os nativos do lugar. (Maria Sueli Rodrigues de Sousa). Ele foi agraciado com três fazendas: Serra Nova, Boqueirãozinho e Serra Talhado.
Viveram por gerações no local e, como a exploração da maniçoba exigiu mais terras para ampliação do cultivo, novas pessoas chegaram, principalmente de Pernambuco, resultando na criação da comunidade Zabelê.
Com a criação do parque a permanência das pessoas nesse vilarejo se tornou insustentável, pois elas viviam exatamente no meio do parque. A sua retirada foi traumática e gerou uma ferida incurável na memória dos interessados. Mais ainda, a ferida permanece aberta até hoje em toda a população local. Primeiro porque foram retirados compulsoriamente Segundo, porque - pela legislação de terras vigente no país - eles só foram indenizados (e isso foi muito pouco) pelas benfeitorias executadas na terra. Como não tinham títulos de propriedade da terra, era impossível ao Estado pagar por algo que, by law, era seu.
A figura jurídica que representava o estado era o INCRA (?) mas o ônus político caiu sobre Niéde Guidon, pois era ela - na realidade prática - quem exercia a pressão para a transferência. Algo que lhe custa caro até hoje.
Além disso, o tempo burocrático-administrativo e o tempo real dos acontecimentos foi dessincronizado. O espaço entre o desalojamento e o reassentamento em outro local foi grande demais. Deu tempo suficiente para o sentimento de perda se cristalizar no imaginário dos envolvidos. Quando as novas terras, novas casas e novas oportunidades chegaram - era tarde demais.
Mesmo em melhores condições atuais que na vida do Zabelê, o que se perdeu foi um espaço sacralizado pelas tradições. Mais que isso, a violência da retirada compulsória ficou gravada em fogo na memória. E isso não tem volta.
A lenda de Zabelê
Segundo Bugyja Britto, a lenda de Zabelê aconteceu a poucos quilômetros de Oeiras, exatamente na confluência dos rios Itaim e Canindé.
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