sábado, 7 de agosto de 2021

23.7 - Maranhão. Irane

Irane é uma sertaneja nascida num povoado pertinho daqui. Nem sequer sei seu sobrenome. Até os 17 anos trabalhou na roça, na lida com a enxada. Casou, teve filhos... 
Em algum momento decidiu que iria mudar seu destino: iria ter uma pousada em Atins! Começou a construir algo ambicioso, dois andares. Terminou o primeiro andar onde instalou meia dúzia de suítes. O andar de cima é um esqueleto de paredes sem telhado.

Perto de seus concorrentes onde o dinheiro chega em euros de uma bolada só, a Pousada Céu Aberto é algo simplório. Desde a leveza dos cortinados sobre as camas que lhes dá um ar antigo e etéreo, até os galhos de árvore destinados aos cabides.
Cortinado na pousada Céu Aberto
Falta tudo na pousada Céu Aberto, se entendermos tudo como os itens de conforto e sofisticação: não tem ar condicionado, nem ventiladores de teto, não tem frigobar nem chuveiro quente e os móveis e objetos de decoração carregam a singeleza de quem só conhece as coisas necessárias.

Não sei se Irane vai vencer essa desigualdade que a separa das outras pousadas. Estou torcendo para que ela tenha sucesso. Ela trabalha muito, desde as cinco da manhã e faz tudo sozinha: o café da manhã, a recepção dos passageiros na lancha, lava a roupa, limpa os quartos. Depois vai para a cozinha e junto com uma cozinheira e uma garota no salão dá conta do restaurante.....

O fato de sermos as únicas hóspedes e os outros quartos estarem fechados me trazia a questão do orçamento. Será que ela estaria conseguindo girar a pousada? Será que os hóspedes teriam a sensibilidade para perceberem a garra dessa mulher ou apenas reclamariam da ausência do frigobar?
Redário na varanda em frente aos quartos.

Será que - deitados nas redes da varanda - iriam perceber os pés de feijão plantados num pedaço do terreno, herança de um tempo onde o sustento vinha da terra?

Meus melhores votos de sucesso para a pousada Céu Aberto. 




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