domingo, 4 de janeiro de 2015

10.12 - Patagonia. A cultura da ovelha na Patagônia







O primeiro domingo de 2015 - este primeiro fim-de-semana do ano - um tempo de transição entre o o momento que se foi e o que virá, surgiu esplêndido na Província de Santa Cruz, na estepe patagônica.


Ainda sob o encantamento dos glaciares e - inviabilizada a viagem até o Parque Nacional de Torres del Paine, no Chile - nos dispusemos a conhecer uma estância que lidou, no passado, com a cultura de ovelhas e o comércio de sua lã e hoje, aposta no turismo. Seu principal produto a ser mostrado é o modo de vida do estancieiro  no inicio do século XX na região.





A estepe da Patagônia é uma região plana, imensa, abrangendo todo o sul do continente; desértica. Pouca chuva, muito vento e frio. Nenhuma árvore suporta condições tão adversas; vemos apenas pequenos arbustos retorcidos, espaçados e tristes. Mas as ovelhas, sim. Bichinhos resistentes com uma grossa camada de lã a protegê-las, vivem na Patagônia com a mesma desenvoltura que viviam na Inglaterra e Irlanda.


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A ovelha não é um animal nativo. Foram introduzidas a partir das Ilhas Malvinas, pelos ingleses. As primeiras famílias de ingleses chegaram às Malvinas em 1933 e a partir daí, estrategicamente, entregavam as ovelhas aos argentinos (os gaúchos) e levavam a lã para as fábricas inglesas.

Desde 1876, quando Francisco de Souza Moreno, "el perito", terminou a cartografia da Patagônia e resolveu as pendências de fronteira com o Chile,  houve uma ocupação estratégia da região. Ocupação embasada na distribuição de terras para a cultura de ovelhas, já que a agricultura é impossível aqui pela hostilidade da natureza. As terras eram concedidas por 10 anos como arrendamento e depois, se cumprida as exigências legais,  tornava-se propriedade do ocupante. Parece que as ovelhas vinham juntas pois era a única forma de ocupação possível nessa terra gelada e ventosa. Dai, o nome Estância, que era um lugar para "se estar".

Ah, vou contar, o vento aqui "és inomináble, porque se lo llamamos, ele viene".

O auge da economia ovina foi durante a Primeira Guerra Mundial; a Europa comeu suas ovelhas e ficou sem lã e precisou importar lã da Argentina. Os estancieiros ganharam muito dinheiro nessa época. Tosquiavam, enchiam as carretas com elas e partiam em caravana para Porto de Rio Gallegos, um pouco mais ao norte, onde ela embarcava com destino à Inglaterra.

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Os navios, tal como a história de Paraty, para fazer lastro, vinhas carregados de chapas corrugadas de zinco, que jogavam no porto enquanto se empapuçavam de lã. Os gaúchos, então, usavam este material para fazer casas. Todas as casas típicas da província de Santa Cruz, onde se localiza o Porto de Rio Gallegos são desse material. Se houvesse dinheiro, faziam um recheio de papel, lã e madeira; senão apenas a chapar fria a suportar até os 20 graus negativos que se faz no inverno.




Essa eu não sabia, a ovelha não tem dentes na arcada superior, então ela pasta arrancando a grama com raízes. Como aqui, pelo frio, o tempo de crescimento dum vegetal é muito curto, o dano ambiental é considerável. Então, uma lei federal limitou o número de animais por hectare. Menos ovelhas, menos rendimento, mais estancieiros trocando ovelhas por gado.

A grande tragédia aqui, na província de Santa Cruz, aconteceu na década de 90, do século passado: uma erupção vulcânica em 1991, do vulcão Hudson, cobriu os pastos de cinzas, ocasionando grandes perdas. Para piorar, em 1995 tiveram o pior inverno dos últimos 100 anos, além de mais intenso, as nevadas chegaram precocemente, 4 meses antes, pegando os estancieiros desprevenidos, com suas ovelhas em pastos abertos e longínquos, - os pastos de verão. Não houve tempo de transportá-las para local mais abrigado e 1,5 milhões de ovelhas morreram.

Dos 7 milhões de animais, restam hoje apenas dois milhões.

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