13.1 - Ásia

O primeiro post que inaugura uma viagem é sempre reflexivo, nele tento entender a escolha do roteiro, filtrar as informações e os detalhes operacionais a viabilizar a entrada num avião dentro de algumas horas.

A primeira lembrança me remete a um barco navegando no Canal de Beagle, na Terra do Fogo, no Reveillon de 2014. Sentado ao meu lado havia um americano viajando sozinho - uma viagem sabática - segundo ele, de 4 meses, pela América do Sul. Foi uma conversa inspiradora. Naquele momento decidi que teria a minha viagem sabática.

E assim planejei: escolhi a Ásia por vários motivos: é uma região barata para viajar, é desafiadora por seus costumes, sua geografia, sua religião.... havia muita coisa a me atrair. O destino, a realidade, o tempo político no Brasil acabaram alterando os planos iniciais: ao invés de uma longa viagem de uma mulher aposentada, decidi manter o vínculo com o trabalho e fazer esta viagem por módulos. Uma maneira de manter alguma receita regular a viabilizar novas viagens. 

Parto hoje à noite, pela Ethiopian Airlines para um longo percurso: atravesso o Atlântico em linha reta até o Togo, na costa oeste da África. Lomé é sua capital com um mercado de feitiçaria. Deu medo! Fico só 2 horas no aeroporto e - no mesmo avião, atravesso toda a África continental - sigo para Addis Abeba, capital da Etiópia para a segunda escala. Queria ficar uns 4 dias nessa cidade, há muita coisa interessante para ver: a menina dos meus olhos é o esqueleto da Lucy, o hominídeo mais antigo do mundo - com 11 mil anos! em exposição no Museu de História Natural, mas o custo da passagem aumentaria em 800 dólares. A Etiópia vale uma viagem de 3 semanas e já entrou nos meus planos.

Nesse percurso já foram umas 15 horas de viagem. Troco de avião na Etiópia e sigo para Bangkok, meu primeiro pé na Ásia. Rever a Tailândia 15 anos depois! Acabei de ver as condições climáticas: sol e 39º C de temperatura. Não vai ser fácil! Bangkok é só a porta de entrada, uma parada de 2 dias para recuperar-me da viagem, pedir as bençãos de Buda levando incenso a um templo e orar por iluminação.

Mapa do Sudeste Asiático

O roteiro é intrincado: Tailândia, Myanmar, Laos, Cambodja e Vietnã. Entro por inúmeras fronteiras e saio por outras, mais desconhecidas ainda..... Nos últimos dias, quando estava comprando os vôos intermediários, queria desistir e ficar em casa dormindo. Não foi um planejamento fácil, só foi possível porque tenho uma certa estrada em roteiros off road . Acabei de me lembrar dum dia, andando pela Moldávia romena, logo depois do fim do socialismo do Ceaoucescu (acho que é assim que se escreve), quando o guia, num inglês arrastado me mostrou - em plena zona rural - a montanha divisória de fronteira com a Ucrânia.
- You are a brave woman, ele me disse. Acabei concordando, afinal nos anos 90 se aventurar sozinha por aquelas paragens para ver uma igreja bizantina pintada 600 anos atrás era muita bravura mesmo. O espírito é o mesmo, os templos são diferentes mas o que leva o homem a construir templos é o mesmo movimento - sempre, a comunicação com o Sagrado.

É disso que vou atrás: dos movimentos humanos e culturais que levam diferentes populações a se expressarem com singularidade. Cada dia será um dia único, intenso e especial. Divido com vocês esses dias...

Boa viagem, garota!