sexta-feira, 13 de agosto de 2021

23.15 - Maranhão - Raposa, o último destino.

Raposa é um dos três municípios da Ilha de Uapon-Açu, a 27 km de São Luís,  com cerca de 30 mil habitantes, conhecida por suas rendeiras. Nem é verdade, o tempo engoliu as rendeiras (hoje só 3 mulheres se dedicam à atividade) e as poucas lojas vendem rendas do Ceará.

Mesmo assim, é um prazer entrar nessas lojas. Mesmo sabendo que toalhas bordadas tem grande chance de ficar nas gavetas, eu acabo comprando e ficando feliz. A origem dessa comunidade é cearense: foram pescadores de Acaraú (CE), que fugindo da seca de 1940, se estabeleceram no local e foram atraindo outros conterrâneos. Com rios e manguezais, a cultura da pesca predominou por um lado e as rendas, por outro, tecidas pelas mãos hábeis das rendeiras que acompanhavam o núcleo fundador.

Quando viajo, sempre tento sair do circuito turístico e andar por onde as pessoas vivem e, assim, captar a essência de seu modo de vida. Tá certo que o turismo é um fator de desenvolvimento. Quando esse desenvolvimento é planejado, as chances de sucesso são grandes, mas quando o movimento é espontâneo e as pessoas e os serviços acontecem por pressão do mercado, vai surgindo um cenário desorganizado, feio e muitas vezes, em condições sanitárias precárias. Essa equação da qualidade dos serviços versus respeito ambiental e preservação paisagística está longe de ser resolvida no Brasil, quer em lugares pobres como o Maranhão ou em locais mais ricos como o litoral norte de São Paulo. O homem, à custa de divertir-se, suja muito, destrói muito. E isso é sempre triste, é o lado escuro de cada viagem.... Tudo isso para dizer que Raposa, com um lado para o mar e outro para o mangue é uma cidade periférica, metade dormitório de São Luís e metade vila de pescadores; mal cuidada, pobre, enfim, maltratada. Seus indicadores confirmam essa impressão que o passeio me deu: IDH=0,626. Apenas 6,5% da população tem emprego formal e - mesmo assim, os salários são baixos; metade da população ganha 1.6 salários mínimos. Assusta saber que 50% da população está abaixo da linha da pobreza e só 17% tem esgoto tratado, contaminando as águas do rio Paciencia. Contaminação que se estende aos manguezais, com o descarte aleatório dos resíduos (orgânicos ou recicláveis).

O lado turístico, esquecendo o impacto ambiental que vem causando, é promissor: perto da capital, com belas praias, dunas e manguezais, atrai pessoas e cria trabalho e renda para os moradores. O núcleo urbano apresenta um conjunto paisagístico que - apesar da simplicidade da construção - tem grande valor patrimonial e cultural.

Se Raposa fosse um caso isolado, seus problemas seriam fáceis de resolver: uma presença intensa do estado, sob a forma de projetos ambientais, investimentos em educação, saúde e moradia resolveriam a questão socioambiental e devolveriam ao local a beleza que a Natureza lhe conferiu.

Há tanto trabalho para reconstruir o Brasil!!!!!

 

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