terça-feira, 10 de agosto de 2021

23.11 - As rendeiras de Ilha Grande

Ilha Grande - Piauí é um pequeno município vizinho à Parnaíba onde uma atividade manual - a confecção da renda de bilro - resiste como um soluço.

BILROS são a ferramenta para a confecção da renda. Seu manuseio é complicadíssimo; é uma atividade de tradição familiar, se aprende a arte em criança, ao pé das mães e avós em frente às almofadas. É uma habilidade que está se perdendo; as mulheres adultas a adquiriram, mas não a exercitam e a geração seguinte, enredada pela tecnologia, abriu mão desse saber secular. 

A Renda de Bilros é produzida sobre um almofada onde o enchimento é feito por materiais como crina, serragem, capim ou algodão. A almofada é a base para a confecção do trabalho e deve ficar apoiada num suporte de madeira; por cima da almofada fica um molde com o desenho a ser seguido com o trançar dos bilros.
Os bilros são objetos de madeira, com uma pequena cabeça nas extremidades na qual é enrolada a linha para a execução do trançado. Na produção de uma peça geralmente se usa vários bilros, sempre aos pares.

As rendas são valorizadas por serem delicadas e únicas; por exigirem atenção e perfeição e - principalmente - por serem totalmente confeccionadas à mão. Deste requintado trabalho são produzidas toalhas de mesa, vestidos, blusas e muito mais, de acordo com a criatividade da artesã. Alguns estilistas preocupados em criar um estilo brasileiro têm utilizado a renda de bilros em passarelas com grande efeito estético.

renda de bilro na alta costura
A arte é encontrada principalmente em vilarejos e cidades praianas, por exemplo Sambaqui (SC), Ilha Grande (PI) e Raposa (MA).

HISTÓRIA
De acordo com pesquisadores a renda de bilros se originou na Europa por volta do século XV, em local incerto. Há trabalhos na Itália, Inglaterra, Espanha e Bélgica. Não existem dados concretos que comprovem, ao certo, o local da primeira produção. A tradição no Brasil surgiu a partir do século XVII, por meio dos portugueses. Na Eslovênia, esta atividade é muito comum entre a população. O artesanato está presente no vestuário, acessórios, utilidades domésticas... Atualmente no país existem cerca de 120 sociedades voltadas à renda de bilros. A UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciencia e a Cultura integrou a renda de bilros da Eslovênia como Patrimônio Cultural da Humanidade em 2018. (Fonte: https://www.infoescola.com/cultura/renda-de-bilros).

Foi em Parnaíba que ouvimos falar das "rendeiras de Ilha Grande". Descobrimos a existência de uma associação -  Associação das Rendeiras dos Morros da Mariana,  mais conhecida como a Casa das Rendeiras

Casa das Rendeiras de Ilha Grande
Ela reúne cerca de 60 mulheres e funciona como espaço de trabalho e local de exposição e vendas. "A associação já ganhou duas vezes o Prêmio Top 100 de Artesanato, que é promovido pelo Sebrae Nacional. Foram as mulheres da Casa das Rendeiras quem produziram o vestido que a primeira-dama Marisa Letícia usou na posse do segundo mandato de Lula. Esse vestido foi todo confeccionado com 1.500 flores de camélia em renda de bilro. Essa produção foi tão admirada que, na época, o vestido de Marisa Letícia fez com que gerasse a encomenda para São Paulo de vários vestidos de noivas com flores de camélia tecidos pelas artesãs piauienses. O contato pode ser feito pelo telefone (86)99430-7742, com Socorro Reis, que é a presidente da associação."(Fonte: conheçaopiaui.com)

Fomos até lá num domingo de manhã e qual não foi a nossa frustração ao encontrar a casa fechada. Na porta, uma folha de papel colada com os telefones de duas rendeiras: Francisca e Socorro. Socorro é a presidente. Ligamos e não conseguimos contato. Enquanto isso, o motorista que havia nos levado - esperto como ele só - já estava perguntando aqui e ali e acabou nos levando para a casa de dona Laurinha, uma rendeira (tel. 86-99426.4609). Ela nos recebeu com sorrisos de gentileza e - rapidinho trouxe sua almofada para a varanda, avisando de antemão que nada estava à venda, pois estava trabalhando em duas encomendas.

Dona Laurinda e suas rendas - Ilha Grande

Curiosamente, Dona Laurinha executa dois trabalhos simultâneos; um durante o dia e outro à noite. Assim, consegue lidar com o pressa de seus clientes. Nada para comprar, ficou a alegria de estar em contato com uma manifestação profunda da cultura popular, quase um ato de resistência nos tempos modernos.

Edna e Márcia na sombra de Ilha Grande






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