sexta-feira, 13 de agosto de 2021

23.15 - Maranhão - Raposa, o último destino.

Raposa é um dos três municípios da Ilha de Uapon-Açu, a 27 km de São Luís,  com cerca de 30 mil habitantes, conhecida por suas rendeiras. Nem é verdade, o tempo engoliu as rendeiras (hoje só 3 mulheres se dedicam à atividade) e as poucas lojas vendem rendas do Ceará.

Mesmo assim, é um prazer entrar nessas lojas. Mesmo sabendo que toalhas bordadas tem grande chance de ficar nas gavetas, eu acabo comprando e ficando feliz. A origem dessa comunidade é cearense: foram pescadores de Acaraú (CE), que fugindo da seca de 1940, se estabeleceram no local e foram atraindo outros conterrâneos. Com rios e manguezais, a cultura da pesca predominou por um lado e as rendas, por outro, tecidas pelas mãos hábeis das rendeiras que acompanhavam o núcleo fundador.

Quando viajo, sempre tento sair do circuito turístico e andar por onde as pessoas vivem e, assim, captar a essência de seu modo de vida. Tá certo que o turismo é um fator de desenvolvimento. Quando esse desenvolvimento é planejado, as chances de sucesso são grandes, mas quando o movimento é espontâneo e as pessoas e os serviços acontecem por pressão do mercado, vai surgindo um cenário desorganizado, feio e muitas vezes, em condições sanitárias precárias. Essa equação da qualidade dos serviços versus respeito ambiental e preservação paisagística está longe de ser resolvida no Brasil, quer em lugares pobres como o Maranhão ou em locais mais ricos como o litoral norte de São Paulo. O homem, à custa de divertir-se, suja muito, destrói muito. E isso é sempre triste, é o lado escuro de cada viagem.... Tudo isso para dizer que Raposa, com um lado para o mar e outro para o mangue é uma cidade periférica, metade dormitório de São Luís e metade vila de pescadores; mal cuidada, pobre, enfim, maltratada. Seus indicadores confirmam essa impressão que o passeio me deu: IDH=0,626. Apenas 6,5% da população tem emprego formal e - mesmo assim, os salários são baixos; metade da população ganha 1.6 salários mínimos. Assusta saber que 50% da população está abaixo da linha da pobreza e só 17% tem esgoto tratado, contaminando as águas do rio Paciencia. Contaminação que se estende aos manguezais, com o descarte aleatório dos resíduos (orgânicos ou recicláveis).

O lado turístico, esquecendo o impacto ambiental que vem causando, é promissor: perto da capital, com belas praias, dunas e manguezais, atrai pessoas e cria trabalho e renda para os moradores. O núcleo urbano apresenta um conjunto paisagístico que - apesar da simplicidade da construção - tem grande valor patrimonial e cultural.

Se Raposa fosse um caso isolado, seus problemas seriam fáceis de resolver: uma presença intensa do estado, sob a forma de projetos ambientais, investimentos em educação, saúde e moradia resolveriam a questão socioambiental e devolveriam ao local a beleza que a Natureza lhe conferiu.

Há tanto trabalho para reconstruir o Brasil!!!!!

 

quinta-feira, 12 de agosto de 2021

23.14 - Maranhão Gastronômico. E viva a patinha de caranguejo!

Ah, falar da gastronomia maranhense!!!! Que diversidade, que intensidade de sabores! Nenhum dia nossa mesa foi semelhante ao nosso cotidiano, àquilo que cozinhamos e ao qual nosso paladar está habituado. Baseado na proximidade com o mar, o mangue e a tradição sertaneja da carne de sol e o queijo de coalho, os pratos disponíveis, pelo menos nos restaurantes, refletem essa realidade.

O ingrediente mais representativo , sem dúvida, é a vinagreira. Vegetal nativo da África, se adaptou bem no Maranhão. A curiosidade é que o hibisco e a vinagreira vêm da mesma planta, um é a flor e o outro, a folha. A vinagreira é servida refogada sozinha ou misturada ao arroz: o ARROZ DE CUXÁ!!!!

Caranguejo: com a proximidade do mangue, o caranguejo é outro ingrediente muito popular; é servido natural, só cozido em água ou leite de coco (huummm!), para se comer com as mãos e lamber os beiços. A patinha de caranguejo, empanada e frita (há uma técnica nesse processo) é a melhor iguaria da viagem, sem dúvidas. Mas há outras maneiras de servir a carne de caranguejo: num refogado com tomate que eles chamam de casquinha, mesmo que não o sirvam na casquinha. Chegamos a comer este mesmo refogado, misturado à claras em neve e assado, no que eles chamam de torta de caranguejo.

Patinha de caranguejo
Peixe: no estado do Maranhão o sistema de produção pesqueira artesanal é dominante e conduzido tanto em águas estuarinas quanto marinhas. Vários fatores geográficos fazem com que a costa maranhense seja grande produtora de pescado. Os peixes mais comuns são: pescada branca, pescada amarela, pargo e robalo. Claro, a pesca é sempre uma atividade de risco ambiental; hoje se pesca mais do que a capacidade dos peixes se reproduzirem; então, a população mundial de peixes está diminuindo e algumas espécies à beira do colapso. O Maranhão tem um programa de governo que investe em fazendas de produção de peixe: tem crédito, e assistência técnica. A economia do pescado cresceu, mas não conheço  detalhes sobre o quanto esse programa é ambientalmente correto. O peixe como base gastronômica se mostra em receitas tradicionais muito semelhantes no mundo todo: ou empanamos e fritamos (ideal para um quiosque na praia), ou o grelhamos ou ele cai num molho grosso, com leite de coco - a moqueca.
Peixe grelhado no jantar em Barreirinhas

Lagosta: ah, a emblemática lagosta da costa norte-nordeste do Brasil! Tendo o Ceará como principal produtor, responsável por 65% das exportações, sua pesca, basicamente artesanal por armadilhas, se espalha por toda a costa nordeste, Maranhão inclusive. Mas é uma situação tensa: hoje se vive uma situação de pré-colapso pois a pressão pesqueira acima do sustentável, tem reduzido o tamanho das lagostas pescadas, comprometendo a capacidade da espécie em se reproduzir e equilibrar o povoamento. 
Eu queria comer lagosta nessa viagem, uma lagosta cujo sabor estava marcado em meu cérebro e por qual eu busco há muito tempo. Vou continuar buscando porque foi frustrante comer lagosta. Como é um produto de exportação, o que fica no mercado local é o refugo. E os molhos em que ela foi servida não se encaixavam no sabor que eu buscava.....
Lagosta servida num quiosque de praia com vinagrete e farinha amarela.
Camarão: Outra iguaria nordestina farta, o camarão está presente um todos os menus. Ambientalmente, sofre das mesmas pressões dos peixes e lagostas. Muito apreciado, aparece em várias apresentações: empanado, grelhado, na moqueca e misturado a outros ingredientes, coo o abacaxi.
Risoto de camarão com abacaxi, em Atins - MA
Nos Lençóis Maranhenses, especificamente em Atins eu comi um camarão grelhado muito semelhante a outro que comi na Malásia (e duvido que o sertanejo, dono do restaurante tivesse alguma troca cultural com o país da Ásia). O camarão era aberto ao meio, grelhado e servido com um molho picante. A diferença era que o molho malaio tinha amendoim; de resto eram semelhantes. Minha teoria de que o preparo da comida é um arte universal e seu padrão se repete nas diversas culturas com apenas alteração de detalhes.
Camarão grelhado em Atins
Polvo e marisco: ah, a moqueca de mariscos do restaurante Cheiro Verde!!!! Foi um dos pratos que faz parte das boas lembranças, junto com a patinha de caranguejo de Parnaíba. Demoramos para encontrar um bom marisco, a iguaria está ausente na maioria dos cardápios. Já o polvo está bem disseminado; para o bem e para o mal. Arroz de polvo......

Arroz de polvo em São Luiz

E só para terminar, vou citar os acompanhamentos clássicos desta viagem: a farinha amarela (nada sei sobre ela), o pirão feito com caldo de peixe e farinha de mandioca e o vinagrete onde se vai pimentão, tomate, cebola, folhas de coentro e pimenta de cheiro. Ah! que maravilha!!!! Ainda tem baião de dois e carne de sol com pirão e queijo coalho.

E viva a comida maranhense!!!!!



quarta-feira, 11 de agosto de 2021

23.13 - Maranhão. São Luís

Chegamos ontem à São Luiz vindas de Parnaíba por um ônibus noturno em 9 horas de viagem. Ônibus-leito confortável com ar condicionado em intensidade máxima, obrigando durante a viagem o uso de casaco de lã e meias. Um momento tenso para nós pelo risco de contaminação pelo COVID,   já que o ar condicionado não permitia a troca de ar. Usamos a máscara PFF2 e confiamos na vacina.
Chegamos cansadas ao hotel às seis da manhã e nos foi permitido o check-in imediato com o acréscimo de meia diária. Hotel antigo com a manutenção descuidada principalmente no banheiro, onde os rejuntes estavam cobertos de mofo. Esse é o risco de reservar baseando-se apenas em fotos.
São Luís tem 1 milhão de habitantes, já o Maranhão tem 9 milhões. Penso que já comentei que na capital há uma classe média vigorosa que faz rodar a economia do estado. Já os outros 8 milhões de maranhenses estão esparramados por um território amplo sem outros polos importantes de geração de riqueza. No sul do estado se está  plantando soja, uma novidade dos últimos anos, mas a curva da desigualdade social segue intacta.

Começamos nosso dia andando pelo centro histórico. Vale lembrar que São Luiz foi no século 19, uma próspera capital ligada ao ciclo do algodão. A opulência econômica desse período deixou como legado uma patrimônio arquitetônico admirável. E a busca desse patrimônio norteava nossa andança. Foi com imensa alegria que constatei a revitalização desse espaço urbano, tão inspirado na arquitetura portuguesa.

Rua Portugal - com casario de azulejos bem preservados
A rua mais marcante de casario de azulejos, a rua Portugal,  lembrou a Alfombra de Lisboa, a mãe inspiradora. Em ambas há um ar nostálgico de uma estética muito específica, a azulejaria.
Casarão neoclássico em frente à Casa das Tulhas
O Centro Histórico vem sendo paulatinamente recuperado, restaurado e o seu maior problema nos tempos de abandono - a violência, vem sendo eficientemente combatida com o policiamento preventivo presente; tornou-se um local seguro o que é muito positivo para o turismo. O calor abafado e a irregularidade das ruas, as escadarias atrapalham um pouco esse "redescobrir o centro histórico". 
Andamos sem rumo entre o casario do século 19, e eu me entusiasmava ao percebê-lo muito mais conservado que eu imaginava. A Rua do Giz está sendo pintada inteiramente; é considerada uma das ruas mais bonitas do país; queria vê-la repaginada. Vontade de retornar em alguns meses. Será?
Rua do Giz em processo de restauração

Há nomes saborosos: Casa das Tulhas, Rua Portugal, Rua do Giz, Rua do Sol, Rua do Egito...
O governo estadual lançou um programa "Adote um Casarão", onde a iniciativa privada restaura e ocupa um imóvel em troca de benefícios. Hoje foi inaugurado um deles.
Foto do Instagram do Governador

Há muitos monumentos a serem visitados no Centro Histórico se quisermos ter um olhar um pouco mais profundo sobre o tempo  passado e como a cultura presente interage com ele.
Sé de São Luís. Majestosa e bem cuidada.

A Sė, monumento imponente na mesma praça do Palácio dos Leões, sede do governo do Estado, estava fechada. Nosso tempo e energia são menores que os desafios culturais que nos deparamos.

Outro dia no Centro Histórico, um a mais.
A chuva e a preguiça mudaram nossos planos; ao invés de Alcântara, voltamos ao Centro Histórico. Meu coração se alegra por ver essa cidade cuidada, todas as fraturas sendo reparadas. Ruas limpas, sem lixo, sem risco. 
Escadaria no Centro Histórico de São Luís.
Agora, sentadas no Cafofo da Tia Dica, aguardamos nosso almoço: peixe à moda da casa com arroz de cuxá e vatapá e colocamos a conversa em dia. Os maranhenses almoçam aqui, os turistas também. Sempre são boas essas paradas longas para absorver as informações, comentar o que se viu.
Restaurante Cafofo da Tia Dica, onde baixamos a guarda e nos aglomeramos em local fechado com ar condicionado. Entusiasmo arriscado!


Depois, andar um pouco mais. Sem destino.
Impossível não fazer comparações com outra viagem, 40 anos atrás, onde o centro histórico estava destruído, Há uma sensação boa de que é possível reconstruir esse país, sensação que vai de encontro à destruição atual quem vem sendo feita cotidianamente por um presidente insensato.

23.12 - Parnaíba, o Museu do Mar

Inaugurado em 2 de julho de 2021, há menos de dois meses, o Museu do Mar do Delta "Seu João Claudino", em Parnaíba promete ser o maior atrativo turístico-cultural do Delta. O museu, concebido pelo arquiteto Paulo Vasconcelos, faz parte, de maneira correta, da revitalização do patrimônio arquitetônico do Porto das Barcas, histórico testemunho da atividade comercial do Piauí nos três séculos passados..

O espaço cultural localizado no Porto das Barcas destaca as riquezas do Delta do Parnaíba, o terceiro maior delta do mundo e o único das Américas que desagua em mar aberto. O Museu do Mar, no século XIX, foi um antigo armazém portuário e está inserido neste complexo arquitetônico formado por grandes armazéns, ruas estreitas, becos e vielas, contemplando uma arquitetura neoclássica. 

Viela de acesso ao Museu

As edificações são em pedra rejuntadas com pó de ostras e óleo de baleia, preservados há quase 300 anos. A região foi um grande centro comercial, que viveu os ciclos do charque e da carnaúba, quando recebeu vapores e embarcações da Europa.

Foto aérea do Museu do Mar - acervo do Museu
O que não me parece correto é afirmar - como a mídia está fazendo - que esse é o maio museu do Piauí. É um grande e bem cuidado museu, mas não podemos deixar de levar em conta o imenso e lindo Museu da Natureza, em Coronel José Dias, no sudeste do Piauí ou, da importância do Museu do Homem Americano - em São Raimundo Nonato. Precisamos valorizar as conquistas ao longo do tempo!!!!Me encantou encontrar no museu a presença de famílias inteiras vindo conhecer a novidade. Quando os grupos locais se apropriam do bem cultural ele se torna representativo do patrimônio imaterial desse grupo. O acervo do Museu está dividido em três seções.
  • 1ª seção – O Homem do Delta do Parnaíba
Leva em consideração a etnografia, o homem do Delta e a sua relação com as atividades pesqueiras e de sobrevivência, bem como seus costumes e crenças. Esta seção é subdividida em 11 setores, são eles:
Pesca no mar; Pesca no rio; Pesca de crustáceos; Marisqueiras; Catadores de caranguejos; Mestres estaleiros; Rancho do Mar; Artesãs; Curumins; Rendeiras; Fé e religiosidade.
  • 2ª seção – História Natural (dedicada à natureza do Delta do Parnaíba)
Nesta seção são tratadas as questões ambientais e é nesse espaço que estão os esqueletos de um boto cinza, de um peixe-boi e de uma baleia, além de réplicas desses e de outros animais.
Peixe-boi - réplica exposta no Museu do Mar
Também há uma maquete dedicada ao Delta, que mostra as inúmeras ilhas, igarapés, biomas etc. O fundo do mar e as espécies que vivem nesse ambiente também são retratados numa maquete. É subdividida nos seguintes setores:
Proteção ambiental; Rio Parnaíba; Biomas; Praias; Vilas e Cidades; Répteis; Aves; Mamíferos; Fauna marinha; Baleias; Golfinhos; Peixe-boi.
  • 3ª seção – Navegando no Delta do Parnaíba
Espaço dedicado à tecnologia náutica e sua evolução ao longo dos anos. Por lá,  o visitante encontra 11 embarcações de vários tipos e tamanhos. Além de três setores dedicados às peças náuticas, relacionadas à segurança e comando das embarcações.
Edna no jardim do museu, tendo ao fundo um barco em tamanho natural
E não para por aí, na terceira seção ainda existe uma linha do tempo – Navegando no tempo – que mostra a história de Parnaíba e sua relação com o mar.  Nesta seção também há um espaço dedicado à Marinha do Brasil e outra aos estaleiros. Já no pátio do Museu, o visitante vai encontrar duas embarcações em tamanho real, que chegam a quase 20m de comprimento. Na parte de dentro do Museu você pode conferir embarcações em tamanhos menores.

terça-feira, 10 de agosto de 2021

23.11 - As rendeiras de Ilha Grande

Ilha Grande - Piauí é um pequeno município vizinho à Parnaíba onde uma atividade manual - a confecção da renda de bilro - resiste como um soluço.

BILROS são a ferramenta para a confecção da renda. Seu manuseio é complicadíssimo; é uma atividade de tradição familiar, se aprende a arte em criança, ao pé das mães e avós em frente às almofadas. É uma habilidade que está se perdendo; as mulheres adultas a adquiriram, mas não a exercitam e a geração seguinte, enredada pela tecnologia, abriu mão desse saber secular. 

A Renda de Bilros é produzida sobre um almofada onde o enchimento é feito por materiais como crina, serragem, capim ou algodão. A almofada é a base para a confecção do trabalho e deve ficar apoiada num suporte de madeira; por cima da almofada fica um molde com o desenho a ser seguido com o trançar dos bilros.
Os bilros são objetos de madeira, com uma pequena cabeça nas extremidades na qual é enrolada a linha para a execução do trançado. Na produção de uma peça geralmente se usa vários bilros, sempre aos pares.

As rendas são valorizadas por serem delicadas e únicas; por exigirem atenção e perfeição e - principalmente - por serem totalmente confeccionadas à mão. Deste requintado trabalho são produzidas toalhas de mesa, vestidos, blusas e muito mais, de acordo com a criatividade da artesã. Alguns estilistas preocupados em criar um estilo brasileiro têm utilizado a renda de bilros em passarelas com grande efeito estético.

renda de bilro na alta costura
A arte é encontrada principalmente em vilarejos e cidades praianas, por exemplo Sambaqui (SC), Ilha Grande (PI) e Raposa (MA).

HISTÓRIA
De acordo com pesquisadores a renda de bilros se originou na Europa por volta do século XV, em local incerto. Há trabalhos na Itália, Inglaterra, Espanha e Bélgica. Não existem dados concretos que comprovem, ao certo, o local da primeira produção. A tradição no Brasil surgiu a partir do século XVII, por meio dos portugueses. Na Eslovênia, esta atividade é muito comum entre a população. O artesanato está presente no vestuário, acessórios, utilidades domésticas... Atualmente no país existem cerca de 120 sociedades voltadas à renda de bilros. A UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciencia e a Cultura integrou a renda de bilros da Eslovênia como Patrimônio Cultural da Humanidade em 2018. (Fonte: https://www.infoescola.com/cultura/renda-de-bilros).

Foi em Parnaíba que ouvimos falar das "rendeiras de Ilha Grande". Descobrimos a existência de uma associação -  Associação das Rendeiras dos Morros da Mariana,  mais conhecida como a Casa das Rendeiras

Casa das Rendeiras de Ilha Grande
Ela reúne cerca de 60 mulheres e funciona como espaço de trabalho e local de exposição e vendas. "A associação já ganhou duas vezes o Prêmio Top 100 de Artesanato, que é promovido pelo Sebrae Nacional. Foram as mulheres da Casa das Rendeiras quem produziram o vestido que a primeira-dama Marisa Letícia usou na posse do segundo mandato de Lula. Esse vestido foi todo confeccionado com 1.500 flores de camélia em renda de bilro. Essa produção foi tão admirada que, na época, o vestido de Marisa Letícia fez com que gerasse a encomenda para São Paulo de vários vestidos de noivas com flores de camélia tecidos pelas artesãs piauienses. O contato pode ser feito pelo telefone (86)99430-7742, com Socorro Reis, que é a presidente da associação."(Fonte: conheçaopiaui.com)

Fomos até lá num domingo de manhã e qual não foi a nossa frustração ao encontrar a casa fechada. Na porta, uma folha de papel colada com os telefones de duas rendeiras: Francisca e Socorro. Socorro é a presidente. Ligamos e não conseguimos contato. Enquanto isso, o motorista que havia nos levado - esperto como ele só - já estava perguntando aqui e ali e acabou nos levando para a casa de dona Laurinha, uma rendeira (tel. 86-99426.4609). Ela nos recebeu com sorrisos de gentileza e - rapidinho trouxe sua almofada para a varanda, avisando de antemão que nada estava à venda, pois estava trabalhando em duas encomendas.

Dona Laurinda e suas rendas - Ilha Grande

Curiosamente, Dona Laurinha executa dois trabalhos simultâneos; um durante o dia e outro à noite. Assim, consegue lidar com o pressa de seus clientes. Nada para comprar, ficou a alegria de estar em contato com uma manifestação profunda da cultura popular, quase um ato de resistência nos tempos modernos.

Edna e Márcia na sombra de Ilha Grande






segunda-feira, 9 de agosto de 2021

23.10 - Piauí. O Delta do Parnaíba

O rio Parnaíba com 1.500 km de comprimento corre no sentido sul- norte e deságua no Atlântico em um delta de 5 braços, "como uma mão", como disse um barqueiro.
Esse ecossistema, abrangendo a água doce do rio, a geografia de restingas e mangues, igarapés e ilhas, os recifes, as lagoas, o próprio mar fechando tudo isso... permitiu o surgimento de uma cultura específica da região, uma população que está aqui desde tempos imemoriais e criou uma economia baseada no extrativismo e na pesca artesanal que sobrevive à tecnologia de nossos tempos.

Barqueiro sob o sol intenso do delta
Aqui encontramos profissões especiais como marisqueiras, pescador de tarrafa, pescador de anzol, catador de caranguejo, construtor de barco artesanal, rendeiras, redeiros, timoneiros... enfim, um mundo que parecia desaparecido mas que está aqui, inteiro.

Marisqueiras - em foto no Museu do Mar - Parnaíba
A região é a maior produtora de caranguejos do país, exporta cerca de 20 milhões de animais por ano. E,  claro, aqui se come a melhor patinha de caranguejo num restaurante chamado Camarão Express, dentro do Centro Cultural.

TURISMO NO DELTA
As empresas de turismo oferecem dois tipos de passeios, cada um percorrendo um braço do delta. Podemos escolher entre lanchas até 12 pessoas ou os grandes catamarãs de 100  pessoas. Escolhemos os primeiros. RS 190,00/ pessoa, incluso estava o transfer do hotel até a saída dos barcos no Porto dos Tatus, no município de Ilha Grande e isso é muito confortável.
Seguimos por um dos braços do delta até um igarapé, cheio de aningas (vegetação de folhas grandes, típica dos mangues) e carnaúbas.

Igarapé com vegetação típica de mangue

O ponto alto desse passeio é a revoada dos guarás. O guará (Eudocimus ruber) é uma ave da família Threskiornithidae e mede cerca de 50 a 60cm. Possui bico fino, longo e levemente curvado para baixo. A plumagem é de um colorido vermelho muito forte por causa da sua alimentação à base do caranguejo chama-maré (Uca maracoan) que possui um pigmento, o caroteno que dá tingimento às plumas. (Fonte: Wikiaves).  
Guará em pleno vôo
Ao fim da tarde, quando o sol está se pondo, uma dezena de lanchas converge às proximidades de uma pequena ilha no delta do rio Parnaíba. Os motores são desligados e tudo fica em silencio quebrado pelo barulho da água batendo no casco dos barcos e pelo vozerio das pessoas que esperam a chegada dos guarás. 
Ilha no delta que recebe os guarás para o pernoite
Por fim, surgindo do poente chegam três aves alinhadas, emitindo um som característico. Depois, um bando maior, em direção oposta. Todos os celulares apontam para o alto tentando capturar as imagens, mas a magia está em ser surpreendido por qual direção os bandos chegam. E eles chegam por todas elas. Bandos grandes de 30 a 40 animais ou pequenos com 3 ou 4. às vezes, um vôo solo. Para minha tristeza, que desejava uma lente mais potente para registrar o momento, percebi todas as aves levantando voo para uma arvore em outra ilha ainda mais distante, quando era possível ver apenas pontos vermelhos no horizonte.
E, à medida que o sol declina, novos guarás chegando para passar a noite. Voam para a árvore distante e cada um vai escolhendo o seu galho para passar a noite.
Revoada de Guarás

Mais guarás chegando...

Por fim quando a árvore tinha se tornado um matiz de pontos vermelhos, o inusitado: todas as aves levantam vôo, atravessam o canal e vêm pousar na árvore prometida, em sua casa.
Ilha dos Guarás - Parnaíba
Depois de tanta generosidade da Natureza só nos restava voltar para casa gratos por ter participado do sublime.





domingo, 8 de agosto de 2021

23.9. Piauí - Parnaíba

Parnaíba, no Piauí, no delta do rio do mesmo nome tem 176 anos e uma população de pouco mais de 150 mil habitantes.
É uma cidade histórica, pelo seu porto era escoada a economia do Piauí até meados do século 20; primeiro o charque, na segunda metade do século 19 pois o Piauí foi colonizado a partir de fazendas de gado que alimentava o ciclo da cana-de-açúcar em Pernambuco e Bahia. Quando o ciclo do charque declina, se inicia o ciclo do látex de maniçoba no sul do Piauí e mais tarde, já no século 20, o ciclo extrativista do óleo de babaçu e da cera de carnaúba, destinados ao mercado internacional.
Então, Parnaíba sempre foi uma cidade cosmopolita. De seus galpões no Porto das Barcas, saiam no inicio do século passado o babaçu e a carnaúba e chegavam as faianças, as sedas e as máquinas. Acredito que tudo isso se acaba com a Segunda Guerra Mundial, quando o Piauí estagnou.

Porto das Barcas - Centro histórico restaurado

O complexo arquitetônico do porto, onde funcionavam lojas, armazéns e depósitos que sustentaram esses ciclos econômicos e que ocupavam vários quarteirões (cerca de 20.000 metros quadrados) ao longo do rio Igarassu se tornou um amontoado de ruínas, onde só as paredes de pedras resistiram.

Ruínas de armazéns do porto antigo, hoje nos jardins do Museu da Pesca.

Algumas construções têm sido restauradas ao longo das últimas décadas onde se instalaram agências de viagens, bares e lojas de artesanato. É o polo turístico da cidade para onde confluem, à noite, todos os turistas que vem à região para conhecer o delta do Parnaíba.

parte turística do Porto das Barcas
O patrimônio arquitetônico desta cidade histórica está bem preservado; muitos casarões imponentes da aristocracia do século XX estão inteiros, espalhados nas ruas do Centro Histórico. Há um edifício - a Casa Inglesa, antiga sede de um posto comercial que fazia as operações comerciais entre o Piauí e a Inglaterra. Fundada em 1849 por ingleses, no melhor estilo colonizador, foi por iniciativa de seus donos que a cera de carnaúba entrou no comércio internacional. O edifício é majestoso; pintado em vermelho que resiste até hoje. Sua importância econômica era notável; foi a Casa Inglesa quem forneceu equipamentos e tecnologia para a eletrificação de 153 municípios de Maranhão, Piauí e Ceará. A parte superior do edifício funcionava como a casa de um dos seus proprietários. Mobiliada em estilo inglês, sua decoração permanece como tal. A casa está liberada para visitas, com agendamento prévio. Não fui, vim a saber depois. Mas teria valido a pena.   
Casa Inglesa no início do século XX

A cidade se volta para o turismo agora; a companhia aérea Azul faz, desde dezembro de 2020, dois voos semanais partindo de Campinas. Com a opção dos passeios de barcos pelo delta ou das praias próximas, sem dúvida é um destino fértil para quem está buscando fugir da rota turística padronizada
Como será o futuro é uma pergunta que está em aberto.

23.8 - Maranhão. Parque Eólico dos Lençóis

Entre Barreirinhas e Atins encontramos o Parque Eólico dos Lençóis.  Um imenso deus Shiva tecnológico de mil braços girando.

Linha de aerogeradores vista do barco no rio Preguiça
Tunica, uma garota que conhecemos em Atins me mandou um artigo de Junior Aguiar, publicado no site CPG que publico na íntegra.

"Para transitar em meio aos 172 aerogeradores, é possível trafegar de carro ou quadriciclo, de preferência que tenham tração nas quatro rodas. São 40 minutos de Paulino Neves até o parque eólico ou quase duas horas saindo de Barreirinhas. No local, o barulho da rotação das hélices é a única coisa que quebra o silêncio de um local tão calmo, longe de qualquer poluição sonora. E por que não visual? Pois o cenário litorâneo da região onde fica o parque eólico do Maranhão é um atrativo por si só.

Conectadas à nacele e sustentadas pela torre, as hélices (também chamadas de pás eólicas) possuem perfil aerodinâmico, têm cerca de 17 toneladas cada e chegam a ter mais de 60 metros de comprimento.

A média de altura dos aerogeradores é de 120 metros de altura e 300 toneladas por equipamento. Toda essa estrutura colossal tem a capacidade instalada de 426 MW.. O Parque Eólico do Maranhão é apenas um dos empreendimentos de captação de energia limpa através do vento no Nordeste do Brasil. A região está disparadamente na vanguarda.

A energia eólica produzida no Brasil tem capacidade maior que a média mundial graças ao Nordeste, porém o país ainda é o sétimo na colocação mundial de capacidade instalada.

Dos 726 parques eólicos em terras brasileiras, 596 estão distribuídos entre os estados da Bahia (189), Rio Grande do Norte (182), Ceará (81), Piauí (79), Pernambuco (34), Paraíba e Sergipe (1), além do próprio Maranhão (15).

Ao todo, são 7.285 aerogeradores funcionando no Nordeste, formando 15.905,1 MW de soma de potência. Isso representa 88% de produção do Brasil em 2021. Isso porque o país alcançou este ano 19GW de capacidade instalada.

A energia eólica representa 10,3% da matriz elétrica nacional. De acordo com a Associação Brasileira da Energia Eólica, há dez anos, o segmento contava com menos de 1 GW de capacidade e, portanto, hoje é a segunda maior fonte energética, ficando atrás apenas da hidrelétrica que possui 58,7% do parque instalado.

Até 2024, a Associação Brasileira da Energia Eólica (Abeeólica) estima que a capacidade eólica instalada no país alcance 30,2GW." Fonte: petroleoegas.com.br

Aerogerador - sua altura não permite o enquadramento por inteiro



sábado, 7 de agosto de 2021

23.7 - Maranhão. Irane

Irane é uma sertaneja nascida num povoado pertinho daqui. Nem sequer sei seu sobrenome. Até os 17 anos trabalhou na roça, na lida com a enxada. Casou, teve filhos... 
Em algum momento decidiu que iria mudar seu destino: iria ter uma pousada em Atins! Começou a construir algo ambicioso, dois andares. Terminou o primeiro andar onde instalou meia dúzia de suítes. O andar de cima é um esqueleto de paredes sem telhado.

Perto de seus concorrentes onde o dinheiro chega em euros de uma bolada só, a Pousada Céu Aberto é algo simplório. Desde a leveza dos cortinados sobre as camas que lhes dá um ar antigo e etéreo, até os galhos de árvore destinados aos cabides.
Cortinado na pousada Céu Aberto
Falta tudo na pousada Céu Aberto, se entendermos tudo como os itens de conforto e sofisticação: não tem ar condicionado, nem ventiladores de teto, não tem frigobar nem chuveiro quente e os móveis e objetos de decoração carregam a singeleza de quem só conhece as coisas necessárias.

Não sei se Irane vai vencer essa desigualdade que a separa das outras pousadas. Estou torcendo para que ela tenha sucesso. Ela trabalha muito, desde as cinco da manhã e faz tudo sozinha: o café da manhã, a recepção dos passageiros na lancha, lava a roupa, limpa os quartos. Depois vai para a cozinha e junto com uma cozinheira e uma garota no salão dá conta do restaurante.....

O fato de sermos as únicas hóspedes e os outros quartos estarem fechados me trazia a questão do orçamento. Será que ela estaria conseguindo girar a pousada? Será que os hóspedes teriam a sensibilidade para perceberem a garra dessa mulher ou apenas reclamariam da ausência do frigobar?
Redário na varanda em frente aos quartos.

Será que - deitados nas redes da varanda - iriam perceber os pés de feijão plantados num pedaço do terreno, herança de um tempo onde o sustento vinha da terra?

Meus melhores votos de sucesso para a pousada Céu Aberto. 




23.6 - Maranhão. Atins

Atins é um vilarejo de 2.000 habitantes entre o mar e os Lençóis Maranhenses, descoberto pelo turismo há uns 15 anos. Foram os franceses quem chegaram primeiro, depois alemães, italianos e brasileiros. Hoje tem 60 pousadas, algumas com diárias mas alturas. Meia dúzia de restaurantes gastronômicos. O local era para ser, na minha expectativa, a cereja do bolo desta viagem. Imaginei um lugar especial entre o mar e as dunas, um pedacinho do paraíso. Mas o paraíso nem sempre é fácil, nem sempre se apresenta ao primeiro momento. Houve uma estranheza a princípio, como se não conseguíssemos captar a essência do local.
Chegada em Atins. O barco nos deixa no meio da areia e alguém vem te buscar num quadriciclo

Atins é um pueblo espalhado, uma construção aqui, outra acolá e imensos espaços vazios preenchidos por cajueiros. Ainda não fotografei nenhum, busco a foto perfeita dessa árvore ícone dos Lençóis.
Areia fofa em todo lugar, nas ruas, nos caminhos vazios. Tudo espalhado, impossível caminhar,  se usa quadriciclo para tudo. Transporte caro, 15 reais por pessoa, por corrida.
E o que fazer em Atins? Primeiro, aproveitar o vento e curtir o kite surf. Não arrisquei, tou velha. Depois um banho na água misturada de sal do mar com a doçura do Rio Preguiça. Atins fica na foz do rio, na mistura das águas. Depois, andar debaixo das estrelas e jantar em um dos restaurantes gastronômicos locais. Nossa primeira tentativa deu errado, não tínhamos reserva. Por sorte, no quarteirão contíguo havia o Relva, recém inaugurado.
Decoração moderna com pegada local no Relva
 Os preços são acessíveis, a maioria deles cobrando 120,00 reais pelo prato principal para 2 pessoas. As opções são sempre peixe, camarão em suas inúmeras versões.

Nessa noite Márcia teve uma crise com o isolamento do local, com a pousada sem hóspedes e recepção fechada durante a noite. Decidimos abreviar nossa estada em Atins nesse momento.

No dia seguinte, com a luz do sol, o vento batendo nos cajueiros, a beleza do local foi acalmando-a pouco a pouco. Por sorte, havíamos contratado um passeio para desbravar novamente os Lençóis, na região chamada Canto dos Lençóis.
Canto dos Lençóis vista de cima do carro.
Diferente de Barreirinhas onde se caminha muito, aqui o veículo chega até a margem das lagoas. A paisagem também é diferente, há mais vegetação. No Canto dos Lençóis há um povoado onde cabras e burros vivem soltos, pastando na grama que cresce. Há coqueiros e há o eterno vento.
 Pequena lagoa no circuito do Canto dos Lençóis.
Adoro fotografar as pequenas lagoas, quando consigo enquadrá-las inteiramente. Claro, não tem a imponência das grandes lagoas onde o veículo para na borda para o banho. Geralmente são paradas de 40 minutos no local: água fresquinha, dá para nadar, praticar kitesurf (para quem domina) ou só boiar, olhar o céu e a imensidão de areia.
Imensas dunas de areia. Deserto. Quem diria que há uma lagoa de água doce do outro lado?
Fiquei  impactada com a beleza da região. Se eu tivesse de fazer 10 passeios na Vida, os Lençóis entrariam nesta lista.

E partimos de Atins cedinho, com o sol nascendo. Voltamos de voadeira (a Belíssima!!!) para Barreirinhas, onde a peso de ouro, alugamos um carro para nós trazer para Parnaíba, no delta do rio.


quinta-feira, 5 de agosto de 2021

23.5 - Maranhão. A caminho de Atins

Saindo de Barreirinhas num passeio comprado em uma agencia com destino a Atins. Diferente da maioria que vai e volta, nosso plano era colocar as malas na lancha e ficar em Atins.
A viagem de voadeira, uma lancha rápida de 16 lugares, teve 2 pegadinhas: a primeira, uma parada em Vassouras, com o atrativo de ver macacos-prego, na verdade era uma loja-bar, para consumo de turistas onde os macacos é um produto artificial, nem eram para estar ali.

Macaco-prego domesticado em Vassouras
Depois, voltamos pro barco com destino a Mandacaru, um vilarejo pertencente ao município de Barreirinhas, onde há um farol da Marinha.
Esse farol foi construído em 1940 com uma luz de alcance de 17 milhas para orientar a navegação dos barcos que vinham de São Luís. Tenha em mente que estradas são algo recentes nesse pedaço do Brasil. O transporte era eminentemente marítimo-fluvial. O Farol está distante do oceano atualmente porque o movimento das dunas alterou a foz do Rio Preguiça.
Visão do barco de Mandacuru 

Farol de Mandacaru recentemente reformado
O Farol tem 176 degraus. Treinei subir escadas a pandemia inteira subindo quase 400 degraus 3 x/ semana usando a escadaria do meu prédio, com o objetivo de subir o Farol de Mandacaru e ver de um lado o mar e de outro, as dunas. Qual não foi a minha frustração ao constatar que o farol estava fechado; foi reformado e será reinaugurado em 07 de setembro.
Depois, outro mico: a parada para almoço no meio do nada: dunas e um galpão com redes para receber turistas e oferecer peixe frito. Para  me alegrar, contratei 1 hora para dirigir um quadriciclo. Tava babando para fazer isso.
Edna e Márcia num passeio de quadriciclo no meio do nada.




terça-feira, 3 de agosto de 2021

23.4 - Maranhão - Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses

Mapa do Parque Nacional dos LençõisMaranhenses - Fonte: ICMBio


O Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses foi criado em 1981, há pouco mais de 40 anos.
Tem 155 mil hectares de área, sendo 90.000 ha. ocupados pelas dunas e lagoas (estima-se que existam 25.000 lagoas no Parque) e o resto por vegetação mesclada  de três biomas: amazônico, caatinga e cerrado.

Desde 2017 está inscrito na UNESCO como Patrimônio Natural da Humanidade, mas o processo ainda não foi homologado. Três municípios compõem o parque: Barreirinhas, Santo Amaro e Primeira Cruz.
Barreirinhas está a cerca de 15 km do Parque e seu acesso se dá por carros off road  especialmente credenciados pelo ICMBio. São carros 4 x 4, com carroceria adaptada que conduzem 10 -12 pessoas.
Veículo credenciado para acesso ao Parque; o rio Preguiça é cruzado através de uma balsa.


Lá há dois circuitos importantes para visitar, ambos contratados por agencias:  Lagoa Bonita e Lagoa Azul. Fiz os dois e - com certeza - este é um dos LUGARES MAIS BONITOS do MUNDO!!!!!! Caminhar pelas dunas brancas e frescas pelo vento, nadar em suas lagoas de água doce e refrescante, observar o céu, as nuvens, o sol, o pôr-do-sol, sentir o vento, a água pelo corpo me colocaram em um contato com o Universo numa vibração sincrônica que limpou a alma.
A primeira visão: aquela que te marca para sempre

Pôr-do-sol nas dunas

Pequena lagoa em forma de folha
Ainda estou muito impactada com as minha vivência cósmica nas dunas; a conexão com o Sagrado;  vibrações em cores e formas. Estava num lugar especial para isso: a imensidão, a luminosidade... Por quê não tentar? Na Lagoa do S, surgiram ogivas em verde pastel sob fundo grená e rosa me dando a sensação de infinito, de pertencimento ao Cosmos, de vibrar numa mesma pulsação. Difícil descrever para você, é muito mais um registro para minha memória.
Eu e o infinito na mesma vibração!
Caminha-se muito nessas trilhas; no circuito da Lagoa Bonita foram 9 km na areia, subindo e descendo dunas. Deslumbrando-se com a imensidão, com os contornos caprichosos que o vento esculpe continuamente e sobretudo com a luz que se reflete de tons diferentes em cada paredão, em cada duna.
Circuito da Lagoa Bonita - Usar os stickers para apoio foi de grande auxilio
No circuito da Lagoa Azul a trilha é menor, 5 km, mas exige mais esforço, é mais difícil. Foi delicioso escorregar duna abaixo e desafiador ir duna acima. Aí, os stickers ajudaram muito; não teria conseguido sem eles. E que felicidade ao conseguir!!!!!

Circuito da Lagoa Azul
                          
 Dias de êxtase e reverências à Natureza.