quarta-feira, 24 de junho de 2015

segunda-feira, 22 de junho de 2015

11.16 - Minas. Fim de viagem

Refletindo o que foi viajar uma semana pelas cidades históricas de Minas Gerais em companhia de Beatriz, minha sobrinha.

Para mim, viajar sempre soma, sempre amplia horizontes. Ter a oportunidade de estar todo esse tempo compartilhando experiências com uma garota de 32 anos sempre é muito interessante. Andamos 1.500 km e para a viagem caber dentro de uma semana e do orçamento, ela precisou ser enxugada: abrimos mão de Aiuruoca e de Diamantina e Serro. Acredito que Diamantina é uma cidade para se chegar de avião. Não é prático ir até lá de carro, é muito longe; aumentaria o percurso em mais mil quilômetros.

O ponto alto foi Inhotim, sem dúvida alguma.

11.15. Minas - Indicadores de Procedência. A realidade é um poucodiferente

Nesta semana viajando por Minas estive atenta aos produtos de regiões com IP - Indicadores de Procedência. Os utensílios de estanho, o café, os biscoitos de São Tiago, o queijo artesanal de leite cru da Serra da Canastra e da cidade de Serro, além da cachaça de Salinas... Na realidade as coisas não estão prontas assim.

No processo de obtenção de um selo, são elencados os critérios que cada produto deve ter para se candidatar ao selo. Talvez porque os critérios sejam rigorosos ou ainda porque o pequeno produtor mineiro ainda não ache importante, o fato é que, mesmo nas cidades mais turísticas como Ouro Preto ou Tiradentes, nenhum produto das regiões citadas tinha o selo.

Confesso que procurei.

Bem ao final da viagem, numa loja de beira de estrada em Cruzília, consegui, finalmente uma cachaça com selo IP. Para não voltar de mãos vazias.

Em São Tiago, ao conversar com a proprietária de uma fábrica de biscoitos, ela me disse que a obtenção do selo esbarrava numa exigência da Vigilância Sanitária.

sábado, 20 de junho de 2015

11.14 - Minas. Ouro Preto; e haja morros

Ouro Preto consolida as informações que começaram ainda em Tiradentes sobre o ciclo do ouro no Brasil. Do início, com os bandeirantes paulistas descobrindo as minas de ouro e  os portugueses chegando ávidos - em nome da Coroa - atrás desse mesmo ouro.

Houve guerra!

Estudávamos na escola como algo vago chamado Guerra dos Emboavas, mas paulistas e portugueses lutaram  pra valer as margens do Rio das Mortes durante dois anos: de 1707 a 1709. Perderam os paulistas, perdeu Borba Gato e os paulistas saíram definitivamente da cena da mineração do ouro no Brasil. Foram caçar índios no Mato Grosso, atormentar o Tratado de Tordesilhas...

E a Coroa Portuguesa chegou com fome de ouro.
Instituiu a taxa de 1/5 do ouro bateiado para ela. Foi muito ouro! Esse QUINTO descia em lombo de burro pela Estrada Real até Parati, onde embarcava para Lisboa.

Foi assim por 150 anos. Em 1792 há o movimento da Inconfidência, com o objetivo de se livrar desse imposto e - por tabela - de Portugal. Deu tudo errado, já sabemos.

Mas não sei o suficiente, preciso entender melhor essa trama. No Museu dos Inconfidentes, aqui em Ouro Preto há uma sala que me impressionou desde a primeira vez que ali pus os pés, há 40 anos atrás. É o Memorial dos Inconfidentes;  uma sala quase nua, com a bandeira do movimento inconfidente ( o triângulo vermelho com a inscrição em latim: libertas quae sera tamen - na parede frontal, um retângulo em pedra com o nome dos inconfidentes julgados e - no chão - a lápide de cada um.

É muito emocionante!

Foi iniciativa do governo Vargas repatriar, em 1942, os restos mortais de cada um. Na sentença, todos, com exceção de Tiradentes, foram condenados ao exílio em Moçambique. Nada sei do que aconteceu a eles. Pesquisa, Edna, pesquisa.

Então, Ouro Preto sempre foi rica e plena de ladeiras. Íngremes. Mantém as mesmas pedras até hoje, massacrando meus joelhos a cada passo. Linda e hostil. Cheia de igrejas suntuosas, expressando o mais cristalino barroco mineiro. A Igreja de Nossa Senhora de Nazaré impressiona pelos seus 400 quilos de ouro, seus altares.

Hoje a economia da cidade corre por conta das mineradoras. Mais de uma dezena delas nos arredores da cidade. O que mineram? Vou descobrir. Parece que estão em crise; na pousada ouvimos algo como 200 demissões. O Sindicato dos Trabalhadores em Mineração esperneia, diz que as demissões são injustas.



11.13 - Minas. Mariana


Chegamos a nossa pousada vindos de Inhotim, com paradas ao longo das lojas do caminho para comparar artesanato mineiro. A Pousada da Serrinha, fica a meio caminho entre Mariana e Ouro Preto, num distrito chamado Passagem de Mariana, o que permite andar pelas duas cidades com as malas aquietadas.
Pousada onde os quartos ficam em chalés duplos, ao longo de um espaço ajardinado. Quartos pequenos, mas de construção nova e limpinhos. Cobertor quentinho. Café da manhã mineiro com biscoitos, bolos e geléias.

Acomodadas, depois dum breve respiro, voltamos para o carro, para conhecer Mariana. É uma cidade montanhosa (e como!), de 58 mil habitantes, com sua economia assentada sobre a mineração de ferro.  A região de Mariana, Ouro Preto, Sabará, Congonhas e Itabira respondem por 60% da produção de ferro no país.

O centro histórico, construido na época áurea da extração de ouro é duma harmonia refinada. Também pudera, Mariana foi a primeira capital de Minas,e antes, foi a primeira vila e a primeira cidade do estado!

Logo na chegada pela rua principal pavimentada em pedras, se defronta na parte mais alta da cidade com uma praça monumental: duas igrejas barrocas, a de São Francisco de Assis e de Nossa Senhora do Carmo. Fiquei deslumbrada!
 

11.12. O Topo do Mundo

Para os mineiros,  o Topo do Mundo fica na Serra de Paraopeba, no município de Brumadinho, a exatos 1500 metros de altitude.


Para nós, paulistas, o topo do mundo permanece em Campos do Jordão, a 1610 metros. Para mim - e posso contar isso aqui - o topo é em São José dos Alpes, uns 200 metros morro acima, pela estradinha do Horto.

Aqui existe um restaurante do mesmo nome, descoberto por acaso num site, quando buscava um lugar para comer em Brumadinho.



Ele tem um grande salão aberto, debruçado sobre o vazio com uma vista incrível: montanhas azuladas a atender de vista.




sexta-feira, 19 de junho de 2015

11.11 - Minas. Inhotim Paisagismo

Vim esperando ver instalações de arte contemporânea colocados em um parque. Estavam lá! O que me suprendeu foi o projeto paisagístico. Inhotim emprega 200 jardineiros.

quinta-feira, 18 de junho de 2015

11.10. Minas - Inhotim




Amém!
Estar em Inhotim e estar em estado de graça, onde se expressa o sagrado. Porque arte é assim: o melhor do ser humano, mesmo que seja a expressão profana de sua criatividade.

 
Todos os artistas brasileiros contemporâneos estão aqui. Todos não, alguns mais conhecidos: Cildo Meireles, Amilcar de Castro, Tunga, Adriana Varejão.


Senti falta de alguns: Vicky Meirelles, Beatriz Milharez... Leda Catunda...

Criado no início da década de 80 e aberto ao público em 2006, Inhotim é obra de Bernardo Paes, colecionador de arte contemporânea, com a consultoria de Tunga e Adriana Varejão. Paes transforma a Fazenda Inhotim - herança de família, suponho - em espaço aberto a artistas contemporâneos do mundo todo: chineses, americanos, romenos, suecos.... 267 ao todo.



É preciso tempo para conhecer Inhotim. Os guias falam em 2 dias, talvez eu quisesse um pouco mais.
É preciso pernas para conhecer Inhotim: no primeiro dia andamos 7 km, no segundo,   11 km... Vimos, talvez, 60% do espaço. Amanhã, reservamos o período da manhã. Se não conseguirmos terminar, teremos de voltar.




É incrível o poder da arte: Beatriz está tendo o seu primeiro contato com arte, primeiro barroca e depois contemporânea, nessa viagem. Pois bem, há pouco, ao sair da Galeria Cildo Meireles, ela entusiasmada comentava sobre o que tinha visto e sentido, do impacto da obra sobre ela.



Nem tudo impacta aqui. Algumas obras eu não compreendo, não sei a que vieram. Na Galeria X, um imenso barco de ferro que se projeta do morro para o céu, há uma instalação do espanhol Y, que impacta pelo incômodo, mas seu efeito plástico para mim é non sense. Outra, a artista plástica Z, fez uma grande instalação em concreto



11.9 - Sao Tiago - primeiro IP - Índice de Procedência de Biscoitos

São Tiago seria um local onde passaria direto, sem nenhum interesse se não tivesse lido uma pequena nota enquanto pesquisava sobre os utensílios de estanho de São João del Rey.

 

quarta-feira, 17 de junho de 2015

11.8 - Minas. Congonhas

Congonhas, cidade que integra o quadrilátero do ferro é uma cidade bruta e feia,como uma cidade de mineração costuma ser. Paradoxo - no topo de um morro, completamente isolado do contexto da cidade, se exibe um dos mais belos - senão o mais - tesouro da arte barroca: os Profetas, do Aleijadinho!!!!


terça-feira, 16 de junho de 2015

11.7 - Minas. Bichinho

Bichinho é um distrito de Tiradentes, a uns 20 km da cidade. Ficou conhecida nos últimos 30 anos por ter aliado artesanato ao design e ter criados bem sucedidos produtos à base de ferro e madeira coloridos, conhecidos no Brasil todo. Sabe aquelas pombinhas brancas, em madeira, formando todos os tipos de enfeites de parede? Pois é, foram inventadas em Bichinho.

Há também artesãos que produzem móveis rústicos, a partir de madeira de demolição (?). Haja casa demolida! Para dar conta de tanta demanda, hoje se usa madeira nova onde se aplica pátina que imita madeira descascada e envelhecida.

O vilarejo tem o ar descolado dos lugares onde vivem artistas: casas com conceito! Inúmeros conceitos: de arquitetura, de design, de aproveitamento de materiais, de pinturas... tudo fica alegre em Bichinho. Hora da fome, hora de procurar o restaurante da Ângela, com sua famosa comida mineira de terroir. Por um preço fixo come-se à vontade pernil de porco assado, carne de porco de panela, vegetais como abóbora, mandioca, ora-pro-nobis, quiabo, chuchu.., mais: galinha ensopada, galinha ao molho pardo. Beatriz, vegetariana, só comia arroz, feijão, legumes e folhas. Eu - sem nem piscar - provei a galinha com ora-pro-nobis, quiabo, pernil e feijão. Sobremesa? Goiabada com queijo.

Foi interessante conhecer a linha de produção deste artesanato tão bem reconhecido pelo país: alguns serralheiros fazem a estrutura básica das peças: fruteiras, bancos, porta-coisas.... para tudo. Daí a peça entra para o núcleo familiar. Geralmente o pai cuida da marcenaria, a mãe e alguns filhos pintam as peças em tons fortes e bem característicos e outros filhos cuidam da comercializarão em lojas improvisadas na frente das oficinas.

Ao lado dessas empresa familiares há outras - maiores - onde o proprietário está a quilômetros de distância e  pessoal treinado executa a produção. resultam peças maiores, com design mais sofisticado e repetitivo. Caros. Em Bichinho, depois das primeiras criações há uns 30 anos atrás, inspiradas na pomba do Divino, tudo se copia..... Difícil encontrar uma peça a me surpreender, ainda não vista em Parati. Acabei achando uma galinha em madeira, que Beatriz batizou de Betânia, uma fruteira e duas flores esculpidas em pedra sabão, tudo para a Casa das Hortênsias.

É muito agradável estar em contato com esse lado de Minas, do pessoal arteiro, criativo e bem sucedido quer fazendo pombinhas de madeira, doce-de-leite, biscoitos, tocando pousadas rústicas ou pequenos restaurantes a servir comida mineira.

Um prazer viajar por Minas.

segunda-feira, 15 de junho de 2015

11.6 - Minas. Tiradentes


Tiradentes - fachada da Matriz refletida na vidraça com crochê
Volto a Tiradentes depois de tantos anos. Chegamos ao entardecer depois de quase 200 km por estradinhas sinuosas, sempre acima de 1.000 metros de altitude, fornecendo horizontes infinitos e azulados.

Nossa pousada, Recanto de Minas, fica no Centro Histórico, bem ao lado de onde - um dia - foi o Bar da Dona Nini, onde trinta anos atrás, eu, Cecilia e d'Ávila passamos um Carnaval com cerveja, cachaça e linguiça com pimenta. Viajar é isso também: resgatar memórias.

Largo das Forras no Centro Histórico


Tiradentes continua charmosa como sempre em seu centro histórico. Depois de razoavelmente alojadas e já escuro, saímos para uma caminhada pelas ruas iluminadas por lampiões. Como era noite de domingo e ao final de um evento de vinho e jazz , todos os restaurantes estrelados estavam fechados. Pena!  Fizemos a volta no circuito a partir do Largo das Forras, e - na rua Direita -  conhecemos a Igreja de Nossa Senhora do Rosário,   construída e frequentada pelos escravos com seu altar central e laterais em estilo barroco mineiro e cobertos em ouro e o ateliê do artista plástico Sergio Ramos.Gostei dele, de sua conversa, de suas pinturas.

Com os restaurantes fechados, restou olhar suas fachadas e possibilidades. Um grande ipê rosa, exuberantemente florido resplandecia na ladeira, abençoando-nos.

Rua Direita com ipê florido
De tirar o fôlego e purificar a alma!

Foi ficando frio e frio, afinal estamos em junho. Acabamos parando num dos barzinhos abertos no largo das Forras, para o primeiro contato com a gastronomia mineira; pastel de angu recheado com umbigo de bananeira!

Iguaria mineira: pastel de angu recheado de umbigo de bananeira



Dia seguinte nos deixamos encantar pela paisagens das ruas, da fachada ads igrejas, pelo horizonte coberto pelo paredão rochoso da Serra de São José. À medida que o sol ia subindo a cor do céu ia se tornando mais azul cobalto. Deslumbrante!

Solar à beira da ponte sob céu azul cobalto

domingo, 14 de junho de 2015

11.5 - Minas. Era domingo

Começamos a viagem numa manhã iluminada de outono. Sol brilhante e céu esplendorosamente azul, como só o céu de junho pode ser.

A partir de Cruzeiro, iniciamos a subida da Serra da Mantiqueira. Bela estrada! Picos agudos, talvez por volta de 2 mil metros.... Curvas, muitas curvas a dirigir a 70 km por hora.

Beatriz, minha companheira de viagem, é ótima na direção; segura. Paramos em Passa Quatro e foi a minha primeira confusão: na viagem de dezembro tinha certeza que estivemos em Pouso Alto. Por isso a opção de conhecer Passa Quatro. Qual o quê!
Sempre paramos em Passa Quatro!

Igreja Matriz em Passa Quatro - MG
Café expresso para finalizar a parada de conhecer a igreja de paredes nuas e santo indefinido no altar (Cláudia, onde está você que conhece, ora e é amiga de todos os santos?) e depois seguir viagem.

Abandonávamos as Terras Altas da Mantiqueira e seguíamos para o Circuito das Águas: 4 cidades com águas medicinais: Lambari, Cambuquira, Caxambu e São Lourenço. Nestes tempos de medicina tecnológica curar-se em águas medicinais tornou-se obsoleto. Os balneários se esvaziaram e as cidades se tornaram decadentes. 

Paramos para almoçar em Caxambu; esperávamos encontrar uma velha senhora refinada enfeitada com colar de pérolas. Nada disso! A cidade cheira bosta de cavalo das charretes que levam os turistas. O balneário era caro ( R$ 80,00 por uma massagem de meia-hora), mal cuidado e cheio de ambulantes vendendo panos de prato kitsch na entrada. 

Hora de mudar de calçada.

Resistindo à decadência, com a silhueta de sua elegante torre mourisca contrastando com o azul cobalto do céu, o Hotel Glória se mantém impávido. Construído na década de 50, do século passado, para ser um cassino, ainda hoje mantém certo refinamento. Tapetes persas, poltronas com design preenchem salões e varandas construídos em estilo espanhol. O público hoje é basicamente o de Terceira Idade fazendo turismo rodoviário em ônibus imensos. Foi-se o tempo que casais em lua-de-mel, apaixonados e sorridentes preenchiam seus salões.

quinta-feira, 11 de junho de 2015

11.4 - Minas. Patrimonio Mundial da Humanidade

A UNESCO, órgão das Nações Unidas para a cultura patrocina a divulgação, mediante o selo Patrimônio Mundial da Humanidade, de locais ou expressões culturais com importância de preservação na memória de um povo.

Estes patrimônios abrangem o campo da cultura - Patrimônio Cultural -, das expressões vivas de um povo - Patrimônio Imaterial - e de locais especiais - Patrimônio Natural.

O Brasil tem 19 sítios catalogados como Patrimônios da Humanidade: 12 como Patrimônio Cultural e 07 como Patrimônio Natural. Ainda não recebemos certificação para nenhum Patrimônio Imaterial embora estejam na lista o Círio de Nazaré em Belém ou  " as expressões orais e gráficas do Wajapis".

O primeiro certificação aconteceu em 1980 para a cidade histórica de Ouro Preto, em Minas Gerais. Em 2012, a paisagem natural do Rio de Janeiro, entre as montanhas e o mar recebeu o último carimbo. Paraty está na lista de espera há mais de 10 anos e eu não sei bem o que está emperrando o processo. Ouvi algo como "a falta de saneamento básico" mas não consigo afirmar isso. requer mais pesquisa....

Minas saiu na frente com a titulação de Ouro Preto. Em 1985, o Santuário de Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas do Campo entrou na lista e depois, em 1999 - o centro histórico de Diamantina. Preciso saber de Tiradentes.... será que como Paraty, está em alguma lista de espera?

Conheci Congonhas no ano de 2001, durante o Carnaval. Estávamos em Tiradentes mas - a cada dia - se tornava mais insuportável ficar lá. Turistas - meninos jovens e ricos, entupidos de álcool - ocupavam a cidade como uma horda de bárbaros. Bebiam o tempo todo e quando as ruas da cidade começaram a cheirar urina, decidimos sair.

O Santuário, em estilo barroco mineiro fica no alto de uma colina. Um pátio em pedra (sabão?) duns 10 metros de largura circunda toda a igreja. Uma mureta duns 50 cm delimita o pátio. Pois bem, ali se assentam OS PROFETAS, a obra máxima de Aleijadinho. Lembro da minha atitude de deslumbramento a olhar cada estátua, cada obra. Seu conjunto, seus detalhes.... Harmonia e perfeição.


Michelangelo tem seu Davi, seu Moisés e a Pietá. Aleijadinho tem os 12 apóstolos! Gênios de mesmo calibre. E Aleijadinho vivia no fim do mundo, nos confins de Minas Gerais no século XVIII. Já Michelangelo vivia entre Firenze e Roma, os centros culturais do século XVI.



Detalhe de escultura de profeta


Mais havia muito mais o que se deslumbrar: descendo as escadarias do pátio, há um caminho circundado por seis capelas, os passos, que representam as Estações da Cruz. No interior de cada capela, Aleijadinho fez esculturas em madeira - policrômicas - arte barroca em um estilo muito original e característico do artista mineiro.  
Vista das capelas






 
Bem, vou falar de Ouro Preto e Diamantina depois, quando chegar lá.

quarta-feira, 10 de junho de 2015

11.3 - Minas. Indicação Geográfica

Indicação Geográfica é um termo usado internacionalmente para designar um produto de origem agrícola, artesanal ou industrial ou ainda a serviços produzido em uma região específica.

O interesse por este assunto foi concomitante ao meu interesse por vinhos, pois nessa área o terroir é fundamental. E foi o vinho que trouxe essa questão ao Brasil. Em 2002, os produtores de vinho do Vale dos Vinhedos, em Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul conseguiram o primeiro IP - Indicação de Procedência para a região. Não foi tarefa fácil; foram 5 anos de trabalho envolvendo produtores, associações e universidades a mapear e caracterizar a região.

O INPI - Instituto Nacional de Propriedade Industrial, criado em 1970, é responsavel pela outorga do selo de qualidade. É uma autarquia federal vinculada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior - tendo como missão a responsabilidade pelo aperfeiçoamento, disseminação e gestão do sistema brasileiro de concessão e garantia de direitos de propriedade intelectual para a indústria.

Por ocasião deste post, o Brasil possui 39 Indicações Geográficas, sendo 31 IPs e 8 DOs (Denominação de Origem). Os produtos são os mais variados: os vinhos do Vale dos Vinhedos, o calçado de Franca, os camarões da Costa Negra, no Ceará, a cachaça de Paraty, a empresa de software de Pernambuco... O ultimo produto a conseguir uma IP, em outubro de 2014, foi a cachaça de Abaíra, na Bahia. Prazer em conhecer!

Em Minas, 7 regiões possuem IP para seus produtos e uma DO. O que dá para conhecer? Depois dessa conversa toda, começo a incluir nas minhas viagens além dos locais que são Patrimônios da Humanidade, aqueles que possuem Indicações Geográficas. Duas listas que mostram a alma de cada região.

A primeira IP de Minas Gerais foi em 2005 - o café do Cerrado Mineiro. Em 2011 foram titulados o café da Serra da Mantiqueira e o queijo Minas artesanal de Serro. Em 2012, O INPI titulou os produtos em estanho de São João del Rei, o queijo da Serra da Canastra e a cachaça de Salinas. Em 2013, olha a surpresa da descoberta!, foi concedido IP para os biscoitos da cidade de São Tiago e o café do Cerrado Mineiro conseguiu a primeira DO - Denominação de Origem para Minas Gerais.

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Selo do Café do Cerrado
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IP Café da Serra da Mantiqueira

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IP Queijo de Serro
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IP Estanho de São João del Rei


O que dá para ver nessa viagem?
Provar o café? Com certeza. A cachaça de Salinas? Talvez em algum boteco.... In loco, o estanho de São João del Rei, o queijo de Serro. Na lista, mas ainda indefinido, os biscoitos de São Tiago.

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IP Queijo da Serra da Canastra
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IP Cachaça de Salinas
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IP Biscoito de São Tiago

 

terça-feira, 9 de junho de 2015

11.2 - Minas. Pewter

Pewter é o nome em inglês para a liga de metais composta de 95% de estanho + 3,5% de antimônio + 1,5% de cobre.

Material usado desde a antiguidade, com registro em documentos egípcios e chineses, pois é um material macio, maleável, de fácil manipulação e com baixas temperaturas de fusão (ele começa a perder a resistência a 180° e derrete a 232°, por isso nunca pode ser levado ao fogo.
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Peças em estanho

Desde o século XIV, ele começou a ser minerado na Europa, a partir do minério cassiterita, encontrado em leitos de rios. Era usado em diversos produtos, geralmente utilitários como tigelas, copos e pratos. Nessa época, o estanho era misturado ao chumbo, mas devido à toxicidade deste último, a liga foi paulatinamente abandonada e substituída pela combinação de antimônio e cobre. O primeiro dá resistência e o segundo reforça sua dureza.  Por ser material nobre, semelhante à prata, era amplamente usado pela burguesia das cidades, por volta do século XVIII.

No Brasil, o pewter chegou junto com os portugueses no período colonial, mas a sua produção aqui iniciou-se tardiamente, na segunda metade do século XX, a partir da iniciativa de um inglês, radicado no Rio de Janeiro, John Sommers, em 1968. Hoje ela se concentra totalmente em São João del Rey, em Minas Gerais, onde apenas 8 (oito) empresas exercem a atividade: Del Arte Estanhos, Faemam, Imperial Pewter, John Sommers, Ophicina Pewter e Santa Clara Estanhos. Hoje, são produzidas cerca de 5 mil peças ao mês.
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Logotipo da Faemam
                                                    
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Fachada da John Sommers
                                               
                                              
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Fachada da Del'Arte
                                            

O processo de fabricação é todo artesanal, feito por profissionais qualificados. As peças são fundidas em moldes metálicos, geralmente ferro fundido e depois torneadas e - por fim - recebem dois acabamentos:
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Artesão polindo estanho
                                           
- O polido: é a cor original do estanho, com alto grau de polimento, onde a peça fica toda brilhante e muito semelhante à prata.
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Estanho polido
                                         
- O fosco: seu envelhecimento é conseguido artificialmente, com banhos de imersão em solução ácida, tornando-se fosca.
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Estanho Fosco
                                      

As peças marcadas com o sinal .X., indicam mais alto grau de qualidade e pureza, além da ausência de chumbo.


Em Minas Gerais, as peças mais antigas em Estanho pertencem ao acervo sacro, como castiçais e tocheiros. Em São João del Rey existe o Museu do Estanho John Sommers, responsável pela catalogação e mostra de peças históricas. Como curiosidade, faz parte desse acervo peças resgatadas no litoral da Bahia, a partir do naufrágio de duas naus holandesas - Utrecht e Huys Nassau, em 1648 com grande conjunto de peças de estanharia europeia.
Monumento ao Expedicionário
Sala do Museu do Estanho
                                         

Desde 2012, três empresas associadas à AAPE - Associação dos Artesãos de Peças em Estanho de São João del Rei - contam com o selo IP (Indicação de Procedência) atestado pelo INPI - Instituto Nacional de Produção Industrial e tem valor internacional.

A marca significa reconhecimento de tradição e importância produtiva, por localidades. 39 outras regiões do Brasil atestam esse selo, sendo oito localidades no estado de Minas Gerais; mas esse é outro post.