quinta-feira, 16 de novembro de 2017

15.7 - Fernando de Noronha - Partiu!

Hora de ir embora. Uma semana na ilha. Acredito que vimos tudo, quase tudo. Não fizemos as trilhas nem do Atalaia, nem dos golfinhos; nos desviamos da praia do Bode...
Impressionados com alguns números da ilha: 4 voos diários, sendo que a Gol chega de Boeing. Cerca de 800 pessoas chegam e partem todos os dias. 4 mil turistas o ano inteiro!
Ao impedir que não-ilhéus se instalem e comercializem na ilha, os noronhenses foram sábios em se proteger da selvageria dos mercados internacionais e seus resorts de luxo, mas criou-se um oligopólio dos serviços turísticos que jogou os preços para o alto. Muito alto mesmo! Noronha é o local mais escandalosamente caro do país!
Mesmo importando tudo do continente, até água, não há nenhuma razão para um prato de risoto custar R$ 100,00 nem a diária de locação de um buggy valer R$ 300,00.
Então a beleza natural da ilha fica contaminada pela exploração comercial. Interessante que todos esses preços valem para os ilhéus: eles também têm de pagar R$ 30,00 para sentar-se embaixo de um guarda-sol e os mesmos R$ 15,00 por uma cerveja long neck.

terça-feira, 14 de novembro de 2017

15.6. Fernando de Noronha. É hoje!

Mergulho em águas abertas! Aqui é o lugar! Mergulhadores de todo o Brasil vem para cá pois é o melhor e mais bonito lugar para se mergulhar.
Vamos a baixa profundidade: 6 a 12 metros. O swell deve ter enfraquecido bem e as ondas no lugar do mergulho devem estar razoáveis.
Um caminhão da Atlantis Divers nos pega na pousada e, rodando pela vila vai catando os outros. Pela bagagem já dá para saber o nível de cada um. Se carregam uma sacola com equipamentos é porque estão há algum tempo na estrada. Estrada do mar!
Para mim é sempre tenso o tempo pré. Não gosto de pular de pé na água.
- olha pra frente, dá um passo e cai, me diz o instrutor, empurrando gentil e firmemente para fora do barco.
Pronto! Pulei!
Claro, não vou sozinha; ainda não tenho ferramentas para isso. Um instrutor me conduz. Conduz por águas verdes e cristalinas. Muito verdes.
Respirar e olhar, observar, gravar na retina e na alma esse momento; essa é a missão.
E respirando e olhando, vou observando o fundo do mar: alguns rochedos, pedras redondas cobertas de liquens que lhe dão um tom areia... algumas telhas quebradas. Telhas? Ninguém me conta o porquê. O primeiro cardume de peixinhos com cauda amarela. São as xiras. Haemulon crysargyreum.



Depois, o Dentão (Lutjanus jocu)



segunda-feira, 13 de novembro de 2017

15.5 - Fernando de Noronha. Eita preguiça!

Ilha da Sela

Noronha é inóspito! Uma ilha oceânica que nasceu da explosão de um vulcão, milhões de anos atrás. Não há solo orgânico, não há fonte de água doce, muito menos árvores. Como se o mar - caprichoso - construísse tanta beleza só para si.

O homem não deveria habitar Noronha. Está aqui de teimoso. O homem primitivo não sobreviveria aqui, não tem água potável! E querem que a gente saia para a rua! Só se for para ficar dentro d’água.
Memorial Noronhense 
Um museu pequeno, localizado na Praça do Cruzeiro, conta - por fotografias- a história da Ilha.
Noronha teve várias fases: a ocupação francesa, depois holandesa e depois inglesa. Como Ushuaia, o pais afirma sua soberania sobre o território com a construção de um presídio para os mais perigosos: os assassinos mais cruéis, os lideres de rebeliões como a Setembrona, a Farroupilha e presídio político também. Desde Getúlio até a ditadura militar. Marighela, Arraes e Gregorio Bezerra ocuparam estas celas.

As histórias de maus-tratos, trabalho forçado, castigos, sempre me comove muito. Saí do Memorial com as emoções mexidas...
Vim para a Praia do Cachorro, a mais urbana delas. Uma pequena enseada fechada por paredões de pedra. Na frente um grande rochedo, um São Bernardo deitado, com o focinho no chão. Por isso, o nome da praia.
3 quiosques garantem o conforto; consumação mínima de R$ 50,00! Long neck custa R$ 12,00. Iscas de barracuda, (o melhor peixe de Noronha!) a R$ 70,00. Assim é Noronha...

sábado, 11 de novembro de 2017

15.3 - A Ilha

Fernando de Noronha foi descoberta em 10 de agosto de 1503 por Américo Vespúcio, numa expedição de Gonçalo Coelho, quando uma de suas caravelas bateu num recife costeiro e naufragou. Bem, mais tarde recebeu esse nome por conta do financiador da expedição: Fernão de Loronha. Foi Vespúcio quem descobriu também, o Rio São Francisco, quando sua expedição de 1508, navegou-o até as cachoeiras de Paulo Afonso.

Abandonada pelos portugueses depois de registrada em sua cartografia (os portugueses eram grandes cartógrafos!), a ilha foi ocupada pelos ingleses no século 16, pelos holandeses no século 17 e pelos franceses no século 18. Aí os portugueses acordaram e perceberam que precisavam cuidar do patrimônio.


Mapa inglês da Ilha, realizado em 1793, baseado em material francês de 1760

Praia do Cachorro, três horas da tarde. Mar estreito entre duas formações vulcânicas, vento swell formando ondas descomunais. Nadinha de entrar na praia. De repente, Cristiano, o dono da barraca passa zunindo ao nosso lado com uma boia na mão. Olho pro mar e vejo duas cabeças, uma perigosamente perto das pedras.
Aí começam momentos de tensão. Ele joga a boia e o náufrago não pega; a boia vai ainda mais perto das pedras. O salva-vidas não titubeia, abandona o equipamento inútil e nada em direção ao homem. A cada braçada, a pergunta: vai conseguir? Sai correndo o garçom para ajudar o resgate. Enfim trazem o náufrago para a areia. Caminhava trôpego até se ajoelhar na areia e, de cabeça baixa, talvez orasse pela vida renascida ou pelo companheiro que ainda lutava contra as ondas.

sexta-feira, 10 de novembro de 2017

15.2 - Noronha. Ilhatour, por onde a ilha começa a se exibir

O passeio começa cedo. 8 horas. Imagine o despertador te acordando às sete da manhã em seu primeiro dia! Um guia, uma camionete, 10 pessoas. Benefícios da maturidade: fomos colocados na cabine com ar condicionado. Os jovens foram para a boleia...

Fernando de Noronha é cênico, de qualquer lugar que se olhe, perde-se o fôlego.

Primeira parada: o mirante do Sancho. Do alto do paredão se vê uma praia curta, de areia clara e do melhor verde do mar. Deslumbrante! A TripAdvisor classificou, em 2017, a Praia do Sancho como a mais bela praia do mundo! Vale! Águas cristalinas, transparentes, cheias de peixes miudinhos, ondas. Não há infraestrutura nessa praia: nenhum quiosque, nenhuma cadeira, nenhum guarda-sol. Parque marinho! O acesso é hard: uma escada vertical presa na rocha, depois um corredor entre pedras, outra escada vertical e já estamos quase ao nível do mar. Mais 185 degraus, quase horizontais e - chegou-se ao paraíso. Nadei muito no Sancho, deu para atravessar a praia toda. Depois snorkeling e o primeiro contato com o mundo submarinho. Sargentos e xirias. O que só eu vi foi um cardume ondulante de peixes miudinhos...


Sargento - Abudefdul saxatilis

Xirias - Haemulon chrysargyreum
O tour continuou, próxima praia: a Praia do Leão Marinho. Inacessível para banhos, parece que turismo é tirar fotos ou - pior - fotografar-se por selfies.Tá certo, fotos são importantes, são as memórias concretas de nossa experiência. Mas uma viagem é muito mais que isso: todos os sentidos precisam ficar aguçados para se absorver as sensações da melhor maneira possível. O silêncio, inclusive. O momento em que se contempla: a cor do mar, a linha do horizonte, o frescor da brisa, a textura dos rochedos, a espuma das ondas....

E vamos para a praia seguinte, porque os tours são sempre assim, intensos: a Praia do Sueste;mais agressiva, onde vimos tartarugas que subiam para respirar e submergiam em seguida e duas espécies de tubarões: tubarão-lixa e  tubarão-limão, espécies pequenas e muito tranquilas, se não molestadas.


Tubarão-limão

Tubarão-lixa
Os tubarões são inofensivos, não atacam humanos. Ao contrário, humanos atacam tubarões. Em dezembro de 2015, um tubarão provocado por um turista decepou-lhe o braço. É o caso mais conhecido e mais comentado na Ilha.... pessoalmente vi os bichinhos nadando calmamente abaixo de mim. Juro que não senti medo...... O medo foi nadar em mar agitado muito perto das rochas.

Por mim, o passeio acabava aí, queria um tempo para absorver tudo que havia visto, sentido e refletido. Qual o quê! Excursões só acabam ao por-do-sol. Toca a conhecer o porto, a capelinha onde é moda se casar nos dias de hoje, a base da Air France. Depois, a praia da Cacimba do Padre e o por-do-sol na praia do Americano, ao sol de jazz e bossa-nova. Terminamos com uma cerveja gelada e a certeza que tudo, tudo foi muito intenso.





quarta-feira, 8 de novembro de 2017

15.1 - Fernando de Noronha

Consegui!



Fazendo parte do projeto da maior parte das pessoas que curte viajar, Fernando de Noronha habita minha lista há algum tempo. Mas é preciso amadurecer o desejo para que a oportunidade se concretize. Desejo maduro, companhia assegurada, era hora de passar à ação. Não é fácil ir para Noronha. Uma ilha oceânica a 300 km a nordeste da costa de Pernambuco sempre é muito longe. Quase perto do Equador.



Localização da ilha em relação à costa brasileira
A Latitude de Noronha é 3º 50’ 25’’ S, nem é o lugar mais equatorial que visitei. Estou curiosa para reler um post (9.1) meu sobre meus extremos geográficos. Vi. O lugar mais equatorial é Algodoal, no litoral do Pará, com latitude de 1º73'29".

Mapa do Arquipélago mostrando a ilha principal e secundárias com suas baías e praias.

Fernando de Noronha é, na realidade, um arquipélago composto por 21 ilhas, se bem que algumas são apenas rochedos que emergem do mar devido à erupção de um vulcão dezenas de milhões de anos atrás. Tudo muito pequeno, somando todas as superfícies: 26 km quadrados! Algumas ilhas podem ser acessíveis com autorização do ICM- Bio, o órgão federal que cuida dos Parques Nacionais. Afinal, Noronha é um parque nacional marinho desde 1988. Tou curiosa para saber dos financiamentos: o Parque Nacional da Serra da Capivara morre à míngua, com recursos quase zero do ICM-Bio.

Devido a sua formação geológica não há lençol freático na ilha nem fonte de água doce. Toda a água consumida provém da dessalinização da água do mar, da captação de água de chuva armazenada num acude construído para tal e das cisternas instaladas nas pousadas. Em anos de seca, como foi 2016, o açude chega a secar, restringindo em muito a oferta da água. Água potável vem de Recife, num barco que chega todas as terças-feira, nos familiares galões azuis de 20 litros.

Não há solo orgânico. sobre as rochas vulcânicas nada viceja.
Solo vulcânico: pedras e água salgada
Pedras vulcânicas,  base de todos os caminhos em Noronha

Praia com paredão rochoso ao fundo


As praias, de formação sedimentar são resultado do acúmulo durante o período pós-erupção de material calcário oriundo da fragmentação de crustáceos e peixes.

Rochedo ao final da ilha, com buraco que "lembra" o mapa do Brasil, conhecido como Ponta da Sapata
A viagem foi picadinha: PINDA até o RIO, depois BELO HORIZONTE e agora RECIFE, só depois NORONHA. Fuso horário confuso; horário de verão em Pinda, Recife - horário normal e Noronha, uma hora mais tarde...

Confesso que estou um bocadinho ansiosa,  a informação que faremos o último trecho num avião menor e mais antigo, - um ATR - precursor dos jatos atuais, que voa bem mais baixo não me deixa segura. Surpresa boa, a saber logo no embarque em Recife: o avião foi substituído por um EMBRAER, mais moderno e a viagem transcorreu sem problemas.

A chegada à Noronha é confusa: dois aviões chegam ao mesmo tempo, um da GOL e outro da Azul. Como é necessário o pagamento de uma taxa de entrada na ilha ou a checagem do pré-pagamento, as filas se amontoam no exíguo salão..... É uma taxa cara, pois é cobrada por dia de permanência na ilha; R$ 68,74 por dia. Para estrangeiros a taxa é muito maior. Alguém me falou em USD 90/ dia. Consultei a versão em inglês do site oficial, mas eles são mudos sobre o assunto. Comparando a outros lugares turísticos é desanimador: Bagan, em Myanmar custou-me USD 25 pelo período inteiro e Angkor, no Cambodja custou-me USD 63 por 3 dias.... Eh, não é fácil atrair estrangeiros para o Brasil quando nossas políticas públicas são tão vorazes!

Mais alguma coisa ainda estava por vir: acomodados na Pousada do Dodó, corremos para a praia para um banho de mar que nos batizasse por toda aquela lindeza. Chegamos à Praia da Conceição, bem em seu comecinho, onde o Bar do Meio a separa da Praia do Meio. Um banho, o sentar-se para contemplar o por do sol. Merecia uma cerveja, um ficar a olhar a luz desaparecer no horizonte, a contemplar as tribos que chegam à Noronha, a ouvir a música ao vivo... Suave entardecer..... Na hora de pagar a conta, um punhal imobilizante: R$ 66,00 por 2 Heinecker com couvert artístico.

Eh, Noronha é para poucos!


terça-feira, 17 de outubro de 2017

quarta-feira, 20 de setembro de 2017

14.4 - São Cristóvão - SE

São Cristóvão é uma pequena cidade a 20 km de Aracaju. Ela passou a existir no meu imaginário há alguns anos quando consultava o site da UNESCO, sobre os Patrimônios Culturais da Humanidade existentes no Brasil. E lá aparecia São Cristóvão, em Sergipe.
Como assim? O que aconteceu em Sergipe sem que eu tenha percebido?


A breve descrição do motivo da Praça de São Francisco tornar-se Patrimonio Cultural da Humanidade,estava ali.
Transcrevo, porque vale a pena: 

São Francisco Square, in the town of São Cristovão, is a quadrilateral open space surrounded by substantial early buildings such as São Francisco Church and convent, the Church and Santa Casa da Misericórdia, the Provincial Palace and the associated houses of different historical periods surrounding the Square. This monumental ensemble, together with the surrounding 18th- and 19th- century houses, creates an urban landscape which reflects the history of the town since its origin. The Franciscan complex is an example of the typical architecture of the religious order developed in north-eastern Brazil.


The São Francisco Square, in the town of São Cristóvão, in the North East of Brazil, is an exceptional and homogeneous monumental ensemble made up of public and private buildings representing the period during which the Portuguese and Spanish crowns were united. The São Francisco Square constitutes a coherent and harmonious ensemble which merges the patterns of land occupation followed by Portugal and the norms defined for towns established by Spain. Established in accordance with the length and width required by Act IX of the Philippine Ordinances, this square incorporates the concept of a Plaza Mayor as employed in the colonial cities of Hispanic America, while at the same time inserted in the urban pattern of a Portuguese colonial town in a tropical landscape. Hence, it may be considered a remarkable symbiosis of the urban planning of cities of Portugal and Spain. Relevant civil and religious institutional buildings, the main one being the complex of the Church and Convent of São Francisco, surround the square.




Igreja e Convento de São Francisco
São Cristóvão está tombada tanto pela Unesco quanto pelo IPHAN. Está protegida. Prontinha para receber turistas. Ou quase! Por ser uma tarde de domingo, tudo estava fechado e não tivemos acesso a nenhuma parte interior desse patrimonio. Há alguns guias pelo centro histórico com as informações básicas.

Quando paramos o carro, nosso primeiro movimento foi colocar o João Para correr nessa amplidão, pois havíamos pego 3 horas de estrada.

João correndo na Praça São Francisco
Chegou um guia e ficou de soslaio. Aos poucos, foi chegando e contando a história. E João correndo..... e a conversa foi encompridando, uma historinha aqui outra ali ... e João correndo....
Por fim, ele perguntou:
- Vocês são estrangeiros?
- Não.
- É que vocês entendem tudo o que a criança fala!

Parece Guimarães Rosa, hein?

E a sensação que Paraty foi assim, linda e vazia há 30 anos não nos abandonava. O potencial turístico de São Cristóvão nos afogava. O ser empreendedor aqui dentro se agitava: era hora de comprar imóveis de investir em São Cristóvão. Ah, se fosse mais perto!





sexta-feira, 8 de setembro de 2017

14.3 - Piranhas, Alagoas.

Alagoas ficava do outro lado do rio, da janela do meu hotel. Uma ponte sobre o São Francisco ligava os dois estados - Sergipe e Alagoas e as duas cidades: Canindé e Piranhas. A primeira com população de cerca de 30 mil habitantes e a segunda com 25 mil.

Ponte sobre o Rio São Francisco entre Canindé -SE e Piranhas - AL
Piranhas foi uma doce surpresa; casario português de 300 anos, muito bem conservado e pintado em tons pastel de amarelo, verde, bege e azul, ruazinhas geometricamente cortando o morro em linhas.

Entrada da cidade de Piranhas - AL

Visão do casario em tons pastel

Lampião na porta da lojinha de souvenires

Delicadeza nas linhas e nas cores

Piranhas é fruto direto da Estrada de Ferro Paulo Afonso, hoje desativada.

quinta-feira, 31 de agosto de 2017

14.2 - Canindé de São Francisco

Canindé de São Francisco é uma pequena cidade no noroeste de Sergipe a 213 km da capital. Tem esse nome saboroso por estar à margem do Rio São Francisco e sede da Represa Hidrelétrica do Xingó.

Canindé apareceu na nossa vida por abrigar um dos trechos mais bonitos do rio: seus canyons! São 65 km de rio correndo entre paredões de arenito vermelho, entre Xingó e Paulo Afonso.Belezura!

Carro alugado, Alexandre no volante, João na cadeirinha de trás, seguimos embaixo de céu nublado e tempo ameno.Estrada reta, reta, andamos a 60 metros de altitude.Surpreendentemente verde, apesar de ser região do semi-árido. Tá certo que a catinga floresce verdejante nos tempos de chuva.... lição apreendida nas minha viagens ao Piauí.

No começo, plantações de cana-de-açúcar. Pouca! Depois sorgo... alguns passarinhos pretos a comer grãos ainda no pé.

sexta-feira, 25 de agosto de 2017

14.1 - Sergipe

A oportunidade de conhecer Sergipe surgiu quase do nada, a partir de um convite de Alexandre:
- Terei 4, 5 dias de folga ao fim de agosto, você não quer fazer uma viagem comigo e João?
- Claro, respondi, não perderia por nada. Para onde iríamos?
- Pensei em Tiradentes.
- Ou Visconde de Mauá. Nem conheço.... Acabo parando sempre em Penedo.
- Pode ser de avião, mãe...
- Floripa!
- Muito frio nesta época. Pode ser no Nordeste.
Esqueci o final do diálogo, mas acabamos optando por Sergipe que, de tão esquecido, nunca havia estado lá.

O que não estava previsto é que - à época da viagem - estaria com uma lesão no joelho e mobilidade reduzida. Mas como a proposta seria alugar um carro, avaliei ser viável. E com a previsão de chuva em ARACAJU, embarcamos pela Gol, naquela que seria a primeira viagem de avião do João.

Não acho que João, em seus quase dois anos de idade, tenha compreendido o que significava andar de avião. Ele viu as nuvens, a asa do avião, talvez tenha sentido o frio na barriga naquela curva ascendente em Guarulhos, mas não deve ter associado a nada. Dormiu no fim da viagem e acordou em terra, dentro do aeroporto e não entendeu. 
- Cadê o avião, perguntou?

Alugamos um carro na MOVIDA e começamos a rodar pela cidade; o aeroporto é central, então caímos num bairro que lembrava um pouco Belém, no Pará... chegando ao nosso hotel na orla. Atalaya é o nome duma praia onde a especulação imobiliária não entrou, nenhum prédio tem mais de três andares. Nem nosso hotel, o CELI HOTEL. Adorei a decoração do lobby, muita cerâmica de qualidade, de tema regional.Cangaço, caatinga... Quero todas, pensei.

E, quinze minutos depois, uma tragédia: uma torção no joelho já destruído me botou no gelo e na cadeira de rodas.....




segunda-feira, 17 de julho de 2017

13.43 - Ásia - Ponto Final

Estou em casa, em pleno jet lag das 30 horas de voo. É quase atravessar o mundo! Pergunto-me o saldo. Estive em países que passaram por projetos políticos muito autoritários por longos períodos, muito recentemente e - há muito pouco tempo - se inserem no mercado de consumo. Outdoors da Samsung e da Toyota são muito recentes por lá.

... alguns dias se passaram antes que eu voltasse a este texto; não conseguia fazer uma síntese dessas sete semanas na Ásia. Descolei-me de maneira muito intensa da minha realidade cotidiana que não conseguia amalgamar as vivências a essa superfície rasa que é a vida organizada do dia a dia. Estranhamente não senti saudades da minha casa, das minhas coisas; minha casa ou um quarto de hotel ofereciam o mesmo abrigo.

Mudou a minha energia e isso não se quantifica: tantas massagens, tantos templos, meditação e solidão me colocaram em outro patamar.Percebo que enfrentei muitos desafios: a todo momento tinha de lidar com uma situação em que não conhecia os códigos.

Foi uma viagem substantiva: foram 17 voos, 10 viagens rodoviárias, 232 km de caminhadas, temperaturas maiores que 40 graus em alguns momentos. Tantos voos têm uma explicação: quase todas as vezes que voei de uma cidade à outra, precisava fazer uma conexão em Bangkok. Claro, ficou um roteiro esquizofrenico, pois - muitas vezes - viajava para leste, em latitudes muito próximas e tinha de descer até o sul, até Bangkok e voltar novamente.

Faria outro roteiro? 
- Sim e não. Organizando a viagem aqui no Brasil, este foi o roteiro possível que consegui montar. Lá - depois de conhecer geografias e rotas, percebi que havia muita coisa a mais. Talvez a mudança mais importante seria ter feito Chiang Mai a Luang Prabang por barco, pelo Mekong.... teria sido muito mais interessante!
Mas é muito fácil propor mudanças no passado, olhando de outra perspectiva.... Isso não é a realidade.

Voltaria?
- Mil vezes, Há tanta coisa por se descobrir em outros lugares ou nos mesmos lugares..... outro olhar.... outras ferramentas.

Gastei pouco, bem menos que imaginava:
- passagens aéreas:         R$ 4.905,00
- vistos                            R$   593,00
- hotéis:                          R$ 4.178,00
- comida e outros gastos:  R$ 4.668,00
- tours                             R$ 1.003,00
- IOF                               R$    903,00
Total                               R$ 16.250,00. 
                                     USD   4.973 USD (cambio de 3,268 reais por dólar)

Não contabilizo as compras. É um item muito pessoal, varável de acordo com o dinheiro disponível, o limite de bagagem e a oferta de coisas interessantes. Mesmo usando o cartão de crédito apenas para as compras de aeroporto, o IOF é uma parcela considerável. 900,00 reais!

Vou consultar postagens antigas mas deve ser o mesmo valor que gastei numa viagem de 20 dias na Turquia, há 2 anos. Aqui foram 45 dias!

Ah, mas preciso contar da Guamnyn, a deusa budista da gratidão. Apaixonei-me por sua imagem quando a vi, empoeirada e suja, numa pequena loja de antiguidades em Vientiane, no Laos. Era cara, bem cara, talvez o mais caro mimo que já me dei de presente. Paguei à vista e solicitei que a despachassem para o Brasil. Como já falei, na Ásia, tudo é uma questão de confiança.... há de se confiar. Ela chegou três dias depois da minha volta. Chegou quebrada! Sua coroa frágil não suportou a embalagem inadequada.... 


Guamnym no momento da desembalagem, sua coroa não suportou a pressão.

As peças quebradas e a dor no coração
A transportadora DHL, depois de comunicada, ressarciu-me das taxas alfandegárias (100% do valor do produto). A loja que me vendeu apesar de comunicada por e-mail duas vezes, nem tomou conhecimento. Soube pela DHL que ela recebeu o seguro para repor a peça, mas não aconteceu nada.

Consegui restaurar a peça; paciência, habilidade e materiais certos. Aí, a minha experiência em mosaicos (que é a arte de colar cacos) ajudou muito. Hoje ela enfeita minha sala com serenidade e iluminação.


Guamnyn - restaurada e nobre, iluminando minha sala
Só um sentimento para terminar esta história: Gratidão!

sexta-feira, 2 de junho de 2017

13.42 - Ásia. Mercado Flutuante de Amphawa

A 60 km de Bangkok, na cidade de Samoc Sakorn, está o distrito de Amphawa, onde nos fins de semana acontece o mercado de rua e - um pedaço dele é feito nos barcos. 

Rio Amphawa e seus barcos restaurantes
É um mercado de poucos turistas e muita gente da terra. O forte é a comida. Asiático adora comer na rua e há toda uma expertise em cozinhar e vender em espaços provisórios.

Cozinha flutuante

Os clientes sentam nos degraus à margem do rio e comem nessas mesinhas de plástico colorido
 
Deu para entender?

Faltavam umas comprinhas, aquelas miudezas de valor afetivo. Terminei-as por lá depois que achei 50 dólares esquecidos na carteira. Tendo Winai e Nok por guias, pude experimentar o que há de melhor em comida de rua. Senti falta dessa assessoria nos outros países, poderia ter ido mais fundo...

E assim termino minha viagem pela Ásia. As malas estão prontas, check-out realizado. Chegando a Bangkok, só mudar de roupa pegar as malas e ir para o aeroporto. 

Despedida. Voltarei outra vez? Há desejo e há possibilidades.
 

quinta-feira, 1 de junho de 2017

13.41 - Ásia - Bangkok - meu intervalo comercial

Bangkok foi a porta de entrada e a porta de saída. No aeroporto de Saigon (gosto mais desse nome do que Cidade de Hô Chi Minh), o avião teve de voltar para o Terminal porque quebrou alguma peça e não conseguiu decolar . Eu e todo mundo pensamos:
- Ainda bem que quebrou em terra!
Uma hora depois decolamos sem nenhuma explicação. Foi um voo com turbulência, quanto mais as turbinas zuniam, mais medo eu sentia.

Mas chegamos bem, aeroporto vazio e bem conhecido, saí rapidinho. Hotel longe, beirando Rio Chao Phraya. Chegando à noite, foi meio assustador, um bequinho cheio de quebradas. 

- Arrependida? Perguntei -me. 

Tentava me convencer que estar ali a beira do rio, quase pondo a mão na água enquanto tomava cerveja no bar do hotel e apreciava os monumentos iluminados de outro lado, havia sido escolha minha. 

Visão noturna de Bangkok com Palácio Real ao fundo

Mas à luz do dia tudo ficou diferente; acordei em meio a um grande mercado de rua, ao lado do pier, frequentado pelos locais, foi um grande presente. Centenas de barraquinhas com todos os tipos de comida que os tailandeses comem, mais as barraquinhas de flores para Buda, além de outra centena vendendo roupas, calcados e brinquedos chineses. Baratos e de baixa qualidade.
Balsas atravessando rio Chao Phraya

Pier ao lado do hotel

Ah, três casas de massagens! Meu último presente a mim mesma: tai massagem de uma hora e meia! E se eu disser que a massagista, já velhinha e miúda, vestida de preto, é claro! subiu e ficou em pé sobre mim. Caminhou sobre minha coluna e pernas... e era muito bom!

Winai, Nok e Lai Hemn estão comigo e vão me entregar no aeroporto em algumas horas. 


Ontem passearmos por Bangkok: o mercado local, o almoço no restaurante popular e de qualidade por R$ 6,00 e depois conhecer o Templo de Wat Pho.

Urnas funerárias-monumentos com as cinzas dos reis Rama II, Rama III, Rama Iv e Rama V em Wat Pho

Grand Buda deitado em Wat Pho


Dezenas de potes para receber moedas e desejos. Para cada urna, um desejo


terça-feira, 30 de maio de 2017

13.40 - Ásia- O Budismo no Vietnã

Há alguns temas que passaram ao longe de nossas vidas. Um deles é a história da Ásia. Apesar de ter o mesmo grau de civilização ou até mais desenvolvida que a Europa, nossa educação nunca levou em conta 2/3 do mundo. Então, viagens como essa te dão um olhar bem mais crítico sobre a organização geopolítica do mundo.

Por exemplo, Angkor foi contemporânea de Roma e tinha os mesmos 1 milhão de habitantes... sabemos o nome de todos os Imperadores de Roma, de alguns até uma biografia mais detalhada como o nome dos amantes e do cavalo. De Angkor, nem sabíamos da existência...

Tudo isso para falar do Budismo no Vietnã. Não me preparei para o Vietnã. Entrei nele com meus 6 sentidos aguçados e deixei que eles me guiassem. E aos poucos fui percebendo que ele não se confunde com os outros países vizinhos.

Primeiro, é uma etnia diferente: nem Mon, nem Tai, nem Khmer. Já, já descubro de onde vieram...
Segundo, Vietnã era rota comercial entre Índia e China, as duas grandes civilizações mais antigas. E o Budismo caminhou nessa rota. Com influências hinduistas, o Budismo Mahayana chegou à China, Japão, Coréia, Tibete e Vietnã. O Budismo Theravada, praticado no Sri Lanka, Tailândia, Myanmar, Laos e Cambodja segue outro caminho. 


Não sei a diferença, tá? Imagino algo como católicos e protestantes....

Buda - uma para cada dia da semana - Tailândia
 
Budas de origem Theravada em Shwedagon - Myanmar
A primeira diferença é a imagem de Buda: enquanto no Theravada é um Buda longilíneo, orelhas de vaca, olhar e sorriso indefinidos, representado sempre em ouro ( as vezes em Branco), no Budismo Mahayana , é um Buda gordo, barrigudo, careca. Buda Feliz! Happy Buddha! Ou então é uma imagem de gênero indefinido, com muitos adornos como brincos e colares.





Os templos também são diferentes; os Mahayana tem muita madeira esculpida, são menores, mais contidos. Os Theravada, são mais suntuosos, mais exibidos.




O comportamento dos monges também é diferente. Nos países de Budismo Mahayana não se vê monges nas ruas, apenas dentro dos templos. Já, os Theravadas começam o dia pedindo comida nas ruas e são visíveis em todos os lugares, inclusive nos shoppings.



Chamou a atenção o fato de muitos andarem descalços. O maior sol, as pedras do chão queimando, e eles andando normalmente, como se nem percebessem o desconforto.


O piso de Shwedagon às três da tarde deve chegar a uns 70 graus!
Em algum dos meus voos, nem me lembro mais qual, voaram comigo 3 monges de idade indefinida; 2 estavam descalços.

E os mosteiros tem uma importância política intensa... ja, já conto algumas histórias.