terça-feira, 27 de janeiro de 2015

10.15 - Patagonia. Chegou o cartão postal

Em Ushuaia - melhor - no Parque Nacional del Fin del Mundo, há um posto de correio. O mais austral do planeta, localizado na Baía Escondida.



Correo Del Fin Del Mundo

Por bobeira, esquecemos nosso passaporte no cofre do hotel e lamentamos não carimbar nele a lembrança deste lugar único.

Então, compramos cartões postais, de fotos antigas de Ushuaia e mandamos - Antonieta e eu, postais uma para outra, como nos velhos tempos em que viajávamos e, muitas vezes, depois de horas andando e desbravando lugares, nos sentávamos em um café e ficávamos a escrever cartões postais como lembranças de viagem.




Com a internet, isso se perdeu, mas aqui - neste lugar especial, resgatamos parte desse cultura. E o cartão chegou em casa no dia 20 de janeiro de 2005, 23 dias depois de ter sido postado em Ushuaia.




domingo, 11 de janeiro de 2015

10.14 - Patagonia. Encontrei o poema certo

Em minha primeira noite em Ushuaia sabia que estava desfrutando de um por de sol único. Era - no Hemisfério Sul, o mais tardio sol de verão visto por uma pessoa, excluindo a Antártida, é claro. Deixei a emoçao fluir, deixei que a poesia viesse. Ela sempre me faz companhia nos momentos em que não é necessário falar.

E a poesia que veio foi a de Fernando Pessoa. Não sabia o nome e arrisquei um. Não consigo memorizar poemas palavra por palavra,mas guardo deles a sua essencia.

E o poema foi evocado pela imagem de um navio que se afastava do porto  "... e quando o navio larga do cais e se repara de repente que se abriu um espaço entre o cais e o navio, ..."

Esse momento de melancolia ficou girando na minha alma, a luz do sol se dourando mais e mais na baía e nos montes.

Agora tenho o poema inteiro. Muito melhor que eu me lembrava.

Ode Marítima

Sozinho, no cais deserto, a esta manhã de Verão,
Olho pró lado da barra, olho pró Indefinido,
Olho e contenta-me ver,
Pequeno, negro e claro, um paquete entrando.
Vem muito longe, nítido, clássico à sua maneira.
Deixa no ar distante atrás de si a orla vã do seu fumo.
Vem entrando, e a manhã entra com ele, e no rio,
Aqui, acolá, acorda a vida marítima,
Erguem-se velas, avançam rebocadores,
Surgem barcos pequenos detrás dos navios que estão no porto.
Há uma vaga brisa.
Mas a minh’alma está com o que vejo menos.
Com o paquete que entra,
Porque ele está com a Distância, com a Manhã,
Com o sentido marítimo desta Hora,
Com a doçura dolorosa que sobe em mim como uma náusea,
Como um começar a enjoar, mas no espírito.

Olho de longe o paquete, com uma grande independência de alma,
E dentro de mim um volante começa a girar, lentamente.

Os paquetes que entram de manhã na barra
Trazem aos meus olhos consigo
O mistério alegre e triste de quem chega e parte.
Trazem memórias de cais afastados e doutros momentos
Doutro modo da mesma humanidade noutros pontos.
Todo o atracar, todo o largar de navio,
É — sinto-o em mim como o meu sangue —
Inconscientemente simbólico, terrivelmente
Ameaçador de significações metafísicas
Que perturbam em mim quem eu fui…

Ah, todo o cais é uma saudade de pedra!
E quando o navio larga do cais
E se repara de repente que se abriu um espaço
Entre o cais e o navio,
Vem-me, não sei porquê, uma angústia recente,
Uma névoa de sentimentos de tristeza
Que brilha ao sol das minhas angústias relvadas
Como a primeira janela onde a madrugada bate,
E me envolve com uma recordação duma outra pessoa
Que fosse misteriosamente min
ha.

domingo, 4 de janeiro de 2015

10.13 - Patagônia. Gastronomia Argentina

Sempre se come muito bem na Argentina. Quando o cambio peso-real é favorável aos brasileiros uma horda deles, principalmente paulistanos, "dá um pulo" até Buenos Aires para apreciar um bom bife de chorizo acompanhado de um malbec.

Fiz isso um par de vezes e nunca me arrependo. Mais que isso , já percorremos, Alexandre e eu, a Argentina inteira atrás da melhor "morcilla". Ironicamente fomos encontrá-la no Mercado Central de Montevideo.

Dessa vez, na Patagônia, não foi diferente: onde e o que comer?

De cara, no primeiro dia, em Ushuaia, encontramos o Restaurante La Rueda. E foi uma festa! Oferecia um menu fixo a R$ 70,00 (feita a conversão 4:1) e além de um bufê de saladas, onde se destacava uma de grandes favas brancas, como feijões, misturadas à berinjela. Os vegetarianos parariam por aí, mas fomos adiantem rumo ao grande assador, o braseiro circular, onde as carnes lentamente assam. 

O "cordero patagônico", ali no lugar onde ele é criado e morto aos 3 meses, em seu próprio terroir, é o carro chefe, é claro. Melhor, impossível. 


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Cordero Patagonico en La Rueda

Foi o grande encontro, buscado desde Paraty, passando por São Paulo e Buenos Aires. Foi ali, num restaurante do fim do mundo onde ele se expressou de maneira magnífica.


Centolla Gratinada

Cazuela de Mariscos


Mas Ushuaia é beira-mar, além de ser um porto internacional, certo? Então, a centolla e o salmão são iguarias locais. E foi num restaurante na Avenida Maipu, a avenida beira-mar , chamado Restaurante Tia Elvira que a centolla, cozida e desfiada, servida com molho Golf, uma estupidez de catchup e maionese, apareceu soberba. Claro, esqueça o molho e peça maionese simples.
El Assador Circular
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Na noite de Reveillon, no Restaurante Kaupé, nos foi apresentadao o ceviche de vieiras, como entrada. Perfeito, poderíamos ter ficado apenas nele a noite toda.


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Peixe embrulhado em massa, no menu de Reveillon no Kaupé


Em El Calafate, a horda de turistas, tal como gafanhotos devorou tudo, mas ainda houve tempo para apreciar, no Restaurante Casablanca, as empanadas de cordeiro, feitas com carne cortada à faca e não, carne moída.


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Empanadas de cordero, no Casablanca

 De sobremesa, por supuesto, dulce de leche, sempre, em todos os restaurantes. Interessante, que o doce de leite sozinho, não é muito valorizado. Ele vinha acompanhado de batatas doces caramelizadas ou então, disfarçado num pudim. Bobagem! O que conta sempre é a essência.

Os vinhos, optamos,na maioria das vezes pelas bodegas da Patagônia  a Bodega del Fin del Mundo, a Newquén, e a NPC. Estranhamente, a melhor uva da região, a pinot noir, era rara de ser encontrada, mas achamos um bom blend syrah-malbec, chamado Postales, da Bodega del Fin del Mundo.




Para as centollas, esnobamos. Tomamos o chardonnay Angelica, da Catena Zapata, que no Brasil é impensável pelo custo. No reveillon, tomamos vinhos da Bodega Rutini. Torce o nariz para os chardonnays de Mendoza, mas pela fartura ( e como foi farto!), ao final nem importava mais. Tentei lembrar do tinto, mas mesmo vendo a site da Rutini, nenhum me pareceu familiar.


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En El Calafate encontrei, numa loja especializada em vinhos uma preciosidade a peso de ouro: um pinot noir, de uma pequena vinicola da região, dum lote de apenas 2.000 garrafas, assinadas à mão. Vinho digno para celebrar meu aniversário daqui a pouco.

10.12 - Patagonia. A cultura da ovelha na Patagônia







O primeiro domingo de 2015 - este primeiro fim-de-semana do ano - um tempo de transição entre o o momento que se foi e o que virá, surgiu esplêndido na Província de Santa Cruz, na estepe patagônica.


Ainda sob o encantamento dos glaciares e - inviabilizada a viagem até o Parque Nacional de Torres del Paine, no Chile - nos dispusemos a conhecer uma estância que lidou, no passado, com a cultura de ovelhas e o comércio de sua lã e hoje, aposta no turismo. Seu principal produto a ser mostrado é o modo de vida do estancieiro  no inicio do século XX na região.





A estepe da Patagônia é uma região plana, imensa, abrangendo todo o sul do continente; desértica. Pouca chuva, muito vento e frio. Nenhuma árvore suporta condições tão adversas; vemos apenas pequenos arbustos retorcidos, espaçados e tristes. Mas as ovelhas, sim. Bichinhos resistentes com uma grossa camada de lã a protegê-las, vivem na Patagônia com a mesma desenvoltura que viviam na Inglaterra e Irlanda.


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A ovelha não é um animal nativo. Foram introduzidas a partir das Ilhas Malvinas, pelos ingleses. As primeiras famílias de ingleses chegaram às Malvinas em 1933 e a partir daí, estrategicamente, entregavam as ovelhas aos argentinos (os gaúchos) e levavam a lã para as fábricas inglesas.

Desde 1876, quando Francisco de Souza Moreno, "el perito", terminou a cartografia da Patagônia e resolveu as pendências de fronteira com o Chile,  houve uma ocupação estratégia da região. Ocupação embasada na distribuição de terras para a cultura de ovelhas, já que a agricultura é impossível aqui pela hostilidade da natureza. As terras eram concedidas por 10 anos como arrendamento e depois, se cumprida as exigências legais,  tornava-se propriedade do ocupante. Parece que as ovelhas vinham juntas pois era a única forma de ocupação possível nessa terra gelada e ventosa. Dai, o nome Estância, que era um lugar para "se estar".

Ah, vou contar, o vento aqui "és inomináble, porque se lo llamamos, ele viene".

O auge da economia ovina foi durante a Primeira Guerra Mundial; a Europa comeu suas ovelhas e ficou sem lã e precisou importar lã da Argentina. Os estancieiros ganharam muito dinheiro nessa época. Tosquiavam, enchiam as carretas com elas e partiam em caravana para Porto de Rio Gallegos, um pouco mais ao norte, onde ela embarcava com destino à Inglaterra.

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Os navios, tal como a história de Paraty, para fazer lastro, vinhas carregados de chapas corrugadas de zinco, que jogavam no porto enquanto se empapuçavam de lã. Os gaúchos, então, usavam este material para fazer casas. Todas as casas típicas da província de Santa Cruz, onde se localiza o Porto de Rio Gallegos são desse material. Se houvesse dinheiro, faziam um recheio de papel, lã e madeira; senão apenas a chapar fria a suportar até os 20 graus negativos que se faz no inverno.




Essa eu não sabia, a ovelha não tem dentes na arcada superior, então ela pasta arrancando a grama com raízes. Como aqui, pelo frio, o tempo de crescimento dum vegetal é muito curto, o dano ambiental é considerável. Então, uma lei federal limitou o número de animais por hectare. Menos ovelhas, menos rendimento, mais estancieiros trocando ovelhas por gado.

A grande tragédia aqui, na província de Santa Cruz, aconteceu na década de 90, do século passado: uma erupção vulcânica em 1991, do vulcão Hudson, cobriu os pastos de cinzas, ocasionando grandes perdas. Para piorar, em 1995 tiveram o pior inverno dos últimos 100 anos, além de mais intenso, as nevadas chegaram precocemente, 4 meses antes, pegando os estancieiros desprevenidos, com suas ovelhas em pastos abertos e longínquos, - os pastos de verão. Não houve tempo de transportá-las para local mais abrigado e 1,5 milhões de ovelhas morreram.

Dos 7 milhões de animais, restam hoje apenas dois milhões.

sábado, 3 de janeiro de 2015

10.11 . Patagonia. El Calafate






El Calafate é uma pequena e sofisticada cidade de 12 mil habitantes, localizada ao pé dos Andes, às margens do Lago Argentino, o maior lago do país. É uma cidade de turismo, atraindo pessoas de todo o mundo para ver seus glaciares. Se não fosse por eles, seria apenas um pueblo perdido na estepe patagônica. 





El Calafate é uma cidade em construção, com a impressão que os hotéis estão brotando do chão. Há uma preocupação com a estética: jardins e flores bem cuidados, arquitetura harmônica conversando bem com a paisagem.

Está cheia de turistas: italianos e argentinos são a maioria; incrível, aqui se ouve pouco português, e - também - chineses chegando com seus bebês de roupinhas coloridas.

A UNESCO calcula que todo lugar que ostenta o selo de Patrimônio da Humanidade como aqui, recebe 6 milhões de turistas ao ano. E isso deve acontecer aqui. É por isso que Niéde Guidon se descabela tresloucadamente pela inauguração do aeroporto em São Raimundo Nonato, no Piauí. Ela quer sair dos seus 20 mil turistas ao ano para esse número que a UNESCO prega. Isso daria sustentabilidade ao Parque Nacional da Serra da Capivara. Projeto que passei a incorporar como importante na minha vida, desde que o conheci há três anos atrás.

E o que tantos turistas vêm ver aqui? O Parque Nacional de los Glaciares. Formações de gelo ao pé da Cordilheira dos Andes que tiram o fôlego de cada um.





É um lugar para se voltar. Não nos feriados de fim-de-ano quando há gente demais, mas no outono. Fins de maio, talvez, quando os bosques perto da Cordilheira se tingem de fogo em seus vermelhos, amarelos e dourados. Todas as cores da Natureza servindo como molduras a campos de gelo formados há milhões de anos atrás.

Voltarei.

10.10 - Patagonia. Glaciares

Os glaciares se formam em alguns lugares do planeta, em condições meteorológicas específicas: vento, chuva, altitude e neve. Temos a Groenlândia,  na Noruega e aqui na Patagônia. Penso que o gelo polar não é um glaciar.




Aqui, em El Calafate, ao pé dos Andes, no paralelo 50° 20' 26" S e meridiano 72° 16' 12" W se encontra o Parque Nacional de Los Glaciares, com mais de 300 glaciares.

É tao intensa a emoção de contemplar um glaciar ou um iceberg (témpano) que me pergunto como expressá-la: ¿será por uma foto ou um texto? ¿Serão os olhos a guardar a sublime imagem ou será a alma?


¿Onde ficará guardado o meu glaciar?

A alma fica alimentada, nutrida e aquecida por ter contemplado esta grande obra da natureza. As pessoas devem vir ao Parque Nacional de los Glaciares que, desde 1981, foi declarado pela UNESCO como Patrimônio Natural da Humanidade. ¡É algo tao especial e  comovente!

Ontem eu li sobre os icebergues flutuando à deriva, rumo ao seu destino líquido. Líquido destino! É de outro destino a natureza humana: subterrânea, rumo ao pó ou às cinzas.

Claro, se fotografa um glaciar. Me pergunto se as pessoas vêm, se compreendem com a plenitude dos sentidos aquilo quem a lente vê.

O que um bloco de gelo flutuando solitário rumo a seu líquido destino evoca? Para mim, será sempre o silêncio, a solidão essencial. A ausência de ruídos em seu movimento, a pureza da luz azul capturada em seu interior; tudo me fala de essências.

Talvez o glaciar represente algo intangível: a iluminação interna, a sabedoria que cada um vai absorvendo pela Vida. E essa luz interna, imaterial, intangível, mas perceptível, que o glaciar expõe.

Ontem me disseram que esse azul é uma ilusão de ótica. Todas as cores estão lá e o azul é apenas a que se reflete, a que podemos ver. Que os outros vêm em nós... e a identificação com o glaciar flutuando solitário rumo ao seu líquido destino ainda é mais intensa quando nos deparamos com as fendas, as gretas em sua superfície. Não somos todos assim, com nosso brilho azul fendido, mil pontas esmurrando nosso cotidiano?

E quantas luzes não compartilho, compactadas em minhas entranhas, testemunhas de meu solitário destino?

Foram essas as reflexões que Upsala, Perito Moreno e Spegazzini - os glaciares que avistei - provocaram.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

10.5 - Patagonia. A Cordilheira Fueguina

Gostaria de compreender um pouco mais de geologia para entender as peculiaridades de cada lugar que visito.

Aqui, na Isla del Fuego, é o fim da placa tectônica que percorre toda a região desde o México (será isto?). Terremotos a toda hora em algum lugar dessa placa. Mas foi com o movimento desta placa que surgiu a Cordilheira dos Andes, com seus picos pontiagudos de rochas magmáticas (ah, lembrei-me da palavra). Há um outro grupo de montanhas, de picos arredondados, de outra origem geológica: sao rochas sedimentares, resultado da erosão ou do acúmulo de lavas vulcânicas, preciso entender isso melhor....

Bem. em todo o lugar que há montanhas com gelo no  cume, há vales e lagos para onde escorre a neve derretida no verão. Aqui há dois belos exemplos deles: o Lago Escondido e o Lago Fagnano, a 100 km de Ushuaia. Andamos por paisagens belíssimas, com vistas de tirar o fôlego. Ermo. O silencio e o vazio patagônico a me falar de um lugar para poucos.



Lago Escondido


Caminhada até o Lago Escondido, no momento mais frio da viagem. Descida íngreme por uma hora. A perceber o trabalho dos castores a construir um dique e destruir árvores que nunca mais vão se recuperar. 

Eita frio de verão!

O castor é exótico aqui, veio do Canadá há 75 anos e hoje - sem predadores - faz um belo estrago ambiental. Nosso guia nos disse que chegaram ao máximo da população (220 mil) e agora, a briga por territórios deve manter a população estável.

Destruição da vegetação por castores
O Lago Fagnano deve seu nome a um padre salesiano que xxx. Hoje o turismo se limita a chegada e olhada rápida enquanto o guia conta um enredo pré-preparado sobre a presença da Polícia Marítima, pois parte do Lago à oeste pertence ao Chile.


Lago Fagnano
Antes havia aqui um turismo familiar de férias, com varios bangalôs em madeira construídos em volta do lago. Hoje está tudo abandonado pois o lago foi contaminado com chumbo por alguma mineradora próxima.
Barco abandonado em Lago Fagnano

Foto de Nicolas Prompt

Cais abandonado no Lago Fagnano


Estou atenta a fotografar as flores nativas. Nicolas Prompt, o guia francês que vive há 12 anos em Ushuaia me deu o endereço de seu site de fotografias. Ainda não consegui abrir. Vamos tentar: www.nicolasprompt.com



10.9 - Patagonia. Comecamos a partir.

Primeiro de janeiro de 2015.
Depois de um ceia memorável no Kaupé ontem à noite, quando o vinho correu livre e as taças não ficaram vazias, acordei me arrastando para ir ao aeroporto. O corpo pedia cama e água. Não podia. Chegar duas horas num aeroporto onde um único avião vai decolar é estúpido, mas estávamos sob as regras de All Patagonia, a agencia que cuida da nossa viagem aqui. Nada a fazer.

Uma hora de voo e chegamos a El Calafate, uma cidade de 12 mil habitantes aos pés da cordilheira onde condições geológicas únicas criaram um parque de glaciares que viemos a conhecer.




Cidade plana em meio à estepe patagônica, onde ventos constantes, ausência de chuvas e baixas temperaturas a transformam num quase deserto, sem vegetação. Apenas alguns tufos de plantas cinza e amarelas crescem a 30 cm do solo.

Um erro da agencia nos deixa num luxuoso hotel no alto da montanha, donde se via todo o povoado e propriedade de Cristina Kirchner, a presidente. Era engano. Resolvidas as dúvidas, chegamos uma hora depois ao nosso hotel, o Patagonia Parque Hotel, bem no centro da cidade, com um quarto agradável de janelas para a rua, o que significa luz natural entrando o tempo todo.

A cidade tem uma rua onde tudo acontece: restaurantes, lojinhas e agencias de turismo. Duas ruas depois, chegamos à Laguna Nimes, donde se pode ver o Lago Argentino, o maior do país, me parece, com 60 km de comprimento.

Visitamos o Museu de História Natural, a nos falar dos dinossauros que viveram aqui na Patagônia. ¡Imagine que chegaram a encontrar um ninho deles, cheio de ovos! Havia também uma sala dedicada aos índios Anakaran, grandes tecelões e quase extintos (hoje só restam 100), outra à revolta de 1922 quando 1500 civis, que trabalhavam no manejo de ovelhas foram fuzilados na Estancia Santa Anita. O comercio internacional de lã de ovelha entrou em colapso com o fim da Primeira Guerra Mundial o que gerou a falência da economia local e pano de fundo desta revolta.

Voltamos para o hotel por outro caminho e encaramos um luxuoso club de golf. Coisas que nos surpreendem sempre que colocamos o pe fora de casa. No dia seguinte soubemos que tal club fica ao lado da casa da presidente da república. Dizem as fofocas que ela , natural de El Calafate, e dona de metade dos hotéis de luxo daqui. Pode ser...

Bem, o que me surpreendeu mesmo foram as rosas de El Calafate. Imensas, floridas, muitas cores, sempre em grande quantidade, criando o clima de verão em local frio. Muito especial.