domingo, 6 de agosto de 2023

26.1 - Na trilha de Raposo Tavares e o genocídio guarani

Domingo de inverno. 11 graus às 7 horas da manhã. Com o sol nascendo em meio à nevoa saí de casa para uma longa viagem de carro rumo às missões jesuíticas argentinas tentando compreender essa experiência indígena-jesuítica que aconteceu no centro da América Latina entre os séculos 17 e 18. 

Rodovia de acesso a Entre Rios


Sei pouco sobre o assunto e comecei a me interessar por ele quando pesquisava sobre a mineração nos altos do rio Paranapanema e me deparei com a chegada dos guaranis por aqui, numa área dominada pelos kaingangs, fugindo da investida das bandeiras paulistas ou simplesmente, dos paulistas como eram conhecidos os bandeirantes.

O objetivo é fazer esta viagem de cerca de 1100 km em três dias. No primeiro devo dormir em Guarapuava - PR, ou melhor, no distrito de Entre Rios onde existe uma comunidade com um nome curioso e que despertou em mim o desejo de conhecer: os suábios do Danúbio!!! Quem são eles?

No segundo dia devo chegar à fronteira entre Santa Catarina e Argentina, na província de Misiones e no terceiro, finalmente chegar à San Ignacio Mini, onde existem as mais bem preservadas ruínas das Missões Jesuíticas. Devo estender minha visita para outras três ruinas: Santa Maria de Loreto, Santana e de Los Mártires del Japón. Se estou em busca de nomes exóticos, encontrei mais um: Mártires de Japón, em plena Argentina.

É inverno de dia ensolarado e temperatura amena. Cruzo todo o estado do Paraná, de leste a oeste, onde o agronegócio se intensificou nos últimos anos. Paisagens de colinas em tons de verde, do trigo recém plantado crescendo e que me deixa dividida: isto é bom ou ruim? Preciso refletir mais.

E, envolvida em tantas reflexões, dirigi 490 km até Entre Rios. Cheguei ao meio da tarde. Descobri depois que o distrito abrange cinco colônias bem distintas e interligadas por plantações de trigos e estradas asfaltadas: Vitória (a maior e onde se concentra o setor comercial), Socorro, Cachoeira, Jordãozinho e Samambaia,
Minha pousada ficava na Colônia Cachoeira; mas eu ainda não sabia nada disso e nem sabia que eram cinco colonias bem distintas geograficamente. 

Como planejado, dia seguinte, depois do café da manhã com influência germanica onde bolos recheados substituíam o pão-de-queijo, voltei para a estrada. Aí começou a parte difícil: segunda-feira em estrada de pista única, com caminhões nos dois sentidos. Não andava. Continuava apreciando os imensos tapetes de trigo verde e - num dado momento, cruzei o rio Iguaçu. Imenso rio, que por correr por terras planos, se alarga aqui e ali, mais parecendo águas represadas.

Logo depois havia uma aldeia indígena. Claro, parei para conversar. Para minha surpresa, eram kaingangs. 15 famílias que vivem ali há 21 anos, depois de uma crise na aldeia de Mangueirinha (não tenho certeza se esse é o nome correto).

Daí a chuva chegou. Diminuí a velocidade e me arrastei atrás de algum caminhão. Cheguei em Dionísio Cerqueira ao meio da tarde, conforme planejado. reservas no hotel Iguassu. Quarto ruim, antigo, com uma colcha na cama um tanto velha, com aspecto de suja. Meio nojenta. Na mesa não havia tomada para o computador. Coisa de hotel velho. Mas tinha uma sacadinha, com vistas para um café simpático.

Precisei trocar o óleo do carro; me descuidei disso ao sair de Pinda; a recepcionista do hotel, me indicou uma oficina mecânica "de confiança"!!! Que fazer, senão confiar?

Então, atravessei a pé a fronteira; é uma fronteira seca, onde uma calçada separa o Brasil da Argentina. Com o real valendo 100 pesos, tudo é muito mais barato, desde artigos de higiene pessoal até vinhos e azeite. Planejei algumas compras para a volta,

Terceiro dia atravessei a fronteira e o primeiro perrengue foi colocar internet no celular. comprei um chip argentino, mas não conseguia habilitá-lo pois a empresa pedia o RG argentino. Informaram que seria possível habilitar com o número do passaporte, mas não consegui. É muito constrangedor pedir para um desconhecido fornecer esta informação. Me esqueci do Claudio ou da Rosario, amigos argentinos que vivem no Brasil.  Baixei a rota da viagem no multimidia do carro e parti sem internet mesmo.






 


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