sábado, 9 de outubro de 2021

24.6 - Ceará - Gastronomia Cearense

 O terroir define a gastronomia sempre. Como viajamos pela costa cearense, a presença do mar foi muito intensa. Peixes, caranguejos, lagostas, camarões, polvos e lulas foram uma constante no nosso cardápio. As iguarias eram servidas grelhadas ou num molho, onde o leite-de-coco in natura completava com elegância os pratos.

Vou tentar me lembrar dos pratos saboreados ao longo desses dias. Vou anotar em ordem cronológica: no primeiro dia, ainda em Fortaleza, experimentamos comida de quiosque à beira mar:

- macaxeira frita, isca de peixe, bolinha de peixe (conheci essa receita aqui; imagine uma bolinha de queijo só que com recheio trocado, uma pasta de peixe ao invés do queijo). Para quem planejava um jantar num restaurante estrelado de Fortaleza foi frustrante. Como o João estava muito cansado optamos por jantar no restaurante do hotel. Muito mais mata-fome que uma iguaria local.

O café da manhã em todo o nordeste tem algumas especificidades: a primeira é a tapioca. Servida com manteiga ou recheios variados, está ali, por toda a mesa. A segunda especificidade é o cuscuz. Feito com farinha de milho hidratada (pode ser em flocos ou milharina, ambas pré-cozidas) e cozidas em vapor de água salgada. Requer um cuscuzeiro e fica divina se - ao fim- acrescentamos leite-de-coco. Trouxe um cuscuzeiro do Piauí há alguns anos, mas me esqueço dele escondido no fundo do armário; de quando em quando tento fazer um cuscuz mas é sempre um desastre. Uma das cozinheiras do hotel me falou para untar com manteiga o recipiente antes de ir ao fogo. Tenho usado milharina, mas vou tentar usar a farinha flocada na próxima. Vou ver o que dá. O queijo coalho (iguaria tipicamente nordestina) também está presente no café da manhã mas retorna à mesa no almoço, misturado ao baião de dois. O queijo coalho é feito de leite de vaca que depois de coalhada vai ao fogo. Sua principal característica é a resistência ao calor, o que lhe permite ser assado ou grelhado. É um dos pratos preferidos.

O Baião-de-dois, um prato ligado à aridez do sertão é uma mistura de feijão fradinho com arroz, manteiga de garrafa, cebola, tomate, pimentão, cheiro-verde (coentro?) e queijo coalho. Meu contato com esse prato dessa vez me deixou frustrada. Ele é um dos acompanhamentos padrão dos peixes grelhados, juntamente com a farinha amarela e o vinagrete de tomate e pimentão. Mas nos restaurantes populares, o baião-de-dois foi simplificado e empobrecido; se tronou uma mistura insonsa de feijão (nem sempre fradinho) com arroz em uma proporção de 3:7. Vou descobrir uma receita decente e tentar preparar em casa. Só vai ser difícil encontrar a manteiga de garrafa.....

As peixadas ao molho de leite-de-coco in natura misturadas ou não ao camarão são os pratos fortes para oferta aos turistas. O litoral do Ceará é abundante em peixes (pescada-branca, pargo, robalo, cavala e serigado). Penso que experimentamos todos. Os mesmos peixes são oferecidos grelhados também e sempre são carnudos e saborosos.

Agora quero falar da lagosta, outra frustração. Como no livro "A Elegância do Ouriço" onde o crítico de gastronomia em seu leito de morte busca relembrar o sabor do melhor prato de sua vida eu tenho impresso em minha memória o sabor da melhor lagosta do mundo. Não sei de onde veio essa experiência, mas ela é concreta. Tive a fantasia que revivenciaria (eita verbo esquisito!) nessa viagem ao Ceará pois é esse estado o maior produtor e exportador de lagosta do Brasil. Mas não aconteceu. Primeiro experimentei uma lagoa grelhada na Lagoa da Tosta, em Jericoacoara. 

Lagoa grelhada na Lagoa das Tortas - Jeri

Não era isso que buscava. Depois experimentei uma moqueca da lagosta em Guajiru. Imaginei que fecharia com chave de ouro, mas, apesar do prato ser saboroso ainda não era o que buscava. Voltei frustrada! Melhor, voltei apavorada. As notícias sobre a pesa da lagosta são assustadoras. O Brasil é um grande exportador de lagosta (talvez seja o maior). em 2019 exportou 9 mil toneladas do crustáceo. gerando USD 43,5 milhões de receitas. Ante tão próspero mercado, a pesca está muito mais predatória, caçando lagostas cada vez menores. Se a lagosta não consegue viver sua vida adulta ela porá menos ovos e - a médio prazo - essa população tende a diminuir. Também li durante a viagem uma notícia sobre um acordo com uma empresa de pesca espanhola que virá para as costas cearenses equipada com alta tecnologia para a pesca do atum. Alta tecnologia significa pesca predatória, voraz e desequilibrada. Tudo certo para a quantidade de peixe disponível nos oceanos diminuir cada dia mais.

E agora, José?

Melhor tomar caipirinha de caju e morder a fruta fresca impregnada de aguardente.....

Caju in natura de outubro a dezembro.



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