quarta-feira, 4 de novembro de 2020

22.6 - Azeites da Mantiqueira



O Brasil despertou para a cultura da oliveira e a consequente produção de azeite na pequena cidade de Maria da Fé - MG no início dos anos 2.000.  Mudas de oliveira trazidas em 1935 por imigrantes portugueses para a Serra da Mantiqueira iniciou o primeiro ciclo da produção de azeite . Á época, foram implantados pomares em Maria da Fé, Paraisópolis, em Minas Gerais e Campos do Jordão e São Bento do Sapucaí, em São Paulo. As espécies mais comuns nesses pomares eram - portuguesas, por suposto -  a negroa e a galega. Esses pomares desaparecem na década de 70 principalmente pelo tabu de que a oliveira não se adaptava ao nosso clima, aliada à baixa tecnologia de cultivo e extração de azeite.

No inicio dos anos 2000 desenvolve-se um polo de pesquisas na Universidade Federal de Lavras relacionados ao cultivo da oliveira, que mais tarde migrou para a EPAMIG - Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais - hoje o centro de excelência para o tema. O ano de 2008 é emblemático pela primeira extração de azeite em Maria da Fé. 40 litros!!!!! Foi o suficiente para motivas os agricultores da região a investir na nova cultura.

Hoje são 160 produtores na Serra da Mantiqueira, disseminados em 30 municípios ( 20 em MG e 10 em SP) e organizados em torno da Associação dos Olivicultores dos Contrafortes da Mantiqueira (Assolive). A área cultivada abrange 3 mil hectares, mas apenas 20% estão em fase de produção, o que mostra a expansão muito recente da cultura. A oliveira começa a produzir azeite a partir do quarto ano de plantio. A produção em 2018 foi de  80.000 litros, mas devido a característica jovem dos pomares, a produção ainda é irregular.

Frutas da variedade catalã Arbequina em pomar em Airuoca - MG

As variedades que melhor se adaptaram aqui foram:
1. Maria da Fé: é a única espécie brasileira, desenvolvida pela EPAMIG a partir da espécie portuguesa galega. São frutos pequenos, mas a produção compensa pela carga grande de frutos em cada pé.

Espécie Maria da Fé


2 - Grappolo - de origem italiana (Toscana) adaptou-se bem na Serra da Mantiqueira e é muito frequente  aqui, diferente da Itália onde é um cultivar em desaparecimento.

3 - Arbequina - de origem catalã. Muito frequente e bem adaptada. Industrializada como varietal ou em blends, principalmente com a grappolo.

4- Koroneiki - de origem grega.  Cerca de metade do azeite produzido na Grécia vem dessa espécie, cuja  origem remonta a 3.000 AC no Peloponeso. É amplamente difundida na Mantiqueira seu azeite é aromático e complexo, com amargor intenso e picância forte.

5 - Coratina - de origem italiana, da Puglia.

6 - Frantoio - de origem italiana, da Toscana. Ainda é pouco representada na Mantiqueira. Poucos produtores a cultivam.

7 - Picual - de origem espanhola, da Andaluzia. Representa a metade da produção espanhola e um quinto da produção mundial. É extremamente produtiva, bem adaptada a variados tipos de solo e resiste bem a  geada.

8 - Ascolano:  de origem italiana (Toscana) é uma azeitona de mesa por seu pouco teor em óleo, mas é bastante usada em blends contribuindo para o equilíbrio final do produto.

9 - Arbosana: originária da Espanha. tem grande produção por arvore. É usada em blends com arbequina e koroneiki.

Em Aiuruoca - MG, há diversas pomares de oliveiras. Fomos conhecer a Serra dos Garcias, no bairro dos Garcias. Produção artesanal pequena a partir de três espécies: arbequina, koroneiki e arbosana. Blends ou varietal. Como a colheita acontece entre 15 de fevereiro a 15 de março e o azeite é produzido e engarrafado na hora, só encontramos para vender 3 garrafas de arbequina.

Em Alagoa há outro grande produtor com abertura para turistas. Prado e Vasquez, na fazenda Cauré. Não conseguimos visitar, mas anotamos na agenda: " voltar em primeiro de março".




Guia dos Azeites do Brasil



terça-feira, 3 de novembro de 2020

22.5 - Aiuruoca

Aiuruoca, no meio da Mantiqueira seria mais uma das pequenas cidades de Minas Gerais, cheias de cachoeiras, trilhas e pousadas charmosas. Mas ela é mais que isso. Com 6.000 habitantes, a quase mil metros de altitude, abraçada pelo Pico do Papagaio, donde lhe vem o nome em tupi: aîuru + oka, o
município busca saída pelo o ecoturismo, um pouco de misticismo e a produção de azeites.

Fui até o site do IBGE para conhecer melhor Aiuruoca. Varias surpresas: A primeira delas é que o município está com sua população estagnada. do Censo de 2010 e o do (estimado) para 2020, a cidade diminui de 6162  para 5.976 habitantes, isto é quase 200 pessoas. Mais, quando olhamos a pirâmide populacional, a faixa de idade menor de 4 anos é a menor dentre crianças e jovens e só equiparável aos maiores de 64 anos. Aiuruoca parou de crescer!!!!!! A população com emprego fixo é de 12,4%, ou seja 750 pessoas e 35,2% tem renda menor que meio salário mínimo. Marque bem: meio salário-mínimo.
A educação básica é boa, a taxa de escolarização no primeiro ciclo é de 96 % , com o IDEB (Índice de Educação Básica) de 6,5 (num total de 0 a 10), mas o gap acontece ao fim do ensino fundamental. 2/3 dos jovens param por aí, não seguem para o ensino médio.
É preciso ficar mais que 3 dias na cidade para entender realmente sua alma. Porque os jovens não acreditam na escola? Não ficamos, mas dá para arriscar a resposta: toda a oferta de trabalho existente se apoia em atividades de baixa escolaridade.

Para o turista como nós há dois polos a serem explorados: o Vale dos Garcias e o Vale do Matutu, com o núcleo urbano no meio. Nos hospedamos na entrada do Vale dos Garcias, na Pousada Alkimia, de decoração duvidosa e poluída dando a impressão que ao se juntar um monte de coisas, elas - por alquimia - se transformam em decoração. Além do mais, a pousada não ficava perto de lugar nenhum, impedindo um mergulho mais profundo na natureza.

O Vale dos Garcias tem identidade própria: é uma das entradas para o Parque Estadual da Serra do Papagaio, a Cachoeira dos Garcias, uma acessível e alta queda d'água está pertinho, um restaurante charmoso, o Casal Garcia, as fazendas de oleicultura (Olibi e Serra dos Garcias), está tudo ali, o que nos permite um dia cheio entre banhos de cachoeira, visita aos olivais, um almoço imperdível. Agora, se você levantar cedinho cabe também uma trilha pelo Parque.

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Pico do Papagaio



Restaurante Casal Garcia - Marina e Edna

Cachoeira dos Garcias

O BAIRRO DO MATUTU é outro polo de turismo emblemático, pois além de suas pousadas e cachoeiras, a existência de uma comunidade bem organizada em torno de um projeto mais natural de vida associado ao ritual do consumo de Ahyuasca (uma substancia psicoativa).



segunda-feira, 2 de novembro de 2020